Cumprem-se no próximo dia 5 de janeiro, 40 anos sobre a morte do padre João José Sustelo dos Santos, um dos sacerdotes que mais marcou a história recente da Diocese do Algarve.
A edição de 12 de janeiro de 1979 do jornal Folha do Domingo, noticiava o inesperado falecimento do sacerdote, de 35 anos, “vítima de trágico desastre de viação ocorrido na Estrada Nacional 125, perto das Ferreiras” no dia 5 daquele mês, por volta da 1h. “De regresso de Armação de Pera, onde tinha orientado uma reunião dos Cursos de Cristandade, encontrou a morte num violento embate entre o seu automóvel e um carro pesado”, relata aquela edição, acrescentando que “os seus companheiros e responsáveis diocesanos daquele movimento cristão, Marcelino Pacheco da Silva e António Mateus Faustino Ferrinho ficaram gravemente feridos, encontrando-se internados no Hospital de Faro”.
Nascido em Estômbar a 2 de agosto de 1943, o padre Sustelo, como era conhecido, frequentou o Seminário de São José de Faro, seguindo depois para o Seminário de Cristo-Rei, dos Olivais, em Lisboa, onde concluiu o curso de Filosofia e Teologia.
Ordenado pelo então bispo do Algarve D. Júlio Tavares Rebimbas na Sé Catedral de Faro, a 31 de julho de 1966, juntamente com os padres Henrique Marreiros Varela e Manuel Augusto da Silva Santos, o sacerdote foi a 10 de setembro daquele ano nomeado professor e prefeito do Seminário de Faro. À causa das vocações sacerdotais consagrou grande parte da sua atividade.
A 3 de outubro de 1973 foi nomeado vice-reitor do Seminário, prosseguindo no seu programa de ação. Participou em Roma, durante alguns meses num Curso de Atualização Pastoral.
A 12 de novembro de 1975, foi nomeado pároco da freguesia do Conceição de Faro, múnus que exerceu, durante pouco tempo, por incompatibilidade com outros serviços a nível diocesano. Foi professor de Moral e de Português na então Escola Preparatória, no Liceu e na Escola Tomás Cabreira, em Faro.
Foi assistente do Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil. “No plano das realizações dos Secretariados Nacional e Diocesano do Ensino da Igreja nas Escolas, animou, incentivou e dinamizou muitas jornadas de estudo, de reflexão, de convívio e de espiritualidade, como encontros, cursos, acampamentos e a ‘Páscoa-Jovem’, que culminava com uma vivência da mensagem de libertação humana e cristã, no Santuário de Fátima”, escrevia aquela edição de Folha do Domingo.
O sacerdote foi assistente do Corpo Nacional de Escutas e das Guias de Portugal e desempenhou o cargo de assistente do Secretariado Diocesano dos Cursos de Cristandade, movimento ao serviço do qual veio a falecer.
O corpo do padre João Sustelo foi velado na capela do Seminário, nos dois dias seguintes à sua morte, “por numerosas pessoas de todas as condições sociais, nomeadamente, por jovens, numa romagem plena de dor, de saudade e de solidariedade espiritual para com a memória do amigo e do sacerdote”, conta a edição do Folha do Domingo, dando conta do sentimento dos diocesanos ainda não refeitos da também inesperada morte do padre Rafael Pereira dos Santos ocorrida dias antes.
No dia 7, às 14 horas, na Sé Catedral, o bispo do Algarve ao tempo, D. Ernesto Gonçalves Costa, presidiu a uma solene concelebração eucarística, com a participação de muitos sacerdotes. “O templo encontrava-se literalmente repleto, respirando-se um ambiente pesado de tristeza e de angústia, apenas superado pelos acenos da fé e da esperança”, relata aquela edição, acrescentando que o funeral seguiu para Estômbar, sendo o cortejo “formado por algumas centenas de automóveis”.
Na igreja de Estômbar, o bispo diocesano presidiu a uma concelebração eucarística, tendo o povo acorrido “em massa, a prestar comovida homenagem ao saudoso conterrâneo e amigo”.
Na missa de sétimo dia, presidida novamente por D. Ernesto Costa na Sé de Faro, o prelado destacou novamente o legado do sacerdote falecido. “Fomos testemunhas do modo como ele soube viver desdobrando-se em inúmeras atividades, que, por vezes, ultrapassavam as suas, próprias forças. Dava-se aos outros em rasgos de generosidade, em dedicação, em pedaços de amor. Por toda a parte deixava a alegria do seu sorriso, a palavra amiga do seu entusiasmo contagiante, a confiança e a esperança, de quem olha para além de tudo quanto é transitório e leva a marca da corrupção e da morte”, conta a edição de 19 de janeiro de 1979.
O bispo do Algarve considerou que o padre Sustelo foi “exemplo de trabalho” e “de dedicação à Igreja” e lembrou que o sacerdote “deu-se da alma e coração aos movimentos de apostolado dos leigos, e, de um modo muito especial, aos Cursos de Cristandade, ao serviço dos quais veio a falecer”. “Deu-se aos jovens, às guias, aos escuteiros, com quem passou muitas horas da sua vida, em estudo, em oração, em acampamentos, em festas, em representações. Entregou-se ao Seminário, onde viveu e passou a maior parte da sua a vida. Preocupou-se imenso com as vocações sacerdotais, vivendo em cheio o problema da falta de sacerdotes e vocações na diocese do Algarve”, complementou.
D. Ernesto Costa considerou a morte do padre Sustelo “um apelo” e “uma interpelação” aos jovens, “à generosidade, ao entusiasmo, à alegria da juventude”.
No próximo dia 5 de janeiro, pelas 18h na igreja de São Pedro de Faro, será celebrada uma eucaristia na ocorrência do 40º aniversário da morte do sacerdote.