Apesar de não existir a rivalidade que opõe Faro e Olhão, no que respeita aos respetivos clubes de futebol e não só, a ideia parece não ser brilhante para os munícipes e dirigentes de associações locais com quem a Lusa falou.
“Se a ideia é evitar o desperdício de dinheiro mais vale acabar com as parcerias público privadas e com a enorme quantidade de institutos que há no país”, defende Bruno Lage, presidente da associação Faro 1540.
Segundo o engenheiro do ambiente, a fusão entre os dois municípios poderia criar mais desemprego e “afogar ainda mais a economia local”, sobretudo em São Brás que, por ser mais pequeno, seria mais fustigado.
A desanexação de São Brás – hoje com mais de 10 mil habitantes e que antes era a freguesia rural mais populosa de Faro -, acontece em 1914 com o desenvolvimento da indústria da cortiça, tornando-o no último concelho algarvio.
Para Gonçalo Gomes, da associação Al-Portel, a fusão "puramente administrativa" não faria sentido, apenas se a junção decorresse num cenário de partilha de políticas de gestão entre os dois concelhos.
“Poderia ser vantajoso numa perspetiva de gestão partilhada de, por exemplo, equipamentos culturais e outros meios das autarquias”, refere o arquiteto paisagista, frisando a importância de salvaguardar postos.
Élio Vicente trocou recentemente a capital algarvia pela vila e jura que ganhou anos de vida mas receia que uma possível fusão comprometesse a autonomia de São Brás, que, refere, tem conseguido proteger-se da massificação.
“Se a questão fosse a referendo votava contra”, resume o biólogo marinho, que diz que se a vila deixasse de ter um centro de decisão – caso a Câmara de Faro a aglutinasse -, São Brás poderia passar a ser apenas uma periferia da cidade.
A movimentação de residentes entre ambos os concelhos – São Brás situa-se a norte de Faro -, tem vindo a aumentar e tanto existem aqueles que, como Élio, deixam a cidade em procura de paz, como os que largam a vila em busca de emprego.
É o caso de Rute Gago, licenciada em Animação Sócio Cultural e que, apesar de achar que São Brás poderia tirar algum partido de estar ligado a uma cidade, receia que essa centralização prejudique quem vive na vila.
“Voltar a ser uma freguesia significaria um retrocesso no desenvolvimento de São Brás”, considera, argumentando que, se hoje a vila já é uma espécie de dormitório da capital algarvia, uma eventual fusão poderia acentuar esse registo.