O concerto do grupo feminino de expressão artística do Movimento dos Focolares – ‘Gen Verde’ – trouxe a festa ao Teatro das Figuras, em Faro, na passada quinta-feira à noite.
Durante quase duas horas, as 690 pessoas que assistiram ao espetáculo, que concluiu a digressão de apresentação em Portugal do seu último álbum “From the Inside Outside”, puderam comprovar a multiculturalidade do grupo, formado por 20 artistas de 15 países, bem patente nos estilos musicais que compõem o trabalho discográfico.
Do pop-rock ao reggaeton, passando pelo rap, pelo pop latino e pela música K-pop e étnica coreana, os temas que fazem parte deste novo cd, com uma sonoridade marcadamente eletrónica, foram desfilando pelo palco com coreografias expressivas e mensagens interventivas.
A defesa da Amazónia, o apelo à união do povo coreano, a critica à construção do muro fronteiriço entre EUA e México, a condenação do extremismo religioso que leva ao terrorismo, a violência na América Latina, tomaram forma no espetáculo que não esqueceu também problemáticas como o racismo ou a migração e muitas outras que afetam, particularmente, os jovens hoje em dia como o bullying, a falta de esperança ou as dependências de todos os tipos.
O concerto, que teve sempre subjacente o apelo à paz, abriu com o tema ‘From the Inside Outside’ que dá título ao álbum. Lembrando as “coisas extraordinárias que há no mundo”, as artistas consideraram não ser possível “ignorar a noite que se vive nesta época”. “Existe, por exemplo, a pressão de que temos de conformar-nos a modelos, a padrões impostos por outros. E, às vezes, essas pressões vêm de dentro de nós mesmos”, salientaram.
O alinhamento prosseguiu com ‘Just One Last Time’, que aborda o problema da viciação no jogo, ‘아름다운 Girl (Who Are You?)’, que critica a pressão da sociedade sobre a aparência física, e ‘Até Voar’, inspirado na morte de um irmão de uma das artistas da banda, “envolvido numa situação terrível por causa da toxicodependência”.
Seguiram-se depois ‘Sei la Mia Felicità’, inspirado no período de doença da violinista do grupo, tema que destacou como aquele tempo de “dor vivida no relacionamento com Deus se transformou em força, luz e felicidade”, ‘I’ve Got Hope’ e ‘Tierra de Paz’, que aludiu ao fenómeno da migração e lamentou não só a separação entre americanos e mexicanos, mas também entre coreanos que “não perderam a esperança de compreensão mútua que os leve a caminhar juntos”.
‘Solo la Luce’, ‘Wave of Love’ e ‘Lo Credo nel Noi’ foram as músicas que antecederam o momento alto da noite com a interpretação de ‘Che Siano Uno’ em homenagem à italiana Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares. “Durante toda a sua vida trabalhou pelo diálogo entre cristãos, entre religiões e culturas diversas. Muitas de nós tivemos o privilégio de a conhecer ainda viva. E o seu ideal, que se resume à frase do evangelho «Que todos sejam um», tornou-se um estilo de vida para cada uma de nós. É isto que nos leva a ir por todo o mundo em direção a todos, sem excluir ninguém”, explicaram.
Esse trabalho interreligioso foi ilustrado no tema seguinte – ‘This Is Our Name’ –, inspirado no “precioso relacionamento” com os “irmãos e irmãs muçulmanos”. A gravação da música contou com a participação especial do “amigo” e violinista Rassim Bouabdallah, um jovem muçulmano da Argélia. “Com esta canção queremos exprimir os valores verdadeiros que partilhamos, aquilo em que verdadeiramente acreditamos”, explicaram sobre a música que pretende “dar voz ao grito de cada um” dos muçulmanos que condena o terrorismo “para dizer que o coração da sua religião tem sido deturpado e traído”.
Os ritmos quentes e contagiantes do reggaeton marcaram presença com ‘Como Lluvia Suave’ e ‘Ideia Louca’, seguindo-se ‘Turn It Up’, antes de mais um dos momentos que marcaram o espetáculo: a despedida de Adriana Martins, do Brasil, que nos últimos 13 anos foi uma das vocalistas do grupo.
O concerto chegou ao fim com um mix das músicas e, ao encore pedido pelo público, responderam no regresso ao palco com a repetição de ‘Lo Credo nel Noi’.