A Casa de Santa Isabel, em Faro, instituição de cariz católico, comemorou na passada quinta-feira o seu centenário.
O programa de aniversário teve início com a celebração da eucaristia na igreja de São Francisco, vizinha daquela instituição que desde 1919 acolhe menores em risco do sexo feminino.
Na missa presidida pelo bispo do Algarve, D. Manuel Quintas realçou o “bem semeado” pela instituição particular de solidariedade social ao longo do último século.“Numa celebração como esta aquilo que resulta, por um lado, é admiração no sentido de nos mostrarmos gratos e reconhecidos a uma instituição como esta que enriquece o nosso tecido social e cultural algarvio”, afirmou, lembrando que, da efeméride decorre, por outro lado, “um apelo muito grande”.“Se a verdadeira vida está em viver deste modo e desta maneira, o que é que falta para nos decidirmos ir ao encontro de quem precisa, para satisfazer necessidades essenciais ligadas à dignidade da vida humana?”, interrogou.
O prelado considerou assim que “estas instituições suprem, de certa maneira, aquilo que falta individualmente” ao nível da ação social. “Celebrar cem anos de uma instituição como esta é um grande apelo à verdade da vida, à generosidade, ao altruísmo de estarmos atentos e despertos para tantas situações que pensamos que estão tão longe do nosso quotidiano”, sustentou, manifestando o seu reconhecimento “a quantos dão vida hoje” e “a quantos deram” ao longo deste século.
Depois da celebração, cantada pelo coro de Câmara da Sé de Faro “Cantate Domino”, teve lugar na instituição o descerramento, pelo bispo do Algarve e pelo presidente da assembleia geral, José Barrote, de uma placa alusiva ao aniversário, cujo programa prosseguiu com um jantar no hotel Eva.
O vice-presidente da direção da Casa de Santa Isabel destacou a “coragem e sentido de missão de um conjunto de senhoras beneméritas da sociedade farense” em 1919, “quando o Algarve e o país sofriam as sequelas da Primeira Guerra Mundial e o flagelo da gripe pneumónica que dizimou milhares de pessoas no país inteiro e muitas na região, deixando muitas crianças órfãs”. “Coragem e sentido de missão que hoje também é importante ter face às necessidades sociais emergentes e a uma sociedade cada vez mais fundada no relativismo e na perspetiva individual e hedonista que nos afasta uns dos outros”, acrescentou Dinis Caetano.
Aquele dirigente assegurou que “a Casa de Santa Isabel hoje, tal como ontem, está ao serviço da comunidade em espírito de missão”, “não procura os holofotes da exposição mediática, nem abdicar dos seus princípios cristãos que presidiram à sua fundação” através das suas mentoras, “preocupadas com crianças desvalidas e órfãs que procuraram soluções inspiradas pelas obras de misericórdia de Santa Isabel de Portugal”.
No jantar, que contou com a presença de José Bivar, bisneto de Isabel Cúmano, uma das fundadoras da Casa de Santa Isabel, Dinis Caetano lembrou que a instituição, com um corpo técnico de 34 funcionários, para além do lar de infância e juventude que esteve na sua génese, conta hoje também com as valências de creche e pré-escolar, acolhendo um total de 154 crianças e jovens, sendo que 26 estão na primeira, 42 na segunda e 86 na terceira.
O vice-presidente disse que a atividade da instituição “tem sido muito valorizada pelo empenho da equipa técnica”. “Vocês são o rosto da Casa de Santa Isabel para as crianças, para os pais e para as famílias”, afirmou, pedindo-lhes que em momentos de dificuldade se inspirem na irmã Maria del Carmen Motiloa. “A irmã Carmen foi a alma mater da Casa de Santa Isabel durante cerca de 40 anos, período em que exerceu o seu ministério como diretora e que alcandorou a instituição a patamares de qualidade e a nível de acolhimento baseada nos afetos e que marcou gerações”, sustentou, lembrando que a Carmelita Missionária passou em 2010 o testemunho a Leonor Caracóis, que a sucedeu e assumiu a direção técnica até 2015.
O jantar ficou marcado pela intervenção do jornalista João Leal, sob o tema “Casa de Santa Isabel 1919-2019, um percurso centenário de amor”, que evocou todo o percurso histórico da instituição.
A diretora do Centro Distrital de Faro da Segurança Social realçou que a Casa de Santa Isabel “reinventou-se” e “não é já um asilo”. “Ao longo destes cem anos muitas são as pessoas a quem é a Segurança Social tem o dever de dizer bem-hajam pelo que fizeram”, afirmou Margarida Flores, particularizando em relação aos técnicos do lar de infância e juventude. “Respostas sociais onde a segunda-feira é igual ao domingo, onde a noite é igual à manhã são respostas muito exigentes”, reconheceu.
Aquela responsável anunciou que a Casa de Santa Isabel tem uma comparticipação mensal da Segurança Social de cerca de 39.900 euros. “É dinheiro de todos nós. Vocês estão a preparar o futuro deste país. As crianças que acolhem estão à ordem do Estado português que foram retiradas de perigo. Aí a responsabilidade é uma responsabilidade da sociedade civil que é transferida para vós. A Segurança Social conta convosco. Podem contar connosco”, concluiu.
Lembrando que a instituição nasceu “num período muito complexo da história de Portugal, com o país enfrentar uma grave crise política, social, financeira e económica”, o presidente da Câmara de Faro disse que “a Casa de Santa Isabel continua a ser um referencial de amor pelo próximo, fazendo crescer a cada dia a importância da obra começada pelas irmãs Bivar”.
Rogério Bacalhau, que ofereceu uma placa evocativa do centenário, acrescentou que a instituição continua, na senda das fundadoras, a ser “uma fonte de princípios e valores essenciais para a vida em comunidade”, “que tem tido boa sequência no trabalho de sucessivas direções”.