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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

As Igrejas cristãs do Algarve voltaram a reunir-se, na Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos que está a decorrer desde o passado dia 18 deste mês, para pedirem esse dom do mesmo Deus em que todas creem.

Católicos, anglicanos, luteranos, evangélicos, ortodoxos ligados ao Patriarcado de Moscovo e ortodoxos ligados ao Patriarcado de Bucareste encontraram-se no último sábado à tarde, na igreja de São Francisco em Faro, para rezarem juntos pela unidade cristã durante a semana de oração por essa intenção que no hemisfério norte é celebrada anualmente entre 18 a 25 de janeiro.

A Semana de Oração pela Unidade Cristã em 2019 foi preparada por cristãos da Indonésia e os subsídios para as celebrações, reflexão e oração do oitavário – que este ano tem como lema a frase do livro do Deuteronómio “Procurarás a justiça, nada além da justiça” (Dt. 16, 18-20) – foram preparados e publicados em conjunto pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e pela Comissão Fé e Constituição do Conselho Mundial de Igrejas.

“No meio das 1.340 etnias os indonésios procuram viver de forma solidária como irmãos, mas a harmonia é sempre frágil. Nas últimas décadas, o forte crescimento económico criou ricos sempre mais ricos e pobres sempre mais pobres. A corrupção política teve consequências devastadoras para o ambiente e escandalosas injustiças. Esta realidade suscitou nos cristãos da Indonésia a escolha da frase do Deuteronómio”, contextualizou-se no início da celebração, lembrando as 17.000 ilhas com uma população de 265 milhões, 80% dos quais se identificam como muçulmanos e 10% são cristãos de diversas tradições.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Por outro lado, lamentou-se a falha “na vivência do mandamento do amor” o que levou os cristãos à separação. “Se nós, os cristãos olharmos para a nossa história não podemos deixar de ficar tristes ao verificar que ela foi muitas vezes uma sucessão de incompreensões, litígios e lutas. Isto deve-se, sem dúvida, às circunstâncias históricas, culturais, políticas, geográficas e sociais. Mas também ao facto de ter diminuído aquele elemento unificador que nos carateriza: o amor. Um trabalho ecuménico só poderá ser fecundo na medida em que quem a ele se dedica vir em Cristo, crucificado e abandonado (que se abandona no Pai), a chave para compreender todas as faltas de unidade e para recompor a unidade. A unidade tem um efeito extraordinário: atrai no meio de nós a presença de Jesus”, reconheceu-se.

A celebração contou com a presença do bispo do Algarve, D. Manuel Quintas, do cónego Joaquim Nunes (diretor do Secretariado para o Diálogo Ecuménico e Inter-religioso da Diocese do Algarve) e dos padres José dos Santos Ferreira e José do Casal Martins, em representação da Igreja Católica algarvia, do pastor Stephan Lorenz em representação da Igreja Luterana alemã, dos padres Rob Kean e Reid Hamilton em representação da Igreja Anglicana, do padre Ioan Rîşnoveanu em representação da Igreja Ortodoxa ligada ao Patriarcado de Bucareste, do padre Ioan Gherbovetchi, em representação da Igreja Ortodoxa ligada ao Patriarcado de Moscovo e do pastor Rodrigo Sequeira em representação da Igreja Evangélica.

O bispo do Algarve começou por se referir na introdução à simbologia do local escolhido nos últimos anos para realizar aquela oração ecuménica, lembrando que aquela igreja franciscana “transporta para Assis, sabendo o quanto esse lugar é convite à oração e tem acolhido, tantas vezes, a oração pela unidade dos cristãos ou também encontros de diálogo inter-religioso”.

D. Manuel Quintas evidenciou depois o sentido daquela iniciativa anual. “Partilhando a mesma fé, queremos fazer com que a nossa oração nos converta verdadeiramente uns aos outros porque nos converte à pessoa de Cristo. E quanto mais convertidos a Cristo e ao evangelho, mais próximos estamos uns dos outros, mais unidos estamos”, afirmou, lembrando que a unidade entre cristãos no Algarve se expressa “já há muitos anos” numa “partilha e cooperação” visível, por exemplo, na utilização dos seus templos da diocese católica.

Referindo-se mais concretamente ao tema na homilia, o prelado observou a relação entre a promoção da justiça e a construção da unidade. “Se promovermos a justiça aos mais diversos níveis, a partir da nossa fé comum, a partir dos valores do evangelho, estamos a contribuir para construir essa unidade, não apenas entre aqueles que acreditam em Cristo, mas também a nível social, cultural e todos os níveis”, afirmou, destacando aos presentes a importância de estarem “despertos e atentos para as injustiças sociais”. “Este testemunho e esta construção da unidade que somos chamados a dar como cristãos e a comprometermo-nos na sua construção combate a corrupção, promove a justiça, defende os pobres e socorre os necessitados”, sustentou.

O bispo católico, que agradeceu a presença das “Igrejas irmãs”, propôs ainda aos cristãos que se comprometam em “construir a unidade”, não só “a partir da oração”, mas também dos seus “gestos” e “atitudes”.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Em declarações ao Folha do Domingo e à Rádio Renascença, D. Manuel Quintas disse que a iniciativa também tem sido “muito positiva pela participação”. “Da parte dos fiéis das diferentes Igrejas nem sempre é fácil mobilizarem-se e deslocarem-se, mas há sempre um grupito, mesmo reduzido, que representa os que não podem vir e isto é estimulante e gratificante e, certamente, que nos motiva para continuar com esta iniciativa”, afirmou.

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O padre Rob Kean disse ser “um privilégio” estar com os membros das restantes Igrejas, “como parte do mesmo corpo de Cristo”, para “refletir sobre a justiça, a unidade e a misericórdia”.

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O pastor Stephan Lorenz também se regozijou por estar juntamente com “todos os cristãos” a rezar “pela unidade visível da Igreja”, a “abrir o caminho para cumprir a vontade de Jesus de que todos sejam um e trabalhar juntos para que o seu reino se manifeste”. “Deus ouça a nossa oração e nos dê amor e paciência para viver e trabalhar pela unidade”, pediu.

Ao Folha do Domingo e à Rádio Renascença, o pastor Rodrigo Sequeira considerou que aquela iniciativa anual tem ajudado à aproximação entre as Igrejas no Algarve. “Acho que isto nos ajuda muito neste objetivo de olharmos uns para os outros de uma forma completamente diferente”, adiantou, acrescentando que vê os representantes das outras Igrejas como “irmãos em Cristo”. “Nós temos as nossas diferenças, mas eu acho que Deus aprecia mais a honestidade e o desejo sincero de nós aproximarmos d’Ele do que dos detalhes que nos separam. Se temos Cristo como o centro da nossa vida, é lógico que isso é muito mais importante do que todos os outros detalhes. Numa sociedade em que os valores cristãos estão a ser destruídos, acho que temos toda a vantagem em trabalharmos juntos para a fé que temos em comum”, complementou.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Depois da homilia, a celebração, organizada pelo Secretariado para o Diálogo Ecuménico e Inter-religioso da Diocese do Algarve em colaboração com o Movimento dos Focolares e animada pelo coro juvenil da paróquia de São Pedro de Faro, prosseguiu com alguns momentos particularmente simbólicos com o do abraço da paz entre os representantes das Igrejas ou o da oração do Pai Nosso. Para além da súplica pela “unidade visível da Igreja”, a celebração ficou ainda marcada pela oração “por aqueles que vivem no meio da injustiça”, pelos que “continuam a praticar a injustiça” e “por todas as instituições e pessoas que defendem a justiça”.

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