
A segunda parte da ação de formação que a Diocese do Algarve levou a cabo para a constituição de agentes da pastoral familiar nas paróquias algarvias destacou ser preciso “dar uma resposta pastoral” aos casais divorciados ou recasados.
Na formação que abordou “A situação atual da família” e as “Problemáticas da família no mundo contemporâneo”, o casal Catarina e Nuno Fortes, da Pastoral Familiar do Patriarcado de Lisboa, que orientou a iniciativa, evidenciou que a Igreja passou de uma “teologia moral casuística” para uma abordagem centrada na misericórdia.
“Somos convidados, perante cada uma das situações, a apontar o caminho, mas a acolher na fragilidade. O ponto basilar é a misericórdia como chave de leitura para a nossa ação pastoral que implica, não a casuística, mas uma resposta individual para cada situação concreta de vida iluminada à luz do evangelho”, explicou Nuno Fortes, que se referiu à exortação apostólica pós-sinodal Amoris Laetitia, considerando não haver até agora uma “novidade de conteúdo” na pastoral da família com o pontificado de Francisco. “Tudo o que o papa Francisco tem a afirmado é uma reafirmação. Temos é uma visão nova sobre a forma”, lembrou.
“Falamos em situações matrimoniais irregulares – e é um termo canónico –, mas quem está recasado, separado ou foi abandonado como é que se sente quando ouve esta expressão?”, interrogou.
No segundo dia da formação, promovida no passado dia 11 de março pelo Sector da Pastoral Familiar da Diocese do Algarve nos anexos da igreja de São pedro do Mar, em Quarteira, também o seu assistente se referiu ao tema para destacar a importância da misericórdia. “Muitas vezes na Igreja não soubemos ser bondosos para com aqueles casais que estavam a sofrer. Não soubemos dar resposta a esses casais. Chegavam à Igreja e encontravam a porta fechada”, reconheceu o cónego Carlos César Chantre, acrescentando: “o futuro ou é misericordioso ou subvertemos a própria ordem da natureza e a espécie humana ficará em causa”.
O sacerdote considerou ainda que “os casamentos que aconteceram nas décadas de 50 e 60, na maior parte deles, os seus protagonistas não estavam devidamente informados sobre o significado do casamento”. “Portanto, muitos destes sacramentos, provavelmente são nulos”, concluiu.
Catarina Fortes evidenciou a importância do acolhimento, não obstante o caminho que a Igreja propõe. “Há que ter a consciência do que é o bem e do caminho que queremos propor de raiz como projeto de felicidade no matrimónio, mas também temos de saber reconhecer que as famílias hoje se confrontam com imensas dificuldades, com situações que não são ótimas de acordo com o projeto de Deus, mas são as que existem. Temos de conhecer essas situações, acolhê-las e aprender de que forma é que podemos integrar estas pessoas nas nossas comunidades e ser resposta para as suas situações e dificuldades concretas. Com uma mão temos de saber perguntar e com a outra, saber acolher”, afirmou.