O período histórico religioso da “Pequena Paz” entre 260 e 303, inaugurado exactamente no tempo do imperador Galiano (r.c. 260-268), fase emanada por decreto de tolerância a partir da Sárdica (Sófia), teve o ensejo de propagar-se pelo interior provincial romano numa acção proeminente e, ainda até hoje indetectável. E essa actividade simultânea e paralela entre “campo e cidade”, está muito ligada a outras importantes funções organizativas, militares, religiosas, terapêuticas, pedagógicas, sociais e económicas das Eclésias nascentes, que tiveram uma relevância extraordinária ao longo dos cerca de 40 anos da sua vigência (“Pequena Paz”) e, sobretudo, ao longo do reinado do imperador Diocleciano (284-305). Desde 284 e início da governação de Diocleciano, até 303 (“Ultimas grandes perseguições”) são cerca de 20 anos de prolongamento dessa importante época religiosa pacífica, e de implantação do cristianismo. O espólio escultural (busto de Galiano) achado em Milreu mas, seguido dos vestígios de muitos “lateris” (tijolos) com a marca ou selo do tempo de Diocleciano, aduzem a duas fases construtivas : da “Domus” e, logo depois, da “Ecclesia” protocristã (Templete).
Foi precisamente com Diocleciano a Oriente mas, também, com o outro “César” no Ocidente, Constâncio Cloro (293-306) e pai de Constantino, que se descobre essa imensa actividade edificante. E está monumentalmente sediada aqui ao lado, na Hispânia (“Baetica”), em Córdova (“Corduba”, Palácio de “Cercadilla”) capital da “Diocesis Hispaniarum”, precisamente na última década do século III. As aproximações geográficas e construtivas com a província contígua da Bética são impressionantes, as ligações viárias estabelecem também elos importantes, e que se fundamentam na malha de inúmeros achados arqueológicos. A relevante actividade arquitectural destes príncipes, foi também excepcional neste marcante período da Tetrarquia imperial (“Pequena Paz”), em particular com a erecção de Eclésias no Alentejo – Algarve, e mais atrás registadas neste estudo mas, paralelamente, de proeminentes e vetustas Basílicas.
A ainda “desaparecida” Basílica (“Grande Igreja”) de Castro Marim (“Baesuris”) “não longe de Mértola, próximo da beira-mar”, teve no mínimo, registo testemunhal pelos vestígios de “velhas ruínas” e, baseado num geógrafo islâmico (“Marça Hacine”), atestando-a através da epigrafia, “construída no reinado de César Diocleciano”. “É ao reinado deste imperador que remonta igualmente a Igreja de Toledo” (6) já no limite territorial com a antiga província “Tarraconensis”. Assim afirmaria também nos séculos XI-XII e, com convicção “Almumine Alhimiari”, outro historiador e geógrafo árabe, dissertando com sapiência acerca do “34º dos Césares” (Diocleciano).
Da época romana, e da fase da “Pequena Paz” no fim do século III, comprova-se a existência de dois importantes Bispos, e que se confrontaram no bom sentido: “Vicentius” e “Osius”. Conheceram-se no tal Concílio de Elvira (Granada) do tempo de Diocleciano e já referido neste ensaio, o primeiro Bispo é o representante da capital portuária de “Ossonoba”, e o segundo presidiria a este importante Sinédrio em representação da “Diocesis” metropolitana de “Corduba”. Ambos fariam parte da “primeira?” assembleia hispânica de que há testemunho, e junto aos 43 nomes de Bispos, Presbíteros e Diáconos, para além dos muitos outros fiéis, e de outras tantas paróquias e dioceses, insertos no registo canónico escrito e que é bem fidedigno. Nele se atesta a existência de “Prima Cathedra” e, certificando a subsistência de muitas paróquias e, sobretudo, das primeiras “Diocesis”. No entanto, em face das inúmeras presenças de personalidades eclesiais espalhadas por todo o território da antiga “Hispaniae”, outras reuniões conciliares teriam certamente pré-existido e, muito anteriores ao Sínodo de “Eliberi” (Elvira) e às “últimas perseguições” (303-305). (continua)
arquitecto e ensaísta
6) "Portugal na Espanha Árabe", V. I, p.57.
O autor deste artigo não o escreveu ao abrigo do novo Acordo Ortográfico