Os símbolos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) estiveram hoje presentes na Universidade do Algarve (UAlg), de manhã no Campus da Penha e de tarde no Campus de Gambelas.

Ao longo do dia, cruz e ícone mariano, foram colocados em locais visíveis e de passagem, tendo sido colocada uma mesa com material informativo sobre a JMJ que terá lugar em Lisboa em 2023. Muitos alunos transeuntes, mas também alguns professores e funcionários, mostraram curiosidade em saber do que se tratava e alguns, na sua maioria católicos, já sabiam que a capital portuguesa acolherá pela primeira vez o encontro mundial da juventude com o Papa, entre 1 e 6 de agosto daquele ano. Outros foram interpelados pelos seus colegas, voluntários da Capelania da UAlg, que distribuíram ‘flyers’ em língua portuguesa e inglesa e marcadores informativos.

Alexino Bagine, aluno do primeiro ano de Economia na faculdade respetiva, é natural da Guiné, católico, mas disse ao Folha do Domingo que não conhecia as JMJ. À procura de se integrar na comunidade católica algarvia, aquele jovem acrescentou que agora, depois de informado, espera participar na JMJ de Lisboa.

Já Mariana Madeira, estudante de ciências biomédicas, algarvia e pertencente à paróquia de Pêra, disse esperar participar no evento.

Quem também espera participar é Marília Agostinho. A jovem trabalha nas relações internacionais da UAlg, é brasileira e participou em vários eventos das pré-jornadas do Rio de Janeiro que tiveram lugar em 2013 no seu país. Na altura, ainda menor de idade, precisava da autorização dos pais para a participar na jornada propriamente dita e diz que por isso acabou por não se inscrever. Agora mostra-se impelida a participar.
Já Luís Carlos Goulart, açoriano, aluno do terceiro ano de Biotecnologia, é católico e já tinha conhecia as JMJ, mas disse que não espera participar na edição de Lisboa.

Ana Paula Santos, funcionária no Instituto Superior de Engenharia, garante que a visita dos símbolos da JMJ não era do conhecimento da maioria dos funcionários da sua unidade, assegurou que muitos desconhecem mesmo o que é uma JMJ e concordou que a presença ali daqueles símbolos poderá ajudar a conhecer melhor o evento.
Rodrigo Soares, mestrando em Gestão de Marketing e membro da Capelania da UAlg, reconheceu que entre a comunidade académica “não há uma ideia clara do que é uma JMJ”. “Acredito que nesta caminhada que agora começámos em Portugal ainda temos muito caminho a percorrer até essa informação chegar a todos”, afirmou, considerando que a presença dos símbolos na universidade procurou tentar “que cada um se sinta parte deste encontro e desta caminhada”. “Que cada um, a quem consigamos falar, distribuir um ‘flyer’, dizer-lhe que isto vai acontecer, se sinta tocado e parte da jornada. Isto é algo a que não podemos ficar indiferentes porque vai tocar a todos e mexer com o país”, sustentou.

Aquele jovem explicou ainda ao Folha do Domingo que a Capelania tem recebido pedidos por parte de estudantes de outras religiões que querem perceber se aquele organismo “pode ser um espaço de acolhimento para todos”. “Sendo a JMJ de base católica, mas que acolhe os jovens de todo o mundo, queremos chegar também a esta comunidade estrangeira que tem crescido na nossa universidade”, acrescentou.
Também a professora de literatura Ana Isabel Soares, da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, destacou a JMJ como espaço de encontro intercultural e a universidade como “lugar da tolerância, da diversidade e abertura”. “As jornadas são um acontecimento ecuménico também. E a universidade é o lugar para se encontrar jovens de todo o tipo de credos e, nesse sentido, acho que é muito bom que os símbolos estejam aqui”, afirmou aquela docente que também pertence à Capelania.

“Além dos lugares de culto tradicionais, pensar que estes símbolos refletem mais do que esse culto apenas – refletem uma ação, uma atitude que se prolonga para lá da nossa fé – é uma ação muito positiva, que procura envolver a comunidade e esta é das comunidades que deveriam estar mais atentas a esse tipo de necessidade e de urgência – a da união, compreensão, compaixão – que são as mensagens que estão por detrás destes símbolos”, prosseguiu.
O capelão da UAlg considerou que a reitoria “está de parabéns por esta abertura à diversidade cultural” ao permitir a passagem dos símbolos pela academia e considerou que a sua presença numa escola do ensino superior é “pedagogicamente relevante”. “Quando quiseram pôr fora os símbolos religiosos não se aperceberam que estavam a pôr em causa as raízes da própria cultura do país”, afirmou o cónego Carlos César Chantre, considerando “um sectarismo fingir que a religião não faz parte da cultura do povo”.

“Assim como há símbolos políticos, símbolos nacionais, símbolos desportistas, símbolos das várias instituições, também há símbolos religiosos”, constatou, considerando haver “preconceitos” que “são anticultura”.
O capelão defendeu assim que aqueles símbolos da JMJ trouxeram consigo a mensagem da “humanização da cultura” e da “humanização da ciência”. “Aliás, a JMJ é precisamente para despertar os jovens que são a geração do presente e do futuro para olhar para estas coisas com menos preconceito”, referiu.

Aquele responsável adiantou ainda que ao “ponto de partida” de hoje seguir-se-á um encontro sobre a JMJ que está a ser programado para dentro de algumas semanas.
A UAlg conta com cerca de 8000 estudantes. Mais de um quinto dos alunos são estrangeiros, o que a torna na instituição com maior percentagem de estudantes não nacionais no ensino superior português, atualmente com 86 nacionalidades, sendo o Brasil o país com maior representatividade.
A Cruz da JMJ foi entregue pelo Papa João Paulo II aos jovens em abril de 1984 e marcou o início de uma peregrinação da juventude de todo o mundo; em 2000, o mesmo pontífice confiou aos jovens uma cópia do ícone de Nossa Senhora ‘Maria Salus Populi Romani’.