Os bispos portugueses, reunidos hoje em Assembleia Plenária Extraordinária da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), anunciaram a criação de “um grupo específico, que será articulado com a Equipa de Coordenação Nacional das Comissões Diocesanas de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis”, para “continuar a dar voz” às vítimas de abusos “para que o seu sofrimento não fique calado”.

A decisão está a ser anunciada na conferência de imprensa a decorrer na Casa de Nossa Senhora das Dores, em Fátima, após um dia dedicado, exclusivamente, à análise do relatório final da Comissão Independente para o estudo dos abusos sexuais.

“Vinte dias depois da apresentação do relatório final da Comissão, é também ao encontro das vítimas que queremos ir. É a elas que queremos continuar a dar voz para que o seu sofrimento não fique calado”, refere o comunicado final da CEP, acrescentando “uma palavra de coragem a todas as vítimas que ainda guardam a dor no íntimo do seu coração para que possam «dar voz ao silêncio»”.

Os bispos determinam que a Equipa de Coordenação Nacional e as Comissões Diocesanas “sejam constituídas apenas por leigos competentes nas mais diversas áreas de atuação, podendo ter um assistente eclesiástico”. “São valiosas estruturas da Igreja em Portugal, agora mais aptas a responder à problemática dos abusos de menores, nomeadamente no que respeita à prevenção, formação e acompanhamento, contribuindo assim para um ambiente seguro nos espaços eclesiais”, referem.

A CEP acrescenta que “as estruturas já existentes, criadas em cada diocese e a nível nacional, serão o local para acolher e acompanhar, e as dioceses assumem o firme compromisso de dar todas as ajudas necessárias para que tal aconteça”. “As feridas infligidas às vítimas são irreparáveis. Garantimos que, se o desejarem, terão o nosso acolhimento e disponibilizaremos o devido acompanhamento espiritual, psicológico e psiquiátrico. Nunca enjeitaremos as nossas responsabilidades e comprometemo-nos ainda a encetar contactos com as instituições que já estão no terreno, para sermos parte da resolução desta problemática que é transversal a toda a sociedade”, refere ainda o documento.

Os bispos portugueses garantem que “a lista com o nome dos alegados abusadores, hoje entregue pela Comissão Independente ao Presidente da CEP e dirigida às Dioceses e aos Institutos de Vida Consagrada, terá o devido seguimento por parte dos Bispos Diocesanos e Superiores Maiores segundo as normas canónicas e civis em vigor”.

A CEP anuncia ainda que procederá “à revisão das Diretrizes da Conferência Episcopal e dos planos de formação dos seminários e de outras instituições, bem como a conveniente preparação de todos os agentes pastorais”. “As conclusões e sugestões apresentadas estão a ser tidas em conta e faremos tudo o que for necessário, com firmeza, clareza e determinação, para uma cultura de cuidado e proteção dos menores e adultos vulneráveis”, acrescenta.

Pedindo novamente “perdão a todas as vítimas”, os bispos anunciam ainda “um gesto público no próximo mês de abril”, em Fátima, no decorrer da próxima Assembleia Plenária e a realização de “um memorial no decorrer da Jornada Mundial da Juventude e perpetuado, posteriormente, num espaço exterior” da CEP.

A CEP manifesta “«tolerância zero» para com todos os abusadores e para com aqueles que, de alguma forma, ocultaram os abusos praticados dentro da Igreja Católica” e reconhece “a necessidade de estruturas concretas para o seu acompanhamento espiritual, pastoral e terapêutico”.

O comunicado manifesta ainda “proximidade e encorajamento” “a todos os fiéis e sacerdotes que servem a Igreja e que neste momento sofrem com os impactos deste estudo”, “na esperança de que estas circunstâncias nos estimulem à renovação da própria Igreja”.