A vaticanista da Rádio Renascença, que apresentou uma conferência sobre o Papa alemão na Sé de Silves, aludiu a esse aspeto, relacionando-o com o “sentido misterioso da vocação de Pedro”, apóstolo, cujo sucessor é, na Igreja, o Papa.

A jornalista sustentou a sua tese nos discursos pontifícios à chegada, no aeroporto, e depois, em Fátima. Aura Miguel considerou que Bento XVI fez um “discurso fascinante” sobre a identidade portuguesa e a “profunda ligação” de Portugal ao Papa e a Nossa Senhora. A conferencista lembrou que Bento XVI disse que “o céu se abriu sobre Portugal como uma janela de esperança que Deus abre quando o homem lhe fecha a porta”, evidenciando a “preferência de Deus por Portugal”.

A vaticanista prosseguiu, destacando que o Papa “achou por bem contrariar o argumento” de que, após a revelação do Terceiro Segredo, “Fátima já não tem interesse, nem nada de novo”. Aura Miguel disse que Bento XVI “rejeitou que a missão profética de Fátima esteja concluída” e deixou claro que o “triunfo do Imaculado Coração de Maria ainda não se cumpriu”. “O Papa espera que, nos 100 anos das aparições, se cumpra, mas precisa da nossa ajuda e total disponibilidade para dizermos sim, como os pastorinhos”, afirmou.

Aura Miguel disse que não seria previsível que Bento XVI falasse de si em Portugal. No entanto, o Papa fê-lo e a jornalista aludiu aos seus discursos quando referiu a sua motivação pessoal para vir a Fátima. “Vim porque amo”, citou Aura Miguel, relacionando a afirmação proferida no santuário português com a pergunta de Jesus a Pedro – “Tu amas-me?” – e, consequentemente, com o ministério do sucessor do apóstolo.

Por outro lado, a conferencista explicou que “Bento XVI veio dizer que o Papa não desfalece devido à oração que brota de Fátima”, recordando que o pontífice recuperou o discurso de João Paulo II aos cardeais, durante o jubileu da Cúria Romana, quando lhes lembrou que “o chamamento de Pedro não obedecia a critérios meramente humanos”.

Aura Miguel destacou ainda a “total disponibilidade de amor” de Joseph Ratzinger, “ao ponto de, sabendo o que o esperava, com 78 anos, ter aceitado ser Papa”, quando “o que mais desejava era ir para a Baviera estudar Teologia”, tendo mesmo pedido a resignação por diversas vezes ao então Papa João Paulo II. “Bento XVI sabia que ia haver «lobos»”, disse a jornalista, contando que Ratzinger, durante o Conclave, “quando começou a ver os votos recaírem no seu nome, começou a rezar a Deus para que não fosse eleito porque havia outros, mais novos e com mais energia”.

A conferência da jornalista inseriu-se no ciclo cultural, intitulado “Memórias Escondidas”, iniciativa realizada no âmbito do programa “Rota das Catedrais” e foi precedida pela atuação de quatro solistas da Sociedade Filarmónica Silvense.

Samuel Mendonça