Foto © Luís Forra/Lusa

Novas espécies marinhas estão a surgir nas águas portuguesas e os biólogos querem incentivar os cidadãos a localizar e registar numa plataforma digital os avistamentos das invasoras, disse à Lusa um investigador da Universidade do Algarve.

João Encarnação, coordenador do projeto Novas Espécies Marinhas do Algarve (NEMAlgarve) do Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve, considerou que os cidadãos “são uma peça importante nesta vigilância das costas portuguesas, já que não é possível aos investigadores estarem em todo o lado e a toda a hora”.

As pessoas podem aceder à plataforma digital www.biodiversity4all.org e “introduzir uma fotografia, a data e a localização, três parâmetros que já permitem fazer o registo das espécies”, bem como enviar a informação para o endereço de correio eletrónico NEMAlgarve@gmail.com.

Os pescadores e os mergulhadores, quer de caça submarina ou de garrafa, são o público-alvo desta ação, “mas qualquer cidadão pode deixar a sua contribuição na página, até porque qualquer informação é importante”, salienta o investigador.

O objetivo é saber onde se localizam e quais as espécies que surgem nas águas algarvias e que não pertencem a estes habitats.

Segundo o investigador, as espécies invasoras viajam, “muitas vezes, nas águas de lastros dos navios de transporte ou agarradas aos cascos e podem provocar alterações nos ecossistemas, já que competem com as espécies locais por alimento, podendo o seu comportamento predatório afetar a fauna local”.

João Encarnação indicou que o caranguejo azul e a abrótea americana são dois dos animais já identificados nas águas nacionais, “mas há relatos de pescadores do rio Guadiana que viram as redes completamente cheias de alforrecas não nativas e que os impedem de pescar”.

“A agressividade do caranguejo azul é também conhecido pelo seu feitio agressivo, tanto como predador, como por cortar as redes das artes de pesca, sendo prejudicial para a fauna e economia locais”, sustentou o biólogo marinho.

O investigador referiu ainda que este ano já foram reportados dois registos na zona de Portimão (distrito de Faro), de um tipo de camarão que só tinha sido avistado, há uns anos, na ria Formosa.

“É sinal de que não só estas espécies se vão instalando na região, mas como a contribuição dos cidadãos pode ser essencial”, sublinhou.

De acordo com os investigadores da Universidade do Algarve que há vários anos monitorizam as águas da costa algarvia, as alterações climáticas têm contribuído para o aparecimento de novas espécies marinhas, verificando-se que com “o aumento da temperatura das águas algumas espécies se dirigem mais para norte”.