Foto © Samuel Mendonça
Foto © Samuel Mendonça

Realizou-se no Algarve, de 29 de março a 1 de abril, o encontro dos seminaristas maiores das dioceses cabo-verdianas de Santiago e do Mindelo.

A iniciativa, que contou com a participação dos 26 seminaristas maiores de Cabo Verde, teve lugar no Seminário de Faro onde estudam três daqueles seminaristas no ano propedêutico (preparatório para o ingresso no Curso de Teologia, após a conclusão do 12º ano).

Estes encontros anuais – que tiveram início há quase 15 anos por vontade dos próprios seminaristas, tendo sido apoiados desde a primeira hora pelo cónego Carlos César Chantre, sacerdote da Diocese do Algarve, também ele cabo-verdiano – visam a partilha das experiências vividas nos cinco seminários maiores da Europa onde completam os estudos, após a frequência do Seminário Menor de Cabo Verde, na Diocese de Santigo.

Por não existir Seminário Maior em Cabo Verde, os seminaristas daquele país realizam a formação em Teologia nos seminários dos Olivais (Lisboa), de Caparide (Lisboa), de Évora, de Faro e de Piacenza (Itália), estando previsto o envio de dois seminaristas este ano também para Roma.

O reitor do Seminário de Cabo Verde, sempre presente nos encontros, explicou ao Folha do Domingo que os seminaristas precisavam de uma “ocasião de convivência, de espiritualidade e de formação teológica para partilharem a experiência do estudo nos seminários”. “Há necessidade de um encontro de confluência de energias e de avaliação no lugar onde estão”, explica o padre José Álvaro que começou a visitar os seminaristas em 2010, quando foi nomeado pela segunda vez reitor do Seminário de Cabo Verde. “Sinto que devo continuar a estar presente, seja para os apoiar, para conhecer a realidade em que vivem, os meandros da formação, os superiores e as casas onde estão”, acrescenta.

Aquele responsável entende ainda que estes encontros contribuem para formar desde já “o espírito de um presbitério que se quer unido, coeso e sintonizado com a Igreja e o processo evangelização de um país que desperta para a fé” de um modo que considera “excelente”.

Francisco Brito, seminarista da Diocese do Mindelo, diz que estas iniciativas servem ainda para partilhar as preocupações dos estudantes com as duas dioceses de Cabo Verde e considera que experiência de estudar fora do seu país é positiva. “Ficamos enriquecidos até pela cultura de cada cidade para futuramente, como presbíteros, para servirmos as duas dioceses. Ganhamos essa riqueza que levamos para as nossas comunidades”, sustenta, acrescentando que estes encontros servem ainda para partilhar as preocupações dos estudantes acerca das duas dioceses de Cabo Verde.

Esmeraldo Borges, seminarista da Diocese de Santiago, explica ainda que o reitor do Seminário vem apresentar nestes encontros, para além das propostas diocesanas da formação, a mensagem que o bispo da diocese envia através dele.

Concretamente sobre a parceria na formação dos seminaristas, iniciada com a Diocese do Algarve em 2012, o padre José Álvaro diz que tem sido um “enriquecimento mútuo” e que o “ambiente diverso” desafia também os seminaristas cabo-verdianos “em relação à fé, à liturgia, à pastoral e à formação intelectual”. “Acho que é uma complementaridade positiva e o sistema formativo tem ido de encontro ao que nós precisamos”, complementa.

Não obstante esta situação, o reitor explica que a possibilidade de Cabo Verde voltar a formar os seus próprios padres, como já aconteceu no século XIX, “está sobre a mesa”. “Eu, concretamente, defendo isso. Temos material humano. Falta pensar-se nisso, organizar-se e projetar. Não podemos dizer quando, mas não podemos não pensar nisto. Depois de muitos anos, e tendo tantos alunos, nós deveremos começar a pensar também numa resposta local”, afirma, lembrando existirem já, a outros níveis, instituições de formação superior em Cabo Verde.

Aquele país, com menos de meio milhão de habitantes, tem hoje duas dioceses – Santiago e Mindelo – com 21 seminaristas maiores e oito menores da primeira e 5 maiores e dois menores da segunda (sendo que ainda existem mais quatro seminaristas menores do Mindelo em formação num seminário experimental de acompanhamento de jovens naquela diocese), muito menos do que há 20 anos, nos idos anos 90. “As coisas inverteram-se proporcionalmente de modo drástico mas com resultado positivo porque a perseverança é maior. Já foram muitos mais, mas o resultado em termos de ordenações foi desolador. Pelo Seminário já passaram mais de 700 alunos e não tivemos 40 padres”, lembra o reitor, considerando ter ficado a satisfação de a Igreja ter contribuído para a “formação de gente ilustre na sociedade em diversas áreas como o direito, a cultura ou a economia”. “As circunstâncias sociais e o nível de escolas no país era de tal forma reduzido que o Seminário era uma resposta”, constata.

O sacerdote recorda então ter tomado providências, em “união com o bispo”, para “não aceitar todos os que vinham, realizando uma preparação, formando uma maior consciência do que seria a opção vocacional pelo ministério e aumentando o nível académico”, considerando que se tratou de “uma leitura do tempo de que era preciso mudar” e que o resultado “foi positivo”. No entanto, reconhece ter sido “um choque” quando se viu confrontado com um número reduzido de alunos.

Considerando que o Seminário “deu uma resposta no tempo” e que “agora é preciso mudar de sistema”, o reitor diz estar “cada vez mais convencido que o próximo passo será investir nos jovens universitários”. “Temos gente com formação universitária que agora está a caminhar no Seminário Maior”, sustenta.