Na conferência, proferida pelo provincial da OCD, padre Joaquim Teixeira, e pela irmã Carmelita Missionária Carmen Diez, sublinhou-se que o padre Palau y Quer, não obstante ter alinhado pela ideologia mais conservadora que se seguiu à Revolução Francesa (1799), foi um homem da cultura, aberto à promoção social, um missionário de ação apostólica e de grande visão pastoral.
“Viveu 61 anos de procura da verdade e de luta pela dignidade de si próprio como homem, cristão, sacerdote e carmelita”, começou por referir o padre Joaquim Teixeira acerca do sacerdote espanhol que viveu entre 1811 e 1872, advertindo ser necessário conhecer as “coordenadas históricas políticas, sociais e eclesiais” da altura para não deturpar a sua “obra e pensamento”.
O conferencista caracterizou o beato Francisco Palau como “interventivo e radical” e “homem de verticalidade” que “cresceu numa sociedade marcada pelo antigo regime aristocrata, clerical, sacralizado e absolutista”, muito contestado na época. “Deste mundo em crise vão gerar-se duas visões da vida que vão entrar em confronto: uma conservadora, personificada pelo carlismo, avesso à ideologia liberal, empenhado em restaurar a aliança entre trono e o altar, entre Igreja e Estado; outra liberalista, herdeira dos ideais da Revolução Francesa, defensora de uma monarquia democrática com menos peso do clero”, frisou o padre Joaquim Teixeira, reconhecendo que o padre Palau y Quer, “como a maioria dos cristãos”, alinhava pela primeira tendência “federalista, clerical e mais absolutista”.
No entanto, o provincial da OCD destacou que o padre Palau y Quer “teve alguns rasgos de modernidade e de conotação com a segunda tendência”. “Foi pioneiro no jornalismo, o que mostra um homem aberto à dimensão da cultura e à divulgação de diferentes opiniões”, explicou o conferencista, conotando o padre Francisco Palau como um “homem aberto à oralidade” e à “promoção social”.
O orador evidenciou ainda a sua determinação em “ser carmelita até à morte”, professando na OCD, numa época em que já havia uma “luta muito grande contra as ordens religiosas” que acabou por sentir na pele. “O padre Palau consegue fugir dos ataques e vai viver uma grande missão orante, silenciosa e contemplativa, e ter uma grande ação apostólica”, relatou, testemunhando a sua “boa formação intelectual, académica e teológica ao serviço da espiritualidade”. “Deixou à Igreja uma visão eclesiológica fundamental riquíssima”, concluiu, apontado este como o “grande contributo” do beato Palau y Quer para “enriquecer” a espiritualidade carmelita.
A irmã Carmen Diez, que deixou claro que o “amor à Igreja” é a fonte da “vida e missão” de Francisco Palau, explicou que o ano de 1860 é central na vida do sacerdote como “ano da sua descoberta do mistério da Igreja”. “Durante muitos anos ele tinha experimentado a Igreja como uma realidade histórica com uma dimensão transcendente, dando prioridade ao histórico em relação ao mistério. A partir de 1860, a descoberta da Igreja/mistério de comunhão vai determinar todo o seu ser e a sua obra, sobretudo o seu modo de evangelizar”, sustentou a carmelita missionária espanhola, que caracterizou o sacerdote como um “leitor crente da História” que “vê tudo pelo prisma da fé”.
A oradora acrescentou que, a partir do momento em que Francisco Palau “descobre a presença da amada (Igreja), clarifica-se também a sua missão”. “Identidade e missão fundem-se”, concretizou, destacando a sua “profunda visão pastoral” e a “viva paixão pelo homem do seu tempo”.
A carmelita missionária lembrou que o beato Palau y Quer, beatificado em abril de 1988 pelo Papa João Paulo II, apesar de “perseguido, encarcerado, criticado, temido e desterrado”, não se desviou do seu caminho. “O padre Palau evangeliza, sobretudo, pelo que é. A sua vida de solitário atrai e conquista sem necessidade de palavra”, afirmou, testemunhando, a título de exemplo, o seu trabalho com marginais e abandonados.