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Foto © Samuel Mendonça

A postuladora da causa de canonização dos beatos Francisco e Jacinta Marto disse no Algarve que “falta apenas um milagre” para o processo avançar.

A irmã Ângela Coelho, religiosa da Aliança de Santa Maria, que é também a vice-postuladora da causa de beatificação da irmã Lúcia, apelou no passado sábado, na Assembleia Diocesana que reuniu cerca de 400 representantes das paróquias, dos serviços e movimentos da diocese algarvia no Centro Pastoral de Pêra, à oração dos católicos por esta causa.

A consagrada lembrou que depois da morte, espera-se geralmente cinco anos para se dar início ao processo. “Quando se começa o processo e a Congregação para as Causas dos Santos em Roma aceita, apresentando o [edital] nihil obstat [nada a obstar], a pessoa passa a ser chamada de servo de Deus. Depois de todo o inquérito na diocese onde a pessoa viveu e morreu e de todo o estudo dos documentos que são enviados para Roma, é feito [pelo papa] o decreto da heroicidade das virtudes que atesta que aquela pessoa praticou a santidade em grau heróico, passando a venerável. Fica a faltar um milagre para ser beato [culto local] e um milagre para ser santo [culto da Igreja universal]”, explicou.

A irmã Ângela Coelho adiantou que a irmã Lúcia já é “serva de Deus” e que o processo para a sua beatificação está na fase diocesana de estudo do que ela escreveu e do que fez, com recurso à audição de testemunhas, para ser depois enviado para Roma. “A parte do que escreveu já está analisada. Para terem uma noção a irmã Lúcia, desde 1977 recebeu cerca de 70 mil cartas”, contou, acrescentando que destas foram tidas em conta 10 mil para o processo, mais o seu diário com 2.000 páginas e os quatro livros que escreveu. “Cada página tem de ser lida por dois teólogos. Esse trabalho está feito mas demorou anos. Estamos a acabar a fase de escutar as testemunhas. Falta-nos umas 15”, acrescentou, explicando que estão a ser recolhidas “provas suficientes para provar a santidade”.

A vice-postuladora defendeu que “a vida de um santo deve ser bem estudada, bem rezada e bem pesada” em “sinal de respeito” para com a pessoa. “No caso da Lúcia é uma senhora que vive 97 anos e que atravessa a Guerra Civil Espanhola, a Segunda Guerra Mundial, a Guerra Fria, o Concílio Vaticano II, a Queda do Muro de Berlim e os pontificados de Bento XV a João Paulo II”, destacou, evidenciando que a vidente atravessou a “história da Europa marcadamente em convulsão no século XX” e também a história da Igreja com a reforma conciliar.

A irmã Ângela Coelho disse que “estudar bem a sua vida é estudar bem a Mensagem de Fátima”. “Quer a irmã Lúcia de Jesus, quer a Mensagem de Fátima merecem o nosso estudo com muito respeito e seriedade”, afirmou, lembrando que a religiosa foi visitada por “gente da política, da cultura e da ciência de todo o mundo”, entre os quais “estrelas e diretores de cinema muito famosos e embaixadores”, para além de cardeais e bispos do mundo inteiro.

A consagrada lembrou a sua relação próxima com os diversos papas. “João Paulo II escrevia-lhe a pedir concelhos e orações. A correspondência entre os dois é de um carinho e de uma amizade entre dois gigantes do século XX”, contou.

A vice-postuladora lembrou ainda que em Portugal foi decretado pelo Governo luto nacional quando a irmã Lúcia morreu, a 15 de fevereiro de 2005. “O texto do decreto saiu em Diário da República e é fabuloso. A sociedade civil reconhece o papel desta mulher, lembrando que atraiu a Portugal milhões de peregrinos. Em Portugal nem nos apercebemos desta figura que temos, a nível social e não só religioso. A irmã Lúcia é uma grande santa que a nossa Igreja em Portugal tem. Não sei se a conhecemos bem e se estamos suficientemente agradecidos por aquilo que aquela mulher fez pela Igreja e pela fé em Portugal”, concluiu.