O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) embargou os trabalhos de limpeza de um terreno no Ancão, por terem sido destruídos vários habitats naturais de flora, disse à Lusa o diretor regional daquele organismo.

De acordo com o diretor do ICNF/Algarve, Castelão Rodrigues, os trabalhos “foram embargados, na sequência de uma fiscalização”, desencadeada por alertas e protestos de moradores da zona do Ancão, que alertaram para o corte de dezenas de árvores centenárias num terreno privado.

“Os técnicos do ICNF foram verificar o que se passava e constaram que os trabalhos estavam a ser efetuados muito para além da área inicialmente indicada pelo proprietário, incidindo a intervenção em habitats de flora”, sublinhou.

De acordo com Castelão Rodrigues, a comunicação dos trabalhos para a limpeza do terreno, situado na orla costeira do concelho de Loulé e no início da zona poente da Ria Formosa, tinha sido feita ao ICNF pelo proprietário, no âmbito do Plano Municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios.

“O proprietário informou o ICNF de que a intervenção ia decorrer ao abrigo do plano, apontando o corte de alguns pinheiros mortos ou com sintomas de declínio e que não incluía espécies protegidas, como o sobreiro, a azinheira ou o azinho, o que não obriga a uma autorização do ICNF”, frisou.

Segundo Castelão Rodrigues, o que a fiscalização detetou foi que os trabalhos “estavam a ser muito mais vastos do que a informação enviada ao ICNF, nomeadamente em termos de cortes de árvores e nos habitats, em vez da limpeza abrangida pelo plano”.

A limpeza do terreno, com o corte de várias árvores, motivou protestos dos moradores da zona, que classificaram os trabalhos como “um ato criminoso contra o ambiente”.

Fátima Barros, moradora na zona do Ancão, disse à Lusa que “o abate de centenas de árvores, é um crime ambiental tremendo, numa zona onde dezenas de aves nidificam”.

“Desde abril que alertámos a Câmara de Loulé para este problema, um verdadeiro atentado ambientel, mas nada foi feito”, destacou.

Num ofício enviado no dia 16 de abril pela Câmara de Loulé a uma moradora e a que a agência Lusa teve acesso, os serviços de fiscalização autárquicos referem: “após averiguação da situação pela fiscalização municipal, apurou-se que os trabalhos em curso encontram-se devidamente licenciados pelo ICNF, pelo que se procedeu ao arquivamento do processo”.

Na segunda-feira, a Câmara de Loulé através de um comunicado, considerou que “a intervenção levada a cabo de corte massivo e indiscriminado de inúmeros pinheiros e outras árvores saudáveis de grande porte, a coberto de trabalhos de limpeza, configura um verdadeiro atentado ambiental que não pode passar impune”.

No documento, a autarquia assegurou que vai contactar o proprietário e “exigir, como medida mitigadora, a imediata replantação de espécimes de porte idêntico, em todas as áreas afetadas pela intervenção”.

O diretor do ICNF/Algarve acrescentou que os técnicos do ambiente “estão no terreno a fazer o levantamento e a avaliar os danos, para que seja instaurado um processo de contraordenação ao proprietário, e punição que pode inclui a reflorestação e reposição de árvores e de flora”.