
Representantes de comunidades cristãs, muçulmanas, judaicas, hindus e budistas presentes em Portugal assinaram ontem à tarde uma declaração conjunta em que rejeitam a legalização da eutanásia no país.
“Em nome da humanidade e do futuro da comunidade humana, causa da religião, sentimo-nos chamados a intervir no presente debate sobre a morte assistida, manifestando a nossa oposição à sua legalização em qualquer das suas formas, seja o suicídio assistido, seja a eutanásia”, pode ler-se no documento.
O texto ‘Cuidar até ao fim com compaixão’, uma declaração do Grupo de Trabalho Inter-religioso Religiões-Saúde, foi assinado e apresentado numa conferência que decorreu na Academia das Ciências de Lisboa.
Os responsáveis de oito Igrejas e comunidades religiosas, incluindo o cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, recordam princípios comuns às suas tradições, como “a misericórdia e a compaixão”, que “configuraram, ao longo da história da civilização, modelos sociais capazes de criar, em cada momento, modos precisos de acompanhar e cuidar os membros mais frágeis da sociedade”.
“O que nos é pedido não é que desistamos daqueles que vivem o período terminal da vida, oferecendo-lhes a possibilidade legal da opção pela morte, à qual pode conduzir a experiência do sofrimento sem cuidados adequados”, sublinha o documento.
A declaração conjunta questiona uma sociedade que “abandona, que se desumaniza, que se torna indiferente” perante o sofrimento alheio.
“Confirma-nos nesta convicção a experiência de que quem se sente acompanhado não desespera perante a morte e não pede para morrer”, pode ler-se.
Os responsáveis religiosos apresentam como alternativa à eutanásia os cuidados paliativos e a “possibilidade de uma morte humanamente acompanhada”.
As oito comunidades signatárias rejeitam “tratamentos fúteis”, na tentativa de prolongar a vida, e interpelam a sociedade portuguesa para corresponder “à exigência não mais adiável” de estender a todos o acesso aos cuidados paliativos”.
“Assumimos a disponibilidade e a vontade de fazermos tudo o que esteja ao nosso alcance para participar neste verdadeiro desígnio nacional”, acrescentam.
Os signatários sublinham o caráter “insubstituível e necessário” de cada ser humano, com uma “dignidade intrínseca anterior a todo e qualquer critério de qualidade de vida e de utilidade, até à morte natural.”
O sofrimento do fim de vida apresentado como “um desafio espiritual” para cada pessoa e como um “desafio ético” para a sociedade.
“A dignidade da pessoa não depende senão do facto da sua existência como sujeito humano e a autonomia pessoal não pode ser esvaziada do seu significado social”, realça o texto conjunto.
O documento vai ser entregue ao presidente da República e ao Parlamento.
A 29 de maio vão estar em debate na Assembleia da República quatro projetos-lei relacionados com a legalização da eutanásia; para o mesmo dia está convocada uma manifestação de vários movimentos contrários à legalização da Eutanásia, como a Federação Portuguesa pela Vida.