O padre Flávio Martins, que orientou uma reflexão sobre o tema “Matrimónio, sacramento do caminho”, defendeu a necessidade de que o matrimónio seja “vivido em processo”, com “passos sucessivos que devem acompanhar todos os eventos que se produzem no casal e em família”. Por outro lado, considerou necessária a criação de uma “etapa juvenil, excessivamente longa, de prova de noivados, de turbulências afetivas que só tardiamente se solidificam em opções de estabilidade”, finalizada com uma “espécie de celebração sacramental do matrimónio” que preceda a celebração solene do sacramento para que o critério para a celebração do mesmo seja a “maturidade na fé e na vida”. Por último, propôs, nas comunidades paroquiais, um “serviço de atendimento” a casais por outros que os possam ajudar, não ao nível de “meros conselhos espirituais” mas como “agentes da esperança e do Evangelho”, uma “apostolado do casal para a formação dos noivos, ajuda aos casais novos e amparo aos casais em dificuldade”.

Na iniciativa, que teve lugar na Escola Secundária Dr. Jorge Correia, o sacerdote algarvio considerou que, “nunca como hoje, o matrimónio cristão, como identidade e presença, foi colocado em causa”. “Muitos jovens, atualmente, decidem não dar este passo. Até os jovens cristãos”, observou, acrescentando que “muitos casais cristãos, hoje, têm medo de ser diferentes”. “Os valores são terrenos, tantas vezes assumidos e vividos como prioritários. Se os casais cristãos não viverem contracorrente, quem vai viver?”, questionou, lembrando que “estamos em tensão permanente numa sociedade erótica e materialista”. “É necessário, senão urgente, uma reeducação para diferentes níveis de valores, desde o social até ao afetivo e sexual”, complementou.

O orador apontou várias diretrizes que devem orientar a vida de um casal cristão. O padre Flávio Martins desafiou os cerca de 30 casais presentes a “amar na mesma dimensão do amor de Cristo à sua Igreja”, lembrando-lhes que “devem olhar para a realidade sacramental do matrimónio como algo para a vida e não meramente para o momento celebrativo”. “O matrimónio é indissolúvel e não tem data de validade. É vitalício e sê-lo-á na medida em que se alimenta do amor divino”, complementou.

O padre Flávio Martins lembrou que “os esposos cristãos são diferentes dos outros”. “Não é uma questão de ser melhor ou maior. A sua diferença está na marca original que é Jesus Cristo”, justificou, considerando não se dever assumir uma “postura de superioridade” e lembrando os esposos cristãos como um “dom recíproco” e não como “mera fusão” de dois seres.

Por outro lado, o sacerdote enumerou três aspetos da vida matrimonial, sem os quais “a harmonia do matrimónio fica comprometida”: o “pessoal”, o “colocar em comum o que fazemos, dizemos e vivemos” e o “trabalhar em comum em prol da santidade do casal”, uma vez que “o amor humano é um caminho de santidade”. Neste sentido, considerou que esse caminho passa por “procurar unir o coração à vontade do Pai pela escuta da palavra e transmitir aos filhos essa mesma intimidade com Deus e a sua ação na vida, mostrando-lhes que vale a pena mesmo com as dificuldades” que vão surgindo. “Deus não é inimigo das realidades humanas e a Igreja não desconhece os valores quotidianos vividos por milhões de casais”, destacou, frisando que “como qualquer casal hodierno, também os casais cristãos sofrem as mesmas dificuldades e provações”, pese embora contem com a “graça sacramental”. “O grande desafio – disse – é deixarmos que Cristo ame o outro em nós”.

O sacerdote defendeu ainda que as famílias cristãs sejam “testemunhas da vida e da fé” e que os filhos “não são um plano ou um projeto do casal”, mas um “dom de Deus”. Quantos esperam uma vida cómoda para pensar num filho? Quantos colocam interesses económicos, comodistas, de bem-estar acima deste dom precioso e belo que são os filhos? Não será por falta de coragem aos cristãos casados que nos tornámos mais egoístas e individualistas? Não será por isso que existem hoje menos vocações na Igreja? Não será por isso que existe menos disponibilidade da nossa parte? Também aqui é preciso confiar na providência divina”, disse, lembrando que “os filhos são o ponto alto e a coroa do matrimónio”.

A terminar apelou à urgência de transmitir uma fé “adulta e madura” aos filhos, lembrando que “a Igreja chamou à família, a Igreja doméstica, essas pequenas ilhas de vida cristã” e que “os pais são, pela palavra e pelo exemplo, os primeiros arautos da fé pelos seus filhos”. “Quantas vezes referimos aos nossos filhos o porquê da nossa fé?”, interpelou, acrescentando que “é preciso cuidado para que a presença dos casais na vida na Igreja não seja exagerada porque muitas vezes empenham-se demasiado na Igreja e esquecem-se da sua vida familiar”. “Os filhos são esquecidos e mais tarde também eles se vão esquecer. Por isso, muitos de vós, passais pela experiência de ver os vossos filhos fora da Igreja”, concluiu.

O movimento das ENS conta, no Algarve, com 21 equipas, 9 em Tavira, 8 em Faro, 1 em Santa Bárbara de Nexe, 1 em Lagos, 1 em Portimão e 1 em Alcoutim (em formação) e procura agora expandir-se para o interior.

A tarde, que contou também com a presença do padre António da Rocha, assistente do movimento na região, e do casal responsável, Francisco Frederico e Ilda Vieira, teve continuidade com um lanche-convívio e com a celebração da Eucaristia na capela do Hotel Vila Galé Albacora daquela cidade.

Samuel Mendonça