
“Não há boa comunicação sem preparação”. Esta foi a principal ideia que a jornalista Laurinda Alves deixou ao clero do Algarve na formação que teve lugar no Centro Pastoral e Social do Algarve, em Ferragudo, no passado dia 25 de novembro.

Aquela docente de comunicação na Universidade Nova de Lisboa garantiu que “não há nenhum «improviso» que saia bem que não tenha sido preparado” e acrescentou que não preparar a homilia “pode correr bem uma vez ou outra, mas não é método”.

“O que é que o improviso faz quando não é preparado? Há muita dispersão, as pessoas demoram mais tempo a chegar àquilo que querem dizer, há uma redundância que não é a boa”, advertiu a formadora, explicando que quando isso acontece “as pessoas concetualizam, ficam mais abstratas” e “ninguém se deixa contagiar e tocar”. “O que nos toca é aquilo que é concreto, o que eu posso levar comigo, rezar e pôr em perspetiva. Tenho inteligência suficiente para perceber conceptualmente, para perceber o racional, mas se aquilo não desce da razão ao coração, eu não adiro”, alertou.

Na formação, promovida pela Diocese do Algarve, Laurinda Alves aconselhou, por isso, bispo, padres e diáconos a “falar pouco e dizer muito” para “começar bem e acabar bem”, combinando a “retórica do storytelling” com a “convencional” mais “concetual, abstrata, filosófica e poética”. “As pessoas precisam das histórias, precisam dos casos”, sustentou, considerando haver passagens bíblicas que “são dificílimas e que tem que ser bem traduzidas com metáforas”.

Para além destas e das histórias, a formadora aconselhou ainda o clero a “escolher as palavras” e a recorrer a “imagens” e a “frases-guia” para “provocar o milagre da transformação nos outros” “porque a narrativa é sempre gráfica”. “Tudo nos convoca à desatenção e, por isso, as palavras têm que ser mesmo claras, iluminantes, simples e concretas”, alertou na formação que contou com vários momentos de reflexão por grupos.

A professora de comunicação disse ainda aos formandos que, para além daqueles “ingredientes”, importa ainda juntar o de levar sempre os ouvintes a colocarem a si mesmos à questão “O que é que eu tenho a ver com isto?”.

A formadora aconselhou também a “não começar pelo que dizem as leituras”, considerando que a homilia “não é sobre os textos em si mesmos, mas sobre a vida iluminada pelos textos”.

Laurinda Alves exortou ainda cada padre a conhecer a sua assembleia e os seus paroquianos e a “dar-se a conhecer” para conseguir chegar às “pessoas que se atravessam no seu caminho, sejam crentes, descrentes, céticas ou duvidosas”. “A comunicação torna-se mais eficaz quando nos damos a conhecer”, justificou, desafiando os sacerdotes a descobrirem “qual é o estilo que mais assenta e mais convoca a sua assembleia”.
