Em Portimão, alguns desempregados admitiram sair do país para procurarem melhores condições de vida e acrescentaram que se pode repetir a vaga de emigração que se verificou nas décadas de 1960 e 1970.
Carlos Parreira, de 47 anos e no desemprego há cerca de um ano, não acredita que o país recupere tão cedo da crise, pelo que não vê outra alternativa senão procurar emprego no estrangeiro.
“Começamos a entrar em desespero, pois são imensas as dificuldades em encontrar qualquer coisa para fazer”, referiu o ex-funcionário de uma agência de viagens da cidade.
Casado e com dois filhos menores, Carlos Parreira está sobretudo preocupado com o futuro dos seus filhos, lamentando que o Governo “não tome medidas para criar emprego numa região com grande potencial turístico”.
Também Adélia Marques, de 42 anos, desempregada há 4 meses, começa a pensar na saída para o estrangeiro, como “a única alternativa para encontrar uma vida digna”. “É desesperante querermos trabalhar, não para vivermos, mas para sobrevivermos”, observou, sublinhando que as oportunidades de trabalho são cada vez mais escassas.
Com três filhos a seu cargo, Adélia vive com o subsídio de desemprego que recebe e do ordenado do marido, um total de cerca de 800 euros mensais, “que mal chegam para a alimentação”.
Com 43 anos e desempregado há seis meses, Valdemar Guerreiro é outro dos milhares de desempregados oficiais da região, que na sua maioria pertencem aos setores da hotelaria, turismo e construção civil.
“Acho que a taxa ainda vai ser mais alta, não vai ficar por aqui”, desabafou à porta do Centro de Emprego de Faro, afirmando que as obrigações a que está sujeito por ser desempregado o fazem sentir-se um “criminoso”.
Para o chefe de cozinha, além do problema do desemprego, a crise económica agravou ainda a exploração laboral, já que muitos patrões “se aproveitam da situação” e pagam abaixo do que deviam.
“No fundo, estamos a pagar por aquilo que outros fizeram”, referiu, classificando a situação atual do país como “vergonhosa”.
Também Orlando Gomes, desempregado há um ano, sente que “as coisas pioram” a cada ano que passa e já pensa em emigrar, porque no Algarve “está impossível conseguir arranjar emprego”.