Foto © Samuel Mendonça
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Depois de uma primeira experiência de mais de 10 anos que não chegou a atingir o resultado desejado para a informatização das suas paróquias, a Diocese do Algarve disponibilizou, a partir do primeiro dia deste ano, uma nova plataforma digital para a gestão paroquial e diocesana.

O novo sistema permitirá às paróquias fazer registos de batismos, matrimónios ou óbitos assinados eletronicamente com código de barras e trocar essa documentação com a Cúria diocesana no contexto do despacho de processos, assim como a gestão da sua contabilidade e tesouraria com a consequente emissão de recibos ou a apresentação de mapas financeiros. A gestão da catequese ou o inventário do património paroquial são outras das funcionalidades da aplicação.

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O bispo do Algarve já disse que a informatização é mesmo para avançar em todas as paróquias. “Isto não pode ser facultativo para as paróquias. Não são os párocos ou os leigos de cada paróquia que decidem se devem informatizar ou não a sua paróquia. Tem de ser obrigatório. Mais tarde, a diocese e quem vier depois arrepender-se-á, se nós agora, nesta geração, não apanharmos este «comboio»”, afirmou D. Manuel Quintas na formação que teve lugar no Centro Paroquial de Santa Bárbara de Nexe no passado dia 21 do mês passado com os párocos e leigos responsáveis pela informatização de cada paróquia.

Em 2004, a Diocese do Algarve encabeçou um projeto – RIDISC – Rede Informática para Dioceses e Instituições Sócio-Culturais – com mais quatro dioceses (Beja, Évora, Portalegre-Castelo Branco e Santarém) no âmbito de uma candidatura a fundos comunitários através do POSI – Programa Operacional da Sociedade de Informação, apoiada pelo extinto Algarve Digital. Posteriormente, a Diocese de Portalegre-Castelo Branco deixaria o grupo, entrando a de Setúbal e mais tarde as de Santarém, Viseu e Angra do Heroísmo.

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Por vicissitudes diversas, ao longo dos últimos anos, o RIDISC veio a perder alento, até ser extinto no final do ano. Em declarações ao jornal Folha do Domingo, o padre Miguel Neto, responsável pela informatização da diocese algarvia, explicou que “no último ano e meio, os responsáveis de cada diocese constataram que tinha muito pouca utilização”. “O sistema era complexo de se trabalhar e a usabilidade era muito baixa porque tinha muitas barreiras de segurança. Para além disso, estava escrito numa linguagem de programação antiga, só podia ser aberto através do browser Internet Explorer que neste momento já não existe e o sistema, incompatível com tablets ou smartphones, nem sequer funciona no Windows 10”, afirmou, acrescentando que “reescrever o programa seria muito mais dispendioso do que adotar uma das duas plataformas no mercado” que visam a informatização de dioceses.

A escolha recaiu então sobre uma empresa sedeada em Paços de Ferreira, responsável atualmente por 1550 paróquias das dioceses de Aveiro, Braga, Bragança-Miranda, Coimbra, Leiria-Fátima, Lisboa, Porto, Viana do Castelo e Vila Real, que construiu uma plataforma digital a partir de um projeto iniciado no ano 2000 pela iniciativa da Diocese do Porto com 40 das suas paróquias. A aplicação, desenvolvida para as paróquias-piloto, foi alargada no final do ano de teste às 477 paróquias da diocese portuense e, em 2004, às paróquias do Patriarcado de Lisboa. Ao longo dos anos, a aplicação que foi sendo adotada pelas restantes dioceses deu origem à versão atual que irá agora também ser utilizada pelo Algarve.

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O projeto, que até 2009 funcionou offline, passou em 2010 a online. “Achámos que era mais interessante, primeiro pela possibilidade de ter vários utilizadores remotamente a ajudar a paróquia, e depois pela questão da segurança dos dados. Um número considerável de paróquias perdeu, infelizmente, a informação que tinha registada localmente nas suas máquinas porque não se precaveram em relação a cópias de segurança. A nossa preocupação de ter uma base de dados centralizada com backups efetuados por nós era grande, daí avançarmos com a versão online”, explicou ao Folha do Domingo o engenheiro Sérgio Cunha, sócio-gerente da empresa responsável.

Aquele informático explica que a plataforma, acessível a partir do portal www.aparoquia.com, “não está presa a nenhum browser específico”. “Isso vai permitir que as paróquias trabalhem com o sistema operativo que quiserem e com o browser que quiserem a partir de qualquer dispositivo móvel”, destaca.

Plataforma_a_paroquiaNo caso do Algarve, Sérgio Cunha diz que foi possível aproveitar quase a totalidade da informação inserida no RIDISC, facto que o padre Miguel Neto destaca como positivo. O sacerdote adianta que o servidor onde estão alojados os sites e as caixas de email das dioceses que pertenciam ao RIDISC está ainda sob a responsabilidade e gestão da Diocese do Algarve, mas que futuramente irá passar “para esta ou para outra empresa”.

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Embora reconheça que seria um objetivo conseguir para o projeto todas as dioceses participantes do RIDISC, Sérgio Cunha considera que a informatização das dioceses portuguesas deveria ser assumida pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP). “Era uma mais-valia que a CEP tomasse ela própria o poder sobre esta informatização para todas as dioceses do país para que a informação pudesse correr, eletronicamente, sem termos de andar com papéis entre dioceses. Com a informatização a acontecer localmente, diocese a diocese, continua a não haver compatibilidade na comunicação entre dioceses com sistemas diferentes”, justifica.

A aplicação, que agrega um sistema de gestão paroquial e um sistema de gestão diocesana, sendo gratuito para as cúrias diocesanas, tem um custo apenas para as paróquias que poderá depender do volume de informatização de cada diocese.

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Para além do dia 21 do mês passado, a mesma formação sobre a nova aplicação realizou-se também no dia 19 de dezembro para os párocos e leigos responsáveis das paróquias do barlavento algarvio e, no 22 de dezembro, para os colaboradores da Cúria diocesana.