Projeto tem sido feito com voluntariado e este fim de semana decorrerá mais uma etapa para a qual são necessários muitos ajudantes

Está a acontecer uma autêntica revolução no espaço envolvente à Casa de Retiros da Diocese do Algarve, em São Lourenço do Palmeiral, na união de freguesias de Alcantarilha e Pêra.

Casa_retiros_s_lourenco_trabalhos_terreno-1Desde 2019/2020 que a programação anual da Casa de Retiros de Nossa Senhora do Rosário – promovida pela comunidade algarvia dos sacerdotes da Companhia de Jesus (jesuítas), que assume também a sua administração em colaboração com a diocese algarvia – contempla a designada atividade “Trabalhos na Quinta”. No entanto, com a vinda em fevereiro de 2022 do jesuíta padre Gonçalo Machado para a diocese, o trabalho ganhou novo impulso no final do ano passado, após os trabalhos de limpeza e desmatamento iniciados em anos anteriores.

Casa_retiros_s_lourenco_trabalhos_terreno-3Casa_retiros_s_lourenco_trabalhos_terreno-2O terreno, com cerca de um hectare e meio, está a ser completamente modificado. “A mudança passa por transformar agora esse espaço inútil num jardim agradável, de modo que as pessoas possam passear, refletir na vida, e parar do ritmo acelerado da vida”, refere a administração da casa, acrescentando que “assim a Casa de Retiros conseguirá gerar mais impacto e transformação social”. “Esta solução beneficiará não só as pessoas, na qualidade das suas atividades formativas espirituais e humanas, mas também a autossustentabilidade financeira da mesma, ao favorecer o seu uso como casa de férias durante o período de verão”.

Casa_retiros_s_lourenco_trabalhos_terreno-8Os responsáveis explicam ainda que o jardim que está a ser feito – deixando de parte “as formas e os métodos clássicos” para “desenvolver algo realmente amigo do ambiente e ao mesmo tempo provocador e inspirador a tantos utilizadores do seu espaço” – ajudará a promover “a fé e a reflexão”. “Tendo como pano de fundo, os mais recentes desafios da humanidade como a crise ecológica, os desequilíbrios dos ecossistemas e vários documentos da Igreja sobre temas de Eco Teologia, Justiça e Ética Ecológica e Social, e do Papa Francisco sobre o cuidado da Casa Comum, como a Carta Encíclica Laudato Si, leva-nos a pretender construir e disponibilizar às pessoas um jardim que seja verdadeiramente diferente e disruptivo, assente num paradigma do futuro, que desafie, inspire e ponha em ação o que muitas vezes fica por intenções ou discursos, ou pequenas práticas domésticas, como a separação do lixo ou a poupança de água”, desenvolvem.

Casa_retiros_s_lourenco_trabalhos_terreno-2Casa_retiros_s_lourenco_trabalhos_terreno-3A administração da casa acrescenta pretender “dar toda uma nova conceção, linguagem e configuração ao jardim, transformando um lugar inóspito numa zona verde maravilhosa e despertar o interesse e a consciência social”. “Pretende-se promover, estimular, sensibilizar, a consciência para uma relação justa e equilibrada, que promova a reconciliação do homem com o Criador e com a criação. Restaurar a relação entre o homem e a natureza, cada vez mais danificada, em prejuízo do ecossistema, do futuro do planeta e do futuro dos nossos filhos. Provocar uma nova leitura da realidade, mais fecunda e inspiradora de boas práticas. Que convide e leve a um olhar renovado sobre o mundo e converta a um habitar mais ético”, prossegue.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Casa_retiros_s_lourenco_trabalhos_terreno-6Assim sendo, o jardim será “ecológico”, “atento à problemática da água, recorrendo a espécies autóctones, resistentes à secura, promovendo o armazenamento da água das chuvas e melhorando a infiltração de água no solo”. Pretende-se “ir além do discurso da água e da separação do lixo, através de fomento da biodiversidade; a proteção e desenvolvimento da flora e fauna local; o respeito pelos ritmos e ciclos; a prática de mulching [aplicação de matéria vegetal triturada ou outro material como camada solta sobre o solo]; a poupança e uso inteligente da água de rega; a recolha e aproveitamento das águas pluviais e residuais; menos desgaste do solo e dos recursos naturais; maior conservação dos organismos vivos e ecossistemas vivos; redução do consumo de energia nas máquinas de manutenção; maior qualidade do ar pela captação de Co2”.Casa_retiros_s_lourenco_trabalhos_terreno-4

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Casa_retiros_s_lourenco_trabalhos_terreno-1Casa_retiros_s_lourenco_trabalhos_terreno-7O jardim será também “sustentável” porque implicará um “menor custo de instalação e manutenção”, a “redução e equilíbrio da intervenção humana”, “boas práticas”, “recurso a energia solar para iluminação noturna”, “interligações” com “a Igreja, os outros e o espaço, numa Ecologia Integral sustentável e saudável” e uma “preferência por opções naturais, menos nocivas e mais económicas”, procurando “evitar o uso de produtos químicos e artificiais”.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O jardim será igualmente um espaço de “contemplação”, contribuindo para a “finalidade da casa”: “ligação do homem a Deus, ao Criador e à Sua criação”. “Sendo uma Casa de Retiros, o jardim torna-se num espaço por excelência para rezar” e para “ligar a Deus através da Natureza”, fomentando a “transformação e provocação social”, o “respeito pela paisagem local e o seu enquadramento”, refere a memória descritiva do projeto.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Será igualmente um espaço “comunitário”, que “possa ser sonhado e construído em comunidade”, e “high-tech digital”, “interativo através de APP [aplicativo para dispositivos móveis]” para a “identificação de plantas e aves”, para o “controlo de rega e cortes de erva automatizado”, com “programas de manutenção inteligentes”, mas também com “ações de voluntariado”.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Casa_retiros_s_lourenco_obras_terreno-12Terá também em conta a “produção”, “ajudando a entrar nos ciclos da natureza, a saber esperar pelos frutos, pelas estações, pela semente que germina”. “Poder comer localmente o que se possa produzir numa horta, num pomar ou numa área de ervas aromáticas” são algumas das ideias previstas.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Depois de retiradas inúmeras árvores mortas, feitas as podas a outras, transplantadas outras tantas e da limpeza e preparação do terreno, procedeu-se à demolição de uma antiga pocilga e galinheiro, ao restauro do depósito de água existente, incluindo a instalação de uma nova bomba para dar pressão à água da rega e à abertura de valas para eletricidade e canalização de diversos pontos de irrigação que também foram criados. O furo existente, com 60 metros de profundidade, também recebeu um novo motor, tendo a sua água sido canalizada para aquela cisterna, e o poço existente com 30 metros de fundo foi recuperado.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Foi ainda recuperada a antiga eira e criados espaços de lazer e descanso, entre outros que ainda serão construídos, e estão também a ser concebidos caminhos. Foram também pintados os muretes, mudada a imagem de Nossa Senhora e dos pastorinhos de Fátima para outra área do terreno e delimitado o espaço para estacionamento.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

À reportagem do Folha do Domingo, o padre Gonçalo Machado explicou que o trabalho destes últimos seis meses tem sido feito praticamente todo com recurso a voluntários, a material oferecido e ao empréstimo de maquinaria. A Câmara de Silves ofereceu 100 toneladas de pó de pedra para os caminhos e a Câmara de Portimão e o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas ofereceram plantas.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O projeto conta com o serviço voluntário de quatro arquitetos – Joana Figueiredo, Jorge Guerreiro, José Brito e Teresa Valente –, os dois primeiros paisagistas, e de dois engenheiros: António Miranda, do Golfe da Penina, e Carlos Faria. A lista de apoios e donativos, para além de apoio técnico e consultoria de arquitetura paisagista, inclui ainda inúmeros serviços com maquinaria pesada, oferta de equipamento e material de muitas empresas, do Corpo Nacional de Escutas e de alguns particulares.

Nos dias 3 e 31 de julho, o projeto contará com o apoio de 100 voluntários do Pingo Doce (50 de manhã e 50 à tarde) que ajudarão a completar a vedação do terreno.

O padre Gonçalo Machado adverte, no entanto, que são necessários muitos mais, nomeadamente para o este fim de semana de 27 e 28 de maio. As inscrições ainda poderão ser feitas através do número 919153824.

O sacerdote, natural de Leça da Palmeira, concelho de Matosinhos, é formado em agropecuária, mas trabalhou durante 10 anos em jardins, de Mogadouro a Santarém, numa empresa criada por si, antes de decidir entrar no Seminário.