A ideia foi claramente sustentada pelo padre Flávio Martins, segundo orador do dia sobre o tema “O Catecumenado – Processo de Iniciação e de re-iniciação cristã”. “Está muito aquém a iniciação de muitos dos nossos batizados, por isso a urgência está em implementar uma verdadeira catequese iniciática e catecumenal para levar ao conhecimento de Jesus Cristo”, defendeu, constatando que “as dificuldades de transmissão da fé permanecem porque a preocupação de todos são as etapas e as celebrações e não o conhecimento de Jesus Cristo”. O sacerdote acrescentou ainda que “o problema da falta de fecundidade da evangelização de hoje é eclesiológico porque diz respeito à capacidade que a Igreja tem de se configurar (ou não) como uma comunidade real, uma verdadeira fraternidade e como um corpo. E não como uma máquina ou empresa”.

Também o cónego José Pedro Martins, último conferencista de ontem sobre o tema “Os Sacramentos da Iniciação cristã”, referiu-se àquele processo como um “projeto evangelizador inadiável”.

No mesmo sentido foi o padre Carlos de Aquino, o primeiro conferencista da manhã. O sacerdote, que interveio sobre o tema “O Ritual da Iniciação cristã dos Adultos”, alertou que os sacramentos devem transformar os cristãos em “criaturas novas”. “Não estamos a fazer filhos. A Igreja está a viver mal a sua maternidade”, criticou, lembrando o pensamento de um autor do século I: “o homem torna-se cristão, não nasce cristão”.

Carlos de Aquino constatou assim que “há má formação na fé”, que “os cristãos têm pouca maturidade” e que “falta muito humanismo à Igreja” e “alguma unidade e comunhão na prática” dos sacramentos da iniciação cristã: batismo, confirmação e eucaristia. O sacerdote criticou mesmo padres e cristãos que acham que não é preciso “caminho nenhum” para a sua administração, uma ideia corroborada pelo cónego José Pedro Martins que reprovou o facilitismo dos que fazem “uma pastoral de agradar” para que as pessoas não «fujam», quando “elas já «fugiram» há tanto tempo”.

Neste sentido, explicou-se que a administração dos sacramentos da iniciação cristã é precedida pelo itinerário catequético, que “pode ser feito rápida ou lentamente” porque “o objetivo não é receber os sacramentos mas caminhar”, constituído pelas fases do pré-catecumenado, catecumenado (a mais longa e importante), purificação/iluminação e mistagogia.

O desafio ao testemunho e coerência de vida dos cristãos foi mesmo o denominador comum das três intervenções no encontro de ontem, onde se criticou a acomodação de cristãos “justapostos para cumprir o preceito”. “Pede-se aos leigos que deem testemunho como resposta válida aos problemas de hoje”, afirmou o padre Flávio Martins, apontando a necessidade daqueles “ultrapassarem a rutura entre a fé e a vida”. “É graças ao testemunho da comunidade que novos irmãos aderem à fé”, já antes lembrara o padre Carlos de Aquino.

Também o cónego José Pedro Martins apelou à “conversão dos estão «dentro» da Igreja apenas por tradição, dos que são praticantes apenas por motivação sociológica, por inércia”. “No passado apoiávamo-nos num cristianismo sociológico, hoje a fé tende a tornar-se uma decisão pessoal, assente na inteligência e no coração”, defendeu. Neste contexto, o padre Carlos de Aquino deixou uma advertência: “não somos os donos da vida de ninguém, nem daqueles que pedem a fé”. “A iniciativa para virem pedir a fé é de Deus”, afirmou, lembrando que “a fé nasce da escuta”.

O padre Flávio Martins também constatou existir hoje “uma nova sensibilidade” e sustentou que, não obstante as dificuldades identificadas, “a iniciação cristã ganhou novo impulso na vida das comunidades cristãs”. Neste sentido enumerou a restauração do catecumenado e da iniciação cristã e o próximo Sínodo dos Bispos sobre a ‘Nova Evangelização para a transmissão da fé cristã’ como “motivos de entusiasmo”, bem como o “regresso e procura dos textos patrísticos, a renovação litúrgica e a grande consciência e responsabilidade missionária da Igreja e dos seus membros” como “motivos positivos do novo vigor evangelizador”.

O sacerdote apontou mesmo o caminho a seguir em duas dimensões missionárias, considerando ser necessário empreender um “processo de redescoberta do batismo” e do evangelho de Jesus Cristo: “evangelizar os «de fora» e reevangelizar os «de dentro»”.

O dia de ontem terminou com uma celebração mistagógica que se deteve na explicação dos mistérios dos três sacramentos da iniciação cristã. Hoje, as jornadas tiveram continuidade com uma formação durante a manhã para cerca de 70 ministros extraordinários da comunhão e animadores de assembleias na ausência de presbítero que procurou refrescar a identidade e exercício daqueles ministérios. Centrados na encíclica ‘Ecclesia de Eucharistia’, do Papa João Paulo II, os participantes refletiram de modo particular sobre os fundamentos que a eucaristia lhes lança enquanto agentes da pastoral litúrgica.

Samuel Mendonça