
Largas centenas de ucranianos de todo o Algarve concentraram-se ontem em mais uma manifestação contra a invasão russa no seu país.


A iniciativa, que foi novamente organizada pela Associação dos Ucranianos no Algarve (AUA) e teve lugar à tarde no largo do Mercado Municipal de Faro, serviu para entoar o grito do pedido de ajuda àquele país da Europa que está a ser atacado.


Na sua emotiva intervenção, Natalia Borysenkovua apelou aos Estados europeus para que encontrem “uma maneira de parar a guerra porque a Ucrânia não pode esperar”. “Putin está a quebrar todas as regras, a justiça”, afirmou aquela diretora do Centro Educativo e Cultural Luso-Ucraniano “Escola Tarás Shevtchenko” e membro da AUA que vive no Algarve há cerca de 20 anos.


“Compreendo que não tenhamos direito à ajuda militar da NATO, mas temos de abrir os cérebros políticos. Primeiro Ucrânia, depois a Polónia, Finlândia, Hungria. Ele não vai parar”, defendeu, considerando que se a força militar ucraniana for ajudada com armas, não precisarão de outra ajuda. “O nosso exército tem muita coragem, muita firmeza. Os cidadãos juntam-se nas ruas em grupos de defesa civil territorial, as mulheres fazem ‘cocktails molotov’ e os jovens juntam-se para retirar a identificação das ruas e destruir as marcações russas para os bombardeamentos”, contou.


Muitos dos participantes na manifestação de ontem levaram sacos com roupa, cobertores e mantimentos para os refugiados, que aquela responsável agradeceu. No entanto, Natalia Borysenkovua considerou que essa ajuda não chega. “Vamos fazer esta corrente de ajuda humanitária, recolher dinheiro”, apelou, acrescentando haver empresários do Algarve que contactam a associação porque querem ajudar.


No final da manifestação, os bens doados “espontaneamente” foram recolhidos num armazém cedido para o efeito por um estabelecimento comercial para serem enviados para os deslocados na região oeste da Ucrânia.
Oleksandra Tynkayuk explicou, em declarações à Agência Ecclesia, que há também quem ofereça transportes para fazer chegar aqueles bens aos refugiados. “Todo o mundo está unido à Ucrânia. Vê-se que o mundo inteiro está do lado da Ucrânia porque está do lado da verdade. O povo ucraniano tem sido destruído. Há 300 anos que o povo ucraniano é massacrado pelos russos. Essa é a verdade”, afirmou aquela empresária ucraniana a viver no Algarve, acrescentando que “a Ucrânia já está há oito anos em guerra”.


Oleksandra considera que “a comunidade Internacional ajuda com aquilo que pode”. “Essa ajuda já é preciosa”, afirmou, acrescentando que “se o povo russo se organizar, poderá ser um povo livre”. “Sei que há pessoas inteligentes e que querem viver livremente num país democrático. Eles vão ajudar-nos. Infelizmente há muito medo por detrás daquilo tudo”, prosseguiu.
Aquela imigrante contou ainda que há familiares de ucranianos no Algarve, mulheres com crianças, que “estão neste momento na fronteira com a Roménia à espera numa fila” para conseguir sair da Ucrânia. “Infelizmente há famílias que querem vir, mas já não conseguem sair de Kiev porque as estradas são bombardeadas”, lamentou.

Oleksandra acrescentou que vão ser recolhidas assinaturas para um abaixo-assinado que será entregue aos presidentes de câmaras algarvias para se conseguir ajuda mais concreta. “Vários representantes das câmaras municipais do Algarve estão dispostos a ajudar e outras organizações a doar medicamentos, médicos e enfermeiros para os refugiados que vão necessitar dessa ajuda”, garantiu.
Oleksandra adiantou ainda que deverão ser criados, não só em Faro, mas também Albufeira, Almancil, Loulé, Quarteira e Tavira, centros de recolha da ajuda humanitária que estão a receber todos os dias. A associação está com necessidade de espaços em Faro para armazenar estes bens, mas por enquanto, poderão ser entregues na delegação regional do Instituto Português do Desporto e Juventude, junto ao jardim da Alameda.
A AUA divulgou, entretanto, nas redes sociais, a lista de bens mais necessários neste momento. Entre eles estão os medicamentos e produtos médicos, como material de primeiros-socorros, desinfetantes, cremes cicatrizantes, analgésicos, medicação gástrica, renal, cardíaca, álcool etílico, mascaras descartáveis, garrotes, sistemas de transfusão de sangue, cobertores de resgate, luvas descartáveis e seringas. Para além destes são também precisos alimentos não perecíveis, como atum em lata e outros enlatados, chocolate, bolachas, chá e café (em saquetas), barras energéticas; produtos de higiene, como toalhitas e demais produtos de higiene pessoal; e também meias, roupa interior, roupa interior térmica, lanternas, lanternas de cabeça, esteiras de campismo, sacos-cama, canecas térmicas, mantas e powerbanks.
com Henrique Matos e João Gralha/Agência Ecclesia
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