Segundo este responsável, a situação das obras públicas piorou porque “os donos dessas obras, nomeadamente Câmaras Municipais, não pagam às empresas os trabalhos que já têm executados, e alguns com atraso de alguns anos” uma vez que as Câmaras também não têm dinheiro e “o que conseguem apurar utilizam para pagar salários”.

Esta situação deixa as empresas numa situação desconfortável, já que para além da falta de verbas camarárias, as empresas têm ainda que ver-se a braços com reduções nos fundos que tinham como reserva de tesouraria, sendo que grande parte destes fundos são provenientes de créditos bancários. Ora, com a conjuntura nacional e internacional, a banca cancelou grande parte dos créditos bancários deixando as empresas com obrigações em termos de pagamentos de salários, de obrigações fiscais e compromissos com os fornecedores. Afetando, não só, os trabalhadores diretamente ligados ao setor da construção, mas também aqueles que de forma indireta também estão ligados à atividade, sendo que “por cada trabalhador da construção civil que é obrigado a ir para o desemprego (…) no resto da atividade que indiretamente trabalha relacionada com o setor temos mais três que também ficam no desemprego” (ligados à comercialização, manutenção, etc.).

Para Manuel Gonçalves, o mais preocupante “é que se dê a ideia que a culpa da situação é do setor da construção, quando não foram nem são os empresários da construção que fazem projetos, nem são os empresários que lançam obras a concurso. Os empresários da construção limitam-se a concorrer a obras que o Estado colocou a concurso”.

O diretor executivo regional da AECOPS afirma ainda que alguma coisa tem que ser feita já que “se o Governo não criar aqui nenhuma medida que permita que as empresas possam receber, pelo menos, uma grande parte daquilo que são as dívidas das autarquias, prevê-se despedimentos na ordem dos 1600/2000 trabalhadores até ao final do mês de junho”.

Quando confrontado com o problema do Algarve, comparativamente ao resto do país, Manuel Gonçalves não tem dúvidas em afirmar que a situação algarvia é a mais complicada. “O Algarve é afetado pela falta de investimento estrangeiro, pela falta de investimento público e pela dificuldade que os portugueses têm no acesso ao crédito para poder escoar os fogos que no âmbito da produção imobiliária também foram construídos e também não se conseguem vender”.

A região algarvia acaba assim por sofrer mais do que o resto do país, uma vez que “a partir de determinada altura já não se construía no resto do país, portanto não se vendia, e o único sítio onde se construía e se vendia era no Algarve”. Esta situação fez com que empresas que detinham, ainda, possibilidade de executar obras se deslocassem para a região acabando “por criar uma oferta que, neste momento, o Algarve tem em demasia”.

Liliana Lourencinho com Rúben Oliveira