O processo já tinha arrancado na sexta-feira passada, mas a primeira sessão teve de ser anulada e repetida, depois de o tribunal constatar que um dos dois juízes-jurados, com nacionalidade germânica, mas de origem turca, não tinha conhecimentos suficientes de alemão para entender os pareceres jurídicos e médicos, com muitos termos técnicos.
Além do juiz presidente, um magistrado profissional, o processo tem dois juízes-jurados que são nomeados pelas autarquias, após um sorteio.
Depois da substituição dos dois juízes-jurados, como a lei obriga, o novo julgamento começou hoje no Tribunal Regional de Munique com a leitura da queixa-crime e a identificação do arguido, que se limitou a responder a perguntas sobre a sua pessoa, sem se referir aos crimes de que é acusado.
Segundo o Ministério Público, Gunnar Dorries, 44 anos, terá matado a angolana Georgina Zito – com quem manteve uma relação amorosa que não assumiu, por viver com outra mulher, – e a filha de ambos, Alexandra, de 21 meses, durante as férias que passou com as duas, em Lagos, há quase dois anos.
Gunnar tinha conhecido Georgina num concerto musical em Estugarda, em 2006, e pouco tempo depois, a imigrante angolana ficou grávida de Alexandra, que o pai só conheceu nessas férias de 2010.
As polícias portuguesa e alemã apuraram posteriormente que o suspeito viajou para Portugal a 06 de julho, na companhia de Georgina e Alexandra, e os três alojaram-se num hotel de Lagos.
A 10 de julho, Dorries, terá arrastado Georgina para a água na Praia do Canavial, onde a afogou, simulando um acidente, presenciado por testemunhas portuguesas que serão chamadas posteriormente a depor.
Horas depois, chegou ao hotel já sem a filha e, a 13 de julho, viajou para Lisboa, num carro de aluguer, apanhando depois um avião para Munique.
A 15 de julho, um comando especial da polícia alemã deteve Dorries no seu apartamento na capital da Baviera, com base num mandado de captura europeu emitido pelas autoridades portuguesas.
Desde então, o suspeito está em regime de prisão preventiva em Munique.
Nos interrogatórios policiais, Dorries recusou-se a revelar o paradeiro de Alexandra, alegando que a criança estava viva e que a tinha confiado a um casal de turistas no Algarve.
Porém, os restos mortais da menina acabariam por ser encontrados por pescadores, em março de 2011, na costa algarvia, perto de Sagres.
Devido ao adiantado estado de decomposição do corpo, os investigadores não conseguiram apurar a causa do óbito.
Dorries terá planeado assassinar Georgina e a pequena Alexandra, que só conheceu em 2010, quando a mulher angolana lhe exigiu que assumisse a paternidade da criança, o que não estava disposto a fazer.
Além disso, receava que a sua companheira alemã descobrisse a dupla relação e rompesse com ele.
Para isso, viajou em segredo até Lagos, em junho de 2010, preparando meticulosamente o crime, sustenta o Ministério Público de Munique.
Segundo os autos de acusação, o engenheiro terá dito à sua companheira alemã que tinha de ir à Dinamarca em viagem de negócios, para encobrir as férias no Algarve.
Portugal pediu, na altura, a extradição do suspeito, mas este recorreu para a justiça germânica, pedindo para ser julgado no país de origem, e obteve deferimento.
O Tribunal Regional de Munique agendou 14 audiências para o julgamento, e a leitura da sentença está marcada para 16 de maio.
Lusa