O bispo do Algarve enalteceu este domingo o papel da mulher no mundo, na sociedade e na Igreja à imagem das mulheres que acompanharam Jesus, permanecendo fiéis até na hora da sua morte. 

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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D. Manuel Quintas, que presidiu em Faro à procissão do Senhor Jesus dos Passos por algumas das ruas da baixa, lembrou que “à medida que Jesus vai para a cruz, os apóstolos afastam-se e as mulheres que os acompanhavam aproximam-se, estão junto à cruz até ao fim, sem traições, sem negações, sem abandonos”. “Não foi uma mulher que o negou, nem que o traiu, mas foi uma das que acompanhavam os seus passos dolorosos que lhe limpou o rosto. Foram ainda as mulheres que foram ao sepulcro e que o reconheceram na manhã de Páscoa. Nisto se manifesta a sua diferença e a sua riqueza que vemos presente em Maria. É esta diferença que enriquece o mundo, a sociedade, a Igreja”, afirmou. 

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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O responsável católico disse ainda que “pela sensibilidade feminina, pela dedicação e entrega, a mulher, à imagem de Maria, é vocacionada para estar ao lado dos que sofrem, com misericórdia e com ternura, limpando as chagas de tantos e de tantas crianças, adultos e idosos, enredados em teias de abusos a todos os níveis, de exploração, solidão e dor”. “Estar de pé junto à cruz é acolher no coração os gritos da humanidade sofredora de todos os que precisam de ser acolhidos, respeitados, dignificados e amados”, considerou D. Manuel Quintas, lembrando que “hoje há tanta gente, marcada pelo sofrimento que percorre os passos dolorosos das suas vidas, gente que sofre ao perto e ao longe as atrocidades e consequências de uma guerra inqualificável, gente que sofre as consequências do aumento dos bens de primeira necessidade, bem como a insuficiência do apoio social e da proteção da saúde e é sempre a mulher e mãe que dá a cara”. 

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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No sermão que encerrou a procissão, o bispo do Algarve acrescentou que quando “o ordenado ou a reforma ou subsídio não chegam para a água, para a luz, para a renda, para a farmácia, para o aumento do custo de vida, para a satisfação dos compromissos bancários” “é sempre outra mulher ou um grupo de mulheres que, voluntariamente, acolhem esta cruz e dão resposta de ressurreição nos projetos sociais, nas organizações de voluntariado, Cáritas, grupos sociocaritativos, Banco Alimentar, refeitórios sociais, cabazes entregues ao domicílio” e em “tantas e tantas formas de ajuda e apoio”. 

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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D. Manuel Quintas considerou que “há sempre mulheres que inventam respostas, servindo os outros”. “Onde está uma mulher sofredora, está outra mulher com um projeto de esperança. É esta a vocação da mulher cristã: gastar-se pelos outros sem esperar reconhecimento algum, com o único objetivo de minorar o sofrimento de quem sofre”, afirmou. 

O bispo diocesano disse ainda que “Maria constitui para todos testemunho e exemplo de mulher crente que está junto à cruz, que ama, que inclui nas suas lágrimas as lágrimas dos que hoje choram, as lágrimas de todos os tempos”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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D. Manuel Quintas afirmou que “hoje Jesus continua a ser crucificado”. “Mudam os pregos, mudam os verdugos, a cruz adquire muitas formas e nomes, mas a vítima continua a ser a mesma”, lamentou, considerando que “Cristo continua a ser crucificado e a agonizar em tantos pobres, oprimidos e injustiçados” deste tempo. 

“Hoje Jesus continua a percorrer os passos dolorosos da humanidade, solidário com todos os crucificados do mundo, os que são vítimas de todas as formas de violência — verbal, ideológica, física — os ofendidos nos seus direitos e na sua dignidade, os que são vitimas de todas as formas de violação, os que se vêm obrigados a deixar a própria terra, a própria família, a própria cultura em busca de um futuro melhor, os que são vítimas de tantas formas de sofrimento e de morte nas próprias casas, no trabalho, nas ruas, nas estradas, nas escolas, aumentando sempre mais o peso da cruz de Cristo”, referiu, acrescentando que Jesus “solidariza-se com todos os crucificados deste mundo, rompendo a lógica do sofrimento com a força do amor”. 

A procissão foi precedida pela celebração da Eucaristia na igreja matriz de São Pedro, a que D. Manuel Quintas também presidiu.