A proposta da paróquia de Nossa Senhora do Amparo de Portimão era simples: voltar a realizar uma peregrinação a pé ao Cabo de São Vicente para “mudar de ritmo”, “ir ao essencial”, “descomplicar”, “encontrar-se consigo e com Deus, com a natureza e com os outros”, “caminhar sem pensar no que se tem vestido”, “ter tempo para arrumar as ideias”, “abrir-se a coisas novas”.

O desafio, “próprio para quem quiser aprofundar ou iniciar uma relação com Deus”, incluía que cada crente levasse um amigo não crente e vice-versa, para partir da Carrapateira, na freguesia de Bordeira, no concelho de Aljezur, num percurso total de cerca de 22 quilómetros, caminhando durante um fim de semana por trilhos naturais.

A sugestão foi aceite por 24 pessoas que no dia 17 deste mês se reuniram no quartel dos bombeiros de Aljezur onde pernoitaram, partindo na manhã do dia seguinte da Carrapateira até Vila Bispo num total de 14 quilómetros. O almoço foi feito pelo caminho com o farnel trazido por cada peregrino que foi partilhado entre todos.

Os participantes pernoitaram no pavilhão da escola de Vila do Bispo, tendo as refeições do jantar daquele dia e do almoço do dia seguinte sido gratuitamente fornecidas pela Santa Casa da Misericórdia daquela localidade.

No dia 19 de maio, a última etapa ligou Vila do Bispo a Sagres, num total de pouco mais de oito quilómetros.

A peregrinação para crentes e não crentes, que se realizou pela terceira vez consecutiva, teve como orientadores espirituais os párocos da paróquia de Nossa do Amparo, padres Francisco Campos e Nuno Tovar de Lemos, ambos jesuítas.

Ao longo do caminho, os peregrinos analisaram quatro textos que discutiram em grupos de três elementos, tendo servido ainda para a reflexão pessoal. Durante a peregrinação, sob o tema “Saber ver para além do óbvio”, os caminhantes participaram na celebração diária da eucaristia, no sábado perto da Pedralva e no domingo no lar da Misericórdia em Sagres.

O Cabo de São Vicente, o diácono e mártir, padroeiro da Diocese do Algarve, foi durante vários séculos lugar de peregrinação. Para além de orago da Diocese do Algarve, São Vicente é também padroeiro do Patriarcado de Lisboa, onde se guardam algumas das suas relíquias. Simbolicamente é representado por uma barca e um corvo, representação essa baseada na tradição de que em 1173 as suas relíquias foram conduzidas numa barca desde o Cabo de São Vicente, no Algarve, para Lisboa, a mando de D. Afonso Henriques e veladas durante todo o trajeto por dois corvos.

Também aparece representado com palma, que simboliza o martírio, e evangeliário. São Vicente ou São Vicente de Saragoça, também conhecido por São Vicente de Fora (Lisboa), foi martirizado em Valência no início do século IV (crê-se que no ano de 304) durante as perseguições do imperador romano Diocleciano contra os cristãos da Península Ibérica. O seu cruel martírio até à morte foi devido, segundo a tradição, à sua recusa em oferecer sacrifícios aos deuses do panteão romano.

Segundo a tradição, os restos mortais de São Vicente foram conduzidos, durante a progressiva ocupação muçulmana do sul peninsular, até ao cabo que viria a assumir o seu nome. As comunidades moçárabes existentes no Algarve, constituídas por cristãos que conseguiram organizar-se sob o domínio muçulmano, encontraram no testemunho de São Vicente, coragem e alento.

D. Francisco Gomes do Avelar proclamou, em 1794, São Vicente como padroeiro principal da Diocese do Algarve.