
Porque os mais pobres também têm o direito de escolher as roupas, sapatos e acessórios que vestem, calçam e usam, a comunidade de São Paulo da paróquia de São Pedro de Faro promoveu no passado sábado uma “Feira Solidária”.

Aquela comunidade da zona do Patacão apoia cerca de 37 famílias carenciadas, num total de 89 pessoas, muitas delas desempregadas (sendo que nalguns casos estão nessa situação marido e mulher), outras incapacitadas de trabalhar por invalidez e outras ainda idosas que recebem reformas muito baixas.

Sílvia Manhita, uma das responsáveis da comunidade católica, explica ao Folha do Domingo que ideia para a “Feira Solidária”, realizada junto ao convento carmelita que apoia a comunidade nas suas celebrações, surgiu através do Facebook, com a divulgação de uma iniciativa idêntica, realizada por um grupo de cidadãos que se juntaram para apoiar os sem-abrigo da sua cidade nos EUA. “Porque temos tendência a doar aquilo que nós gostamos e aquilo que nós usaríamos, estávamos, provavelmente, a doar muitas coisas que não eram do gosto das próprias pessoas que as iriam usar”, explicou, justificando o que levou a querer imitar a iniciativa americana.

No sábado, cada elemento das famílias apoiadas trouxe o cartão que lhe foi entregue na última visita ao domicílio e que dava direito a escolher oito peças expostas, exceto os brinquedos que podiam levar sem limitação. Para além destes e de roupa, calçado e assessórios de homem, senhora e criança que puderam até experimentar nos provadores improvisados para o efeito, a “feira” incluiu também material didático, material escolar, lençóis, cobertores e louça, quase tudo em segunda mão e doado pelas famílias das crianças e jovens que frequentam a catequese daquela comunidade. “Fizemos uma vez o apelo e isso bastou”, conta Sílvia Manhita, lembrando que já este ano a comunidade de São Paulo fez chegar “quatro carrinhas cheias de roupa” aos Bombeiros Sapadores de Faro, material que foi enviado para Cabo Verde, para a população afetada com a erupção do vulcão da Ilha do Fogo.

Aquela responsável refere ainda haver lojas que contribuem com a doação de vestuário e sapatos novos.

A voluntária garantia no sábado que esta primeira edição da “Feira Solidária” estava a “superar as expectativas”. “Inicialmente, interrogámo-nos se a iniciativa iria ser bem aceite porque há sempre a questão da vergonha. Tivemos três ou quatro famílias que não quiseram vir e que continuarão a ser assistidas no domicílio”, testemunha, acrescentando que a boa aceitação por parte da maioria levará a que se repita a iniciativa no início da próxima estação Primavera/Verão. “Estamos também a pensar pedir autorização à autarquia para fazer o mesmo na cidade de Faro para os sem-abrigo porque que há muitos grupos de ação social que têm roupa”, acrescenta Sílvia Manhita.




