Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Os bispos das quatro dioceses do sul do país, em declarações ao Folha do Domingo e à Agência Ecclesia, regozijam-se com o anúncio da realização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de 2022 em Portugal e esperam que o encontro em Lisboa possa ser um acontecimento de rejuvenescimento da Igreja em Portugal.

O bispo do Setúbal diz ser preciso “começar por mobilizar” os jovens portugueses para que o evento seja uma “ocasião de despertar” a juventude nacional, “não só para a Igreja, mas para uma presença na sociedade”. “Temos jovens realmente admiráveis, com capacidade de intervenção e comunicação do evangelho, mas isso tem de ter uma projeção muito maior dentro da Igreja e é isso que se espera que também a jornada possa trazer”, afirmou D. José Ornelas, à margem da atualização do clero das dioceses de Algarve, Beja, Évora e Setúbal que está a realizar-se em Albufeira.

“Queremos que a nossa forma de viver e de implicar os jovens leve a uma Igreja mais jovem. Temos de encontrar caminhos de ajudá-los a intervir na criação de uma nova economia, de novas formas de relação e de uma nova forma de política”, sustentou, acrescentando que tem de “haver uma parceria necessária com toda a Igreja”. “Lisboa e as dioceses que estão mais próximas vão ser implicadas de forma preponderante. Evidente que estamos disponíveis para ser parte deste processo que, inevitavelmente, vai implicar diretamente a nossa diocese. Depois de Lisboa será, certamente, aquela que mais proximamente está implicada”, considerou.

Já o arcebispo de Évora considera que “não seria possível esta escolha sem provas dadas”. “A pastoral juvenil em Portugal tem sabido cruzar muito bem esferas como a pastoral do ensino superior e, por exemplo, a dimensão missionária”, destaca, falando de “um percurso assumido” e “uma dinamização muito intensa”.

Não obstante esta constatação, D. Senra Coelho alude à necessidade de “uma pastoral juvenil mais interventiva”. “O desafio é premente: é necessário que assumamos mais e melhor a pastoral juvenil, que façamos um trabalho atento de acolhimento. Aquilo que fizemos é desafiante e diz-nos da possibilidade de fazer mais e melhor. Aquilo que nos falta fazer é muito e é necessário que seja assumido agora perante a proposta que o papa Francisco nos lançou”, observa, considerando que a JMJ “tem que ser um ponto de chegada de um caminho da pastoral vocacional e juvenil”.

“Não pode ser apenas uma grande festa e um grande evento que nos faz mais conhecidos no mundo”, adverte D. Francisco Senra Coelho, considerando que o acontecimento “vai deixar marcas” e “certamente a confirmação de uma Igreja jovem que se propõe também a Portugal, vinda de todo o mundo”.

O prelado lembra que o encontro mundial dos jovens em Portugal é primeiramente para as dioceses portuguesas. “Temos que ser protagonistas deste acontecimento porque aquilo que se pretende é que Jesus Cristo chegue ao coração das novas gerações que, muitas vezes, estão vazias”, destacou, alertando para a importância da preparação que assume “dimensão de desafio”. “Antes de tudo, temos que nos preparar muito bem porque os grandes acontecimentos não se improvisam e vai ser aí que vamos jogar todas as nossas forças para que a JMJ nos encontre dinamizados, enriquecidos. Que seja, de facto, a festa celebrativa de um percurso vivido”, acrescenta.

O arcebispo de Évora refere ainda o “contributo” de Portugal poder “dar ao mundo uma participação muito especial” na JMJ. “Estamos num eixo geográfico que é estratégico, fazemos a ligação entre vários continentes, temos uma experiência de diálogo intercultural muito forte, somos uma Igreja missionária”, sustenta.

Por outro lado, D. Senra Coelho diz que a “Mensagem de Fátima vai ser uma valorização” também nas jornadas. “Estou convencido que vão ter um grande sabor maternal, um sabor de Nossa Senhora”, complementa, assegurando que a Arquidiocese de Évora “estará em peso” no encontro. “Estamos com uma enorme vontade de colaborar e de nos mobilizarmos”, acrescenta.

Por sua vez, o bispo do Beja também considera que o evento “vai marcar fortemente a Igreja” e “ser um marco positivo para o futuro” da juventude.

Encarando a JMJ em Portugal como “uma graça de Deus”, D. João Marcos também aponta à preparação, sublinhando que ela tem de ser feita com os jovens. “Os textos do Sínodo [sobre a juventude] são uma base ótima para este trabalho agora com os jovens”, refere.

O bispo do Algarve deseja que a JMJ contribua para um “enraizamento em Cristo e ao mesmo tempo um grande sentido de pertença familiar à própria comunidade cristã”. Se assim for, D. Manuel Quintas diz que o evento já terá valido a pena porque “será mais fácil” conseguir uma “juventude diferente” e, sobretudo, “que a Igreja em Portugal possa abrir-se ainda mais ao contributo dos jovens”.

O prelado sublinhou o percurso para chegar até aqui. “Foi um caminho muito longo percorrido pela Conferência Episcopal Portuguesa, sobretudo pelo Secretariado Permanente, e também pelas dioceses mais diretamente ligadas”, contou, advertindo que a “alegria” da escolha tem agora de “dar lugar ao trabalho”. “Para nós, as JMJ já começaram”, alerta, manifestando “uma disposição muito grande de envolver” a Igreja algarvia e garantindo que a Diocese do Algarve está totalmente disponível “para aquilo que for considerado necessário e importante”.

D. Manuel Quintas apela a “que a preocupação da programação incida, não sobre as atividades apenas, mas sobretudo sobre os conteúdos”. “O que é que pretendemos como Igreja em Portugal para os jovens que vão participar nestas jornadas? Como é que queremos que eles saiam delas? E, sobretudo, como é que queremos que a mensagem que for transmitida permaneça neles e crie neles uma adesão mais forte à pessoa de Cristo?”, são, na sua opinião, as questões a que agora se deve responder.