O padre José Pinheiro, sacerdote da Diocese de Setúbal e assistente nacional da ACEGE – Associação Cristã de Empresários e Gestores do Algarve desde 2020, veio ao Algarve refletir com os seus associados sobre o tema da santidade e o caminho para a mesma que pode e deve ser feito no contexto empresarial. Em entrevista ao Folha do Domingo, aquele responsável explica a importância do projeto ‘Cristo na Empresa’, refere-se ao desafio que tem sido a assistência nacional da associação e aborda ainda o “dever” dos empresários cristãos em relação à inclusão da pessoa com deficiência. Entrevista conduzida por Samuel Mendonça

O projeto Cristo na Empresa já tem cinco grupos no Algarve e mais dois em perspetiva de formação. Este é um projeto estruturante da própria ACEGE?
Exato. A associação tem esta missão de ser uma presença da Igreja no mundo dos empresários, dos líderes e dos gestores. O ‘Cristo na Empresa’ veio concretizar, de uma forma muito eficaz nos dias de hoje, esta missão da ACEGE porque chega aos empresários, criando pequenas comunidades que se reúnem todos os meses e que acabam por ser uma célula cristã que ajuda os empresários a fazer o encontro com Jesus e também a ter um tempo de partilha daquilo que é o seu dia a dia e daquilo que é o seu caminho como líderes e empresários cristãos. Por isso, deu um grande elã àquilo que é a presença da ACEGE nas empresas. De há 20 anos para cá, a ACEGE tem crescido muito a partir dos grupos ‘Cristo na Empresa’ porque se torna muito visível no terreno e é muito concreto.

E essa tendência de crescimento não é só no Algarve, ela verifica-se no resto do país?
No país tem crescido o número de grupos ‘Cristo na Empresa’ em praticamente todas as dioceses.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

É também um projeto desafiante levar estes valores cristãos para dentro da empresa, não os deixando à porta como durante muito tempo se pensava que acontecia?
Sim. Pensar que o ser cristão e o viver este desejo de anunciar Jesus fosse prejudicar o desempenho da própria empresa não é verdade. Porque o ser cristão faz-nos crescer como pessoas e só como pessoas é que nos podemos dar aos outros. O desejo da santidade permite-nos fazer pontes com aqueles com quem trabalhamos, com aqueles com quem queremos construir um projeto empresarial. Por isso, tantas vezes, os mestres da economia vão ao Evangelho buscar exemplos de liderança. O próprio Jesus – mesmo para os não crentes – acaba por ser um modelo de liderança e, por isso, o ser cristão vai potenciar o ser empresário ou o gestor numa empresa.

O padre José Pinheiro foi chamado para este serviço mesmo no decorrer da pandemia…
…Como assistente nacional. Mas já tinha sido desde 2015 assistente de um grupo ‘Cristo na Empresa’ e foi nessa altura que entrei para a ACEGE.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

E tem sido desafiante também esta assistência nacional da associação?
Tem sido uma aprendizagem porque o assistente nacional é uma presença junto da direção. É uma presença da Conferência Episcopal, da hierarquia da Igreja, e ao mesmo tempo é alguém que vai confirmando no caminho a própria associação. Primeiro reza e também faz caminho com aqueles que são os membros da direção naquilo que vai sendo o caminho e as propostas que a associação vai fazendo aos seus membros e aos seus associados. Claro que é um caminho sempre a fazer. E o facto de ter sido durante a pandemia teve coisas boas e coisas más. As boas é que tive mais tempo para estudar e perceber um bocadinho a missão da ACEGE. As coisas mais difíceis foi porque estávamos todos confinados e muito limitados na nossa ação, sem a importância do encontro pessoal, físico, que é totalmente diferente. Aqui no Algarve houve pessoas me disseram: já o conheço dos encontros na internet. Nós já sabíamos que existíamos, mas ainda não tínhamos feito um encontro presencial que muda tudo.

Também é um agente ativo do setor social. A questão da inclusão é uma problemática que está a entrar na reflexão e no contexto empresarial?
Inclusão em que aspeto?

No da pessoa com deficiência.
Claro. No nosso Centro Paroquial estamos a investir muito numa resposta social para as pessoas com deficiência.

E os empresários também estão preocupados com essa realidade e, sobretudo, abertos a ela?
É importantíssimo e existe uma série de incentivos para que os empresários se abram a contratar pessoas com deficiência e, principalmente, a tornar as empresas acessíveis e para que tenham essa abertura. E é um desafio importantíssimo porque o trabalho dignifica a pessoa e é altamente inclusivo naquilo que é a construção da sociedade. Portanto, passa sempre por a pessoa se sentir um membro ativo inserido na comunidade e os empresários têm esse dever e esse desafio. Principalmente, os empresários cristãos.

Assistente nacional da ACEGE veio ao Algarve garantir que na empresa também se pode fazer “caminho para a santidade”