Aos médicos, enfermeiros, auxiliares, voluntários e outras pessoas que estiveram presentes na cerimónia, o sacerdote, que é também membro da Comissão de Acompanhamento do caso de doentes que cegaram no Hospital de Santa Maria, lembrou que “há hoje o perigo da divinização da ciência e do dinheiro no mundo contemporâneo”.
Citando o Papa João Paulo II considerou “o progresso científico e técnico como um grande valor e uma nova sensibilidade ética como um grande desafio”. “O progresso científico e técnico tem de ser desenvolvido e sempre posto ao serviço do homem para ter a sensibilidade ética e a sensibilidade ética nasce no respeito profundo pela dignidade da pessoa”, explicou, lembrando que só em 1973 surgiu a bioética.
Enumerando “cinco cargas negativas” que podem “influenciar brutalmente o exercício da medicina”, o padre monsenhor Feytor Pinto referiu-se ao “materialismo racionalista”, ao “subjectivismo individualista”, à “permissividade hedonista”, à “visão redutora da sexualidade” e ao “economicismo autranse”.
O conferencista evidenciou que hoje “toda a gente quer ter saúde” e que “ninguém quer o sofrimento físico”, uma realidade que traz problemas aos médicos. “O médico tem de curar porque se não curou é negligência médica”, disse o padre monsenhor Feytor Pinto, alertando de que “os médicos defendem-se para nunca poderem vir a ser acusados de negligência”.
Procurando purificar esta ideia, o sacerdote defendeu que “ao médico não é exigido que cure, mas que cuide. E no cuidar pode curar e no cuidar, às vezes, não é capaz de curar”.
Referindo-se à “perspectiva da Igreja sobre a saúde”, evidenciou que a mesma implica “uma definição de saúde diferente da da Organização Mundial da Saúde”. “A saúde é a harmonia integral do ser humano, apesar dos seus limites bio, psíquico, sociais e culturais, em ordem à realização completa da pessoa na idade da vida que é a sua”, indicou, sublinhando ser “visão” que a Igreja tem da saúde. “A saúde não é um termo igual para todos, mas está na harmonia que cada um consegue arranjar”, explicou, acrescentando que “o papel do exercício da medicina e da enfermagem é dar harmonia à pessoa que tem limites em ordem à sua realização”.
Com vista ao futuro defendeu ser preciso “dar um salto para a medicina altamente especializada sem perder as dimensões da relação humana”. “Um médico não pode perder a dimensão da relação humana seja católico ou não seja. Mesmo ao dar uma notícia triste podemos ser profundamente humanos”, complementou.
Sublinhando a actuação do médico católico no mundo da saúde, apontou que deve ser “alguém que deve ter a preocupação pelo amor em todos os gestos e em cada situação”. “O cuidado dos doentes é um sinal messiânico para um médico católico e para um enfermeiro católico ou para um capelão católico”, disse, apontando entre as “características profissionais de um médico católico” que deve colocar “toda a técnica ao serviço da pessoa humana”, a “competência e actualização”, a “humanização”, a “sensibilidade ética”, a “bioética”.
Já as “características pastorais de um médico católico” devem ser, segundo o padre Feytor Pinto, o “testemunho de vida” e a “espiritualidade”, “não apenas religiosa, mas de cultura, de relações e de transcendência”.
A concluir, o conferencista afirmou que “considerar que o apoio espiritual não é necessário e que os capelães não são precisos, é uma tontearia porque o ser humano é global”.
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