A Ordem dos Frades Menores (franciscanos) assinalou no passado dia 26 de novembro meio século de presença na paróquia da Conceição de Faro.
Corria o ano de 1967 quando aquela ordem religiosa, regressada 10 anos antes ao Algarve, aceitou o convite do bispo de então da diocese, D. Francisco Rendeiro, para assumir a paróquia da periferia de Faro devido à escassez do clero diocesano. O frei António Crispim foi o primeiro pároco franciscano da Conceição de Faro, substituindo o então padre António Carrilho, hoje bispo do Funchal, o último sacerdote diocesano prior daquela comunidade.
No dia 26 de novembro, o frei Paulo Ferreira, atual pároco da paróquia, enumerou todos os seus confrades antecessores, desde os já falecidos aos ainda vivos. De entre eles destacou o ex-frade Salomão Morgado, presente naquela eucaristia, como “alguém lembrado com muito carinho e ternura” por aquela comunidade. No final da celebração, o frei Paulo Ferreira chamou-o para lhe oferecer, em nome da paróquia, uma réplica em miniatura da padroeira Nossa Senhora da Conceição.
Salomão Morgado agradeceu e lembrou as “coisas bonitas” que naquela paróquia se passaram enquanto ali esteve. Disse que procurou “não discriminar ninguém, mas que todos fossem uma mesma família”. “Gostei muito de cá estar. Gosto muito de vocês todos. Bem-hajam por aquilo que me deram naquele tempo e continuam dando. Obrigado”, agradeceu.
O frei Paulo Ferreira evidenciou ainda o primeiro prior Franciscano daquela paróquia. “O padre Crispim é o exemplo de Cristo-rei servidor porque quando veio, além do exercício do seu sacerdócio, pôde servir a comunidade muitas vezes com a sua força para que ela pudesse crescer”, afirmou, recordando também “com muito carinho” os que vieram depois dele e que “fizeram o trabalho no silêncio”.
O pároco lembrou também os “frutos que a comunidade deu no serviço à Igreja e até no serviço missionário”, recordando, a título de exemplo, a missão de alguns dos seus jovens em Moçambique. “Tudo isto, que hoje vemos como fruto desta comunidade, não se deveu apenas a publicidade, nem é uma forma de nos tentarmos projetar a nós mesmos, mas brotou porque houve um espírito de interioridade que fez doarmo-nos aos outros”, acrescentou.
Neste sentido, alertou que “uma comunidade que não tem um coração que se alarga, é uma comunidade que morre”. “Mas uma comunidade que abre o seu coração para ir ao encontro dos outros, cresce, desenvolve-se, atrai”, complementou.
No final da celebração, agradeceu ainda “a todos os catequistas, ex-catequistas e àqueles que integram hoje a comunidade, desde o grupo coral, ao grupo da Comissão de Festas, à Comissão Fabriqueira, aos escuteiros, aos acólitos e a todos”. “Realmente se hoje estamos aqui nesta celebração, isto é possível graças à participação de todos”, sustentou o pároco, que mostrou as estolas comemorativas daquela efeméride, confecionadas pelas irmãs contemplativas de Viseu, para oferecer aos seus antecessores que “por razões pastorais” não conseguiram estar presentes.
A eucaristia foi precedida pelo descerramento e bênção de uma lápide comemorativa no exterior da igreja, tendo o frei Paulo Ferreira referido a “espiritualidade franciscana” que ao longo das últimas cinco décadas “foi marcando e plasmando a vida de homens e mulheres” daquela freguesia.
A Ordem dos Frades Menores regressou ao Algarve em 1957, mas a sua presença na diocese remota provavelmente ao século XIV, com a sua instalação em Tavira (1312) e Loulé (1328). A sua chegada em força à região ter-se-á dado depois na primeira metade de 1500, sendo que no ano de 1516 foi-lhes entregue o Convento de São Vicente do Cabo (Sagres), até àquela data sob a jurisdição dos religiosos da Ordem de São Jerónimo. O mesmo terá ocorrido em Faro, mas com os Frades Capuchos da Província da Piedade, no Convento de São Francisco em 1529. Seguiu-se a fundação do Convento de Nossa Senhora da Esperança (Portimão) em 1530, o Convento de Santo António do Parchal (1615), o Convento de Santo António dos Capuchos, em Faro (1620) e o Convento de Nossa Senhora do Desterro da Terceira Ordem da Penitência, em Monchique (1631).
Em 1834, com a expulsão das ordens religiosas, dá-se a rutura dos conventos de Monchique, Tavira e Faro. Houve um período no final do século XIX em que as ordens religiosas regressaram ao país, mas com a proclamação da República voltaram a sair. Até àquele século, os franciscanos não tinham paróquias à sua responsabilidade porque a sua presença era apenas conventual. Regressados ao Algarve apenas em 1957, os frades foram residir para o Paço Episcopal até voltarem para a parte do antigo Convento de São Francisco de Faro, pertença da Ordem Terceira, onde agora estão.