Perante uma assembleia de 76 pessoas, oriundas de vários pontos do Algarve, o orador, que abordou a temática “Antropologia cristã e consequências de ética social”, constatou que “a vida da Igreja e a própria Santíssima Trindade [Pai, Filho e Espírito Santo, ndr] é uma cultura da gratuidade”. “O nosso Deus é uma comunhão de pessoas [Santíssima Trindade, ndr] no dom de si mesmas umas às outras”, concretizou.
Neste sentido, constatou que o modelo trinitário é um “grande caminho” e uma “fonte inesgotável de inspiração para a vida da Igreja”. “A Igreja, que sai da trindade, tem um caminho a fazer: realizar no mundo e na história o rosto de Deus, que é um rosto de família”, disse, acrescentando que “a expressão trinitária da nossa fé e de um Deus-comunhão poderá ter a consequência prática de lutarmos nos nossos espaços eclesiais de ação contra a solidão”. Neste contexto apelou a uma “ética da humanidade”.
Lembrando que “o cumprimento da vida está na dádiva de nós próprios” aos outros. “Dar de si, ajudando a fazer com que a outra pessoa se dignifique mais”, complementou.
Constatando que a “motivação, raiz e fonte de inspiração” da vida cristã é Cristo, lembrou que, “pela sua encarnação, Jesus uniu-se a cada homem em particular”. “O que fazemos a cada irmão, fazemos ao próprio Cristo. Não há maior humanismo do que este”, observou, alertando que a “dignidade humana é o fundamento da dignidade cristã”. “Precisamos de realizar na vida o que já somos: filhos de Deus, irmãos em Cristo”, exortou, acrescentando que “em Cristo somos mais humanos, irmãos e éticos e podemos ser mais voluntários e desenvolvidos”.
O orador evidenciou ainda que “o Cristianismo pode ser um caminho de inspiração política” que leve a “organizar a vida social dos povos num equilíbrio entre unidade e diferença”, “unidade do Estado, Governo e democracias” e “respeito pelas diferenças” na “pluralidade de famílias, etnias e culturas”. “Estamos num momento de refazer novos modelos de convivência. Precisamos de inventar novos modelos organizacionais políticos de inclusão”, defendeu, desejando que as sociedades consigam “defender a sua identidade e ao mesmo tempo incluir os estrangeiros”. “A fé trinitária apresenta-nos uma inspiração válida de equilíbrio permanente entre unidade e a diferença”, acrescentou, advertindo que “onde não há unidade há caos e onde não há diferença há totalitarismo”.
O sacerdote destacou ainda a pessoa humana como “o maior capital de uma empresa, de uma nação e da Igreja”. “O homem é o protagonista, o centro e o fim de toda a vida economico-social”, disse, advertindo que um “desenvolvimento que promova apenas a riqueza e a finança não é integral, de forma a promover todos os homens e o homem todo”.
O orador destacou ainda a “solidariedade” como a “aventura e o agir cristão” que traduz, por “ondas de propagação, o respeito e a dignificação de cada pessoa”, como “irmão de Cristo e filho de Deus”. O padre António Martins evidenciou que o “protagonista da ação age em nome da compaixão” e “não faz distinção de seres humanos”. “Todos somos guardas uns dos outros, não polícias”, advertiu, aludindo à “ética da compaixão, do cuidado, da atenção ao concreto”.
A terminar, evidenciou o “humanismo da inclusão” proposto pela Igreja. “A proposta da Doutrina Social da Igreja é um humanismo integral que respeite e que tenha em conta cada homem”, referiu.
Samuel Mendonça