Não é a minha primeira publicação de homenagem a “Hieronymo Osório”, que foi, Arcediago de Évora, 1560 e, duplamente, Bispo do Algarve: Silves (1564-1577) e Bispo de Faro (1577- 1580).
Como sabemos Vicentius fora o primeiro Bispo de Ossonoba – antiga cidade romana (hoje Faro), finais do século III, depois de Cristo, seguindo o Édito do Imperador Constantino, que fundara a primeira Catedral de Ossónoba-Faro, conforme se publica em “Faro – Romana. Árabe e Cristã”, edição M/C-2009. E, nesse conhecimento, o Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, o afirmou, recentemente – 2020: “Faro a primeira cidade, no tempo romano de Ossónoba, Imperador Constantino na primeira catedral. O cristianismo foi de baixo para cima, e não ao contrário”. Desde o Édito de Milão – 313, depois de Cristo. Seguindo a História e tradição do culto, onde se formou a primeira Catedral de Portugal – Faro.
O Bispo Jerónimo Osório da Fonseca, nasceu em Lisboa – 1506, vindo a falecer em Tavira – 20/08/1580. Estudou em Salamanca, Paris, Bolonha. Conheceu na Itália Sadoleto, Bembo e outros humanistas do seu tempo. Em 1537 o rei de Portugal, João III nomeou Osório, Professor da Sagrada Escritura, na Universidade de Coimbra, onde ensinou durante 3 anos.
Arcediago de Évora- 1560, Bispo do Algarve, com sede em Silves – 1564. Mais tarde, bispo de Faro – 1577. Notabilizou-se como escritor novilatino, alcançando reputação europeia. O Bispo Jerónimo foi, sem dúvida, o português do seu tempo, mais reconhecido internacionalmente, nos meios cultos, correspondendo-se com algumas das figuras intelectuais mais gradas da Europa. A circunstância de escrever excelente latim, facilitou o conhecimento da sua obra literária, numa época em que a língua latina era o idioma internacional (como hoje, é, a língua inglesa) de gente culta e universitária, nas três línguas dominantes: Inglês, Francês e alemã, tornando-se mais fácil a versão dos seus livros, sucessivamente impressos no estrangeiro, para diversos autores modernos, como Montaigne “Essais – Capítulo 14”. Dele escreveu. Montaigne: “O Bispo Osório, o melhor historiador do latino”. A qualidade do seu latim foi motivo de admiração, inveja e controvérsia em Inglaterra, entre humanistas da Universidade de Cambridge. Colaboradores na Reforma da rainha Isabel I, como W. Haddon, travando polémica, quando, publicamente, Osório aconselhou a soberana a voltar à Igreja Católica – 1562.
Foi um Português invulgar, percorrendo a Europa avançada, no tempo. Temos o registo europeu das suas notáveis edições: Paris, Genebra, etc. no qual distinguimos a notável “Histoire du Portugal”, contendo as grandes navegações, as conquistas da Índia Oriental, etc. Um conjunto de 20 livros, editados pelos Impressores: François Etienne et Antoine Chuppin = 1541. Livro importante, com versão do latim em francês, numa tradução por Simon Goulart de Senlis: “De rebus Emmanuelis Gentis”. Não se trata de uma edição extremamente rara, embora não seja vulgar. Como livro fundador da cultura histórica europeia, que teve o mérito de ser uma das leituras de Montaigne, leitor de Osório pela edição latina de Colónia, 1574, como o exemplar que existe na Biblioteca Nacional de Paris, com o autógrafo de Montaigne, in ex libris.
Quando, em 1577, deixara Silves para assumir a diocese de Faro, um cargo difícil. Lá chegou à “nóvel” de Faro com a responsabilidade da nova Diocese, numa sexta-feira Santa, e num período de política nacional muito conturbada pelas influências políticas e palacianas de Filipe de Espanha em assumir o reino de Portugal, numa ocupação a sangre y estocada. Seria demasiado longo entrar nesse triste capítulo da nossa história. O novo Bispo, depois do longo espaço vazio entre o Vicentus, que foi o primeiro bispo in temps roman, da nossa diocese. Em que há duas situações de religião cristã: A de Ossónoba romana, a primeira em Portugal no século II. Até que a conquista Silves aos árabes se concretize, século XII, em 1189, pelo rei de Portugal, Sancho 1, apoiado por uma frota de cruzados, transformando a Mesquita em Sé católica, tendo como primeiro bispo, o agostinho Nicolau, numa concretização papal. Os papas vão falecendo, até que a ambição de Castela deixe o reino do Algarve, para os portugueses, pelo Tratado de Badajoz -1266, reinado de rei Diniz, filho do conquistador do Algarve, Afonso III – 1249.
Vêm os tempos conturbados na segurança do reino português, nesse final do século XVI. Por isso mesmo, o filho do imperador Carlos V, que preparara, até ao fim da sua vida, esse “sonho” da ocupação do reino de Portugal, nessa situação de reino dividido. O bispo, Jerónimo Osório Fonseca, designado bispo do Algarve, pelo rei João III, passou pela defesa da continuidade do reino de Portugal. Desloca se a Tavira a evitar sangue derramado, pela situação em que a cidade, vivia politicamente, como se julgou, num partidarismo duvidoso… Osório veio a falecer, segundo se afirma, por uma queda, ou não, na cidade de Tavira, no dia 20 de Agosto de 1580, há 440 anos. Nessa missão diplomática e de esclarecimento público e político… e de apaziguamento e de continuidade da Terra Portuguesa, em perigo de independência, como viria a verificar-se. Ficou sepultado no Convento de S. Francisco, em Tavira. Em meados do século XVII, em período de Restauração, regressaram os restos mortais a Faro, sendo depositado no Panteão dos Bispos, na catedral de Faro, por diligência do bispo de Faro, Francisco Barreto.
Foi Jerónimo Osório reconhecido pelo seu prestígio de Homem Europeu, figura notável do século XVI. Certamente nessa continuidade das grandes figuras diferentes, cultas, de admiração de toda a Europa, no tempo cristão. E, se, repararmos, nesta mentalidade portuguesa do nada, é naturalmente esquecer o que importa lembrar. SILVES, FARO, PORTUGAL, têm essa responsabilidade, pelo olvido de séculos.
Os últimos anos da vida de Jerónimo Osório foram amargurados por questões com o poder civil, nas Dioceses do Algarve, e pela previsão desastrosa resultando da aventura africana do jovem rei Sebastião, que desaconselhou, o jovem rei, em correspondência do Algarve, a desistir dessa “Aventura” e de perda nacional. O jovem-moço-real, passou pelo Algarve, numa acompanha de angariações, para a guerra. Muitas opiniões. Mas o jovem-rei foi empurrado por forças ibéricas e poderosas e não só… E aconteceu, o que o aconteceu. O insigne Bispo Pensador, Intelectual, que antevia o perigo da perda da nacionalidade. O bispo, no tempo de Faro, em tempos controversos, visita Tavira, a antiga vila que rei Manuel o “Venturoso” havia elevado à categoria de cidade… Uma cidade de nobreza provinciana. Cidade de peso político e económico, para o tempo!
Jerónimo Osório Fonseca, a figura notável do latim europeu e do cristianismo cultural pela Europa, no seu tempo, como Luiz Vaz de Camões, no mesmo século maior da Cultura Portuguesa, passou pelo esquecimento… Tempos brilhantes e de cinza para entre outros vultos científicos e culturais. Por que não recordá-los, em século tão brilhante do manuelismo ao joanino renascentista, e tão nefasto para os Homens da glória cultural Portuguesa do século XVI. Como se publica e se confirma.
Inesperadamente, surgiram duas pinturas, ditas e apreciadas e consideradas como sendo do Bispo Jerónimo Osório, que fora Bispo de Silves – Faro… e cidadão notável de Português Europeu. Falta um reconhecimento ao Património “escondido ou ignorado”, para mais de quatro séculos… O Bispo Jerónimo merece ser apresentado à comunidade Algarvia, pelo menos… no pictórico surgido e apresentado. É um orgulho nessa surpresa.