Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Foi publicamente apresentada, no passado domingo, a Hemeroteca Digital do Algarve – hemeroteca.ualg.pt – que disponibilizará mais de 160 anos de informação impressa na região, desde 1810 até 1974, em jornais, revistas, boletins, almanaques ou folhas, entre os quais o Folha do Domingo.

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A plataforma, que reunirá mais de 400 títulos que “estavam dispersos por muitos arquivos, museus, centros de documentação e bibliotecas”, resulta de uma ideia vencedora da votação do Orçamento Participativo de Portugal de 2017, apresentada por Luís Guerreiro. O presidente da Fundação Manuel Viegas Guerreiro, falecido em 2017, desde 2014 procurava “fontes de financiamento” para a concretização do projeto, como lembrou o atual presidente da instituição, Gabriel Guerreiro Gonçalves, na sessão de apresentação que teve lugar no auditório da fundação, em Querença.

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No domingo, a coordenadora científica do projeto explicou que “mais de 70% deste acervo encontra-se na Biblioteca Nacional [de Portugal]”, entidade que no país tem a responsabilidade de coordenação de todos os projetos bibliográficos digitais. Patrícia de Jesus Palma acrescentou que o segundo maior acervo do país de jornais do Algarve está na Biblioteca Pública Municipal do Porto e que o terceiro maior repositório daquelas publicações pertence à Universidade do Algarve (UAlg), todas parceiras do projeto.

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A investigadora explicou ainda que muitos números em falta foram disponibilizados por particulares e adiantou que o projeto conta para já com 108 títulos carregados, mas até ao final da semana deverão ser 160. Patrícia Palma justificou que a disponibilização do acervo “pode ir até 1974 que, por razões de direitos de autor e financeiras, foi aquilo que se estabeleceu como limite temporal”. Aquela responsável referiu que a “Chronica do Algarve” é o primeiro jornal de língua portuguesa editado no Algarve, em 1833, mas o projeto recua até 1810, data em que é impresso na região o primeiro jornal, a “Gazeta de Ayamonte”.

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Coube à Direção Regional de Cultura do Algarve a gestão do projeto e à UAlg a sua execução. A coordenadora técnica da biblioteca da academia, que foi a coordenadora executiva do projeto, realçou que Patrícia Palma “pôs ao serviço” do mesmo “o seu trabalho de investigação de uma vida”. Salomé Horta acrescentou que a coordenação científica teve o apoio de Ana Rita Belchior, aluna bolseira da UAlg, e explicou que a universidade “abdicou de uma componente financeira que habitualmente teria num projeto financiado” para que o mesmo fosse viável.

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Também o vice-reitor da UAlg, que destacou que a hemeroteca digital conta com alojamento da instituição, considerou que o projeto vai “permitir criar um futuro cada vez mais sustentável”. “Há aqui a tentativa de, no presente, tentarmos conciliar o passado e o futuro porque o futuro não se constrói por acaso, resulta do património da memória, do conhecimento”, afirmou Saúl Neves de Jesus.

A coordenadora científica do projeto realçou-o igualmente como “recurso pedagógico” para “aprendizagem continua e para o reconhecimento” daquilo que foi o passado recente do Algarve e um “contributo fundamental para a alteração da perceção da região algarvia enquanto região pobre do ponto de vista cultural”. “Vão claramente ter uma perceção diferente sobre a realidade cultural no Algarve e das suas interações com o mundo porque o Algarve nunca foi uma região fechada sobre si. Foi sempre uma região ligada ao mundo e isso é clarinho como a água nestes textos, nestes títulos, nestes jornais”, afirmou Patrícia Palma.

Considerando que “as suas potencialidades dependem do conhecimento e da criatividade daqueles que utilizarão esta plataforma”, Patrícia Palma destacou ainda a hemeroteca como um “novo lugar cultural”, como forma de “aceder a um património bibliográfico que a maior parte da população não conhecia”, e também como um “novo lugar económico” porque permite um “acesso universal, gratuito, mas também porque acarreta novos custos e novas preocupações de preservação”. “É um novo lugar ao passado para termos um novo lugar no futuro”, concluiu.

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A secretária do Estado da Inovação e da Modernização Administrativa considerou aquele um “maravilhoso projeto, que sendo de base tecnológica tem um racional profundamente humano”. Fátima Fonseca disse ser um exemplo do que é “utilizar com inteligência e estratégia a tecnologia dispensada por pessoas para servir pessoas de forma colaborativa”.

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Já a secretária de Estado Adjunta e do Património Cultural considerou a hemeroteca um “instrumento de preservação da memória” e um “exemplo de articulação entre a cidadania e cultura” com o “desiderato da democratização” do acesso a esta última. “É um instrumento que vai permitir diminuir a distância de todos os cidadãos à informação, o acesso universal à informação que é tão importante para os nossos investigadores, para a divulgação das publicações periódicas feitas na região do Algarve por todo o país e também lá fora”, concluiu Ângela Ferreira.

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A sessão de apresentação contou ainda com a atuação do grupo ‘Esfinge’ – com Maria João Jones na voz, Bárbara Santos no violoncelo, Luís Cabecinha na guitarra, Fernando Júdice no baixo e Rúben Salamanca nas percussões –, inspirado na mitologia grega com sonoridades do mediterrâneo influenciadas pelo fado e pela música tradicional portuguesa.

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