Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O presidente da Associação Portuguesa de Imprensa (API) afirmou no passado sábado em Faro que as notícias falsas, a manipulação e a desinformação foi “qualquer coisa que existiu sempre” só que o que mudou foi a “distribuição viral” que não permite saber de onde parte a informação falsa.

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João Palmeiro defendeu que “no mundo analógico, o controlo de disseminação dessas informações estava dependente de uma indústria”, da “capacidade de acesso” aos jornais com dependência da distribuição postal. “Hoje, num mundo desmaterializado, o que mudou foi a distribuição viral. As coisas vão sem nós sabermos como vão”, afirmou aquele responsável no salão nobre da Câmara de Faro, tendo sido um dos participantes na conferência sobre tecnologias da informação inserida no 1º Colóquio Internacional Marés de Histórias, promovido pela Instituição de Solidariedade Social Ajudaris em parceria com o Centro Ciência Viva do Algarve.

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O presidente da API, que veio falar sobre a luta contra a iliteracia mediática, a manipulação jornalística e a desinformação, explicou que aquela organização associativa lançou este ano o projeto ‘Media Veritas’ precisamente sobre aqueles temas. João Palmeiro acrescentou que o projeto foi rejeitado pela Assembleia da República, mas, “porque tinha como objetivo principal os seniores, foi sustentado financeiramente” pelo Google.org, braço filantrópico do Google, em colaboração com o ‘Google News Initiative’.

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Para além dos mais idosos, o projeto pretende também alertar os jovens e ajudá-los a identificar as chamadas ‘fake news’, dotando-os de conhecimentos e ferramentas para conseguirem facilmente desconstruir esses conteúdos falsos. Aquele responsável explicou ainda que o ‘Media Veritas’ inclui uma vertente em que “procurará trazer às escolas a possibilidade de receberem assinaturas digitais dos jornais locais”, sobretudo no âmbito da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento.

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João Palmeiro defendeu que “o jornalismo é, sobretudo, criatividade” e acrescentou que o mundo digital veio ensinar “que as notícias, enquanto tal, perderam valor”. “O que ganhou valor foi a capacidade de juntar notícias e informações que nos ajudam a compreender melhor porque é que aquele facto é fundamental para a nossa vida”, completou.

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Neste sentido defendeu a necessidade de as redações incluírem engenheiros informáticos para ajudarem a passar do analógico ao digital. “As redações dos jornais transportaram para o mundo digital aquilo que faziam no mundo analógico e precisam de alguém que lhes diga que no mundo digital não se diz assim porque se se disser assim as pessoas passam à frente. Não é possível encontrarmos soluções digitais se mantivermos a nossa cabeça analógica”, advertiu.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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O presidente da API lamentou que as escolas de jornalismo em Portugal incorram numa “falha fundamental”. Segundo aquele dirigente associativo “não ensinam os jornalistas a pôr metadados”, ou seja, “não ensinam os jornalistas a dar valor àquilo que escrevem ou às fotografias que fazem”. “Numa base de triliões de dados, se esses dados não forem facilmente pesquisáveis valem zero. E só são pesquisáveis se tiverem metadados”, acrescentou, considerando aquelas informações como “uma das grandes decisões da liberdade de imprensa do futuro”.

O orador referiu-se ainda às publicações centenárias portuguesas, lembrando que o Folha do Domingo é o único representante do Algarve. João Palmeiro acrescentou que a associação está a trabalhar para aquelas publicações sejam reconhecidas pela UNESCO no âmbito do seu programa ‘Memória do Mundo’, estabelecido em 1992 com o objetivo de contribuir para a preservação do património documental mundial.

Aquele responsável alertou ainda que “o Algarve corre o risco enorme de ficar sem jornais”. “No dia em que ficar sem jornais acontece exatamente o mesmo que aconteceu em várias cidades pequenas dos EUA”, advertiu, explicando que “onde desapareceram os jornais locais, o Facebook perdeu tráfego”. “Aí, o Facebook desatou a participar no capital dos jornais que estavam para fechar para tentar que eles não fechassem”, contou, acrescentando que nalgumas dessas cidades “não houve candidatos às presidências de câmaras” por desconhecimento das preocupações das pessoas, para além das estritamente pessoais que circulavam naquela rede social.