Na apresentação da obra, com cerca de 450 páginas, Soares lembrou todo o seu percurso na política, desde os tempos em que começou por ser republicano, por influência do pai, que foi ministro da Primeira República. Agnóstico, ao contrário do pai que era católico, Mário Soares afirmou que nunca se deixou “influenciar pelas posições” do progenitor. Mais tarde, tornou-se antifascista “por causa da guerra”, diz, e viria a ser comunista. “Fui comunista sincero. No período da Guerra Fria percebi que havia ali um grande erro”, explicou, lembrando a saída do Partido Comunista em 1949. “Depois disso evolui para o Socialismo democrático”, acrescentou o fundador do Partido Socialista (PS).
A obra, ontem apresentada, “é um testemunho e uma retrospectiva que faz uma leitura da história de Portugal nos últimos 90 anos”, como explicou Macário Correia. O presidente da Câmara de Faro, encarregado da apresentação da publicação, classificou a mesma como uma “reflexão política de um percurso de uma vida feita com muitos protagonismos e muitas responsabilidades”.
Como explicou o autarca, o livro, composto por 15 capítulos, “corresponde a períodos sincopados de ciclos políticos muito curiosos”, desde o contexto dos anos 20 e 30, passando pelos períodos mais delicados do antes, durante e depois da Revolução de Abril, até aos ciclos políticos que tiveram lugar até hoje, terminando com reflexões sobre o futuro.
Cruzando-se com 700 pessoas que fizeram parte dos vários factos relatados, a publicação tem início nos movimentos juvenis, relata o período de prisão, deportação e exílio do autor, assim como o período de oposição democrática, a reorganização das diferentes tendências dessa oposição, a fundação do PS em 1973, na Alemanha, e o relato da formação do Governo provisório pós-queda do Antigo Regime.
O livro, que o presidente da Câmara de Faro considerou como um “contributo histórico essencial para a compreensão daquilo que foi a consolidação da democracia, quer no contexto interno, quer da presença de Portugal no mundo”, refere-se ainda aos ciclos do autor como primeiro-ministro e como Presidente da República.
Macário Correia considerou Soares como o “grande moderador daquilo que é o nosso sistema institucional”. “A fundação do Estado de Direito, esta terceira república com as suas geometrias e com a sua organização é uma obra de algumas pessoas, mas em particular de Mário Soares”, disse.
Mário Soares, referindo-se ao processo de descolonização abordado na obra, lembrou que “a Revolução foi feita para haver descolonização porque os militares não queriam mais combater”. “Conseguimos uma coisa única: fizemos a CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) e hoje somos respeitados pelas nações africanas, ninguém ficou com remorsos contra nós”, afirmou.