Foi ontem inaugurado, no Dia do Município de Lagos, o busto do cardeal D. José Sebastião d’Almeida Neto que era natural daquela cidade e que foi patriarca de Lisboa.

A obra, de autoria do escultor Tolentino Abegoaria, foi descerrada depois da Eucaristia celebrada na igreja se Santa Maria em honra de São Gonçalo de Lagos, presidida pelo bispo do Algarve, D. Manuel Quintas.

O historiador José António Martins, coordenador do processo de homenagem ao antigo cardeal, lembrou ter sido o falecido José Paulo Borba o impulsionador da iniciativa e que a localização do busto – dentro do gradeamento no adro da igreja de Santa Maria – se deveu ao padre Abílio Almeida, antigo pároco. Aquele investigador lembrou que D. José Sebastião d’ Almeida Neto nasceu no dia 8 de fevereiro de 1841 naquela freguesia de Santa Maria, na antiga Rua das Freiras, que hoje tem o nome de Cardeal Neto, e faleceu a 7 de dezembro de 1920 com 79 anos.
Frequentou o Seminário da Diocese do Algarve, tendo sido ordenado presbítero no dia 1de abril de 1865. Em 17 de agosto do mesmo ano foi nomeado coadjutor do pároco da freguesia de Boliqueime, tendo sido nomeado como seu pároco no ano de 1873, mantendo-se até 1875.
Tornou-se religioso franciscano em 1875. Foi nomeado bispo de Angola e Congo em 1879, depois patriarca de Lisboa em 1883, par do Reino e cardeal em 1884. Foi também capelão da Casa Real, presidindo ao casamento de D. Carlos com D. Amélia em 1886, às cerimónias fúnebres do rei D. Luís I em 1889 e orientando a educação religiosa dos príncipes D. Luís Filipe e D. Manuel.
Resignou ao cargo em 1907, tendo regressado aos franciscanos. Com a implantação da República em 1910 foi preso, tendo saído de Portugal posteriormente, estabelecendo-se no Convento de Vilarinho da Ramalhosa, na Galiza (Espanha), onde faleceu em 1920. Em 28 de abril de 1928 foi trasladado para o Panteão dos Patriarcas de Lisboa, no mosteiro de São Vicente de Fora.
“D. José Sebastião Neto deu grande atenção ao comportamento e formação do clero e à celebração dos cultos, incentivando a prática das reuniões episcopais anuais e defendendo as ordens religiosas”, acrescentou José António Martins, acrescentando que no seu brasão de armas se inclui a inscrição “Só a Deus, toda a Honra e Glória”.
Na sessão de inauguração, o bispo do Algarve disse admirar no homenageado a “inquietação, aos 35 anos, que fez dele franciscano”. “Não era difícil reconhecer-lhe as qualidades. Penso que era uma pessoa com uma riqueza muito grande ao nível de qualidades, de temperamento, de caráter, que pôs ao serviço da Igreja”, afirmou D. Manuel Quintas, considerando que a resignação “também acentua o seu desprendimento” em relação ao título de cardeal-patriarca. “Retirou-se novamente para os franciscanos para retomar a sua vida de simplicidade, humildade, oração, serviço à Igreja”, destacou.
Também o pároco de Lagos considerou o cardeal como um “homem inquieto”.
O padre Nelson Rodrigues realçou São Gonçalo de Lagos, que ontem se celebrou como padroeiro da cidade, e o cardeal José Neto “dois lacobrigenses que se destacam como filhos” da igreja de Santa Maria. “Acabam por ser referências para nós porque ultrapassaram os limites da cidade de Lagos com uma visibilidade nacional ou internacional”, afirmou.
O sacerdote disse que o cardeal era “um homem bom, puro e humilde” e encontro aí outro ponto de semelhança com o patrono da cidade. “A humildade é aquilo que encontro em comum no Cardeal Neto e em São Gonçalo de Lagos”, salientou, considerando que um lacobrigense, um filho daquela paróquia e daquela terra “ao olhar para ambos pode ter aqui, certamente, referências muito boas de como viver a sua vida cristã”.
O presidente da Câmara de Lagos, Hugo Pereira, considerou que a autarquia “acabou por fazer foi o mais fácil e o mais simples”: “associar-se à ideia e ajudar naquilo que foi possível”.

A peça em bronze de homenagem ao cardeal, representado com chapéu cardinalício, que era muito evidente na época em que viveu, pesa cerca de 70 quilos.