O encontro, presidido a semana passada em Roma pelo bispo do Algarve e que reuniu 40 agentes pastorais comprometidos no acompanhamento espiritual e missionário dos emigrantes portugueses e lusófonos no continente europeu, concluiu que a diversidade cultural não é “ameaça à unidade da Igreja”.
Esta é uma das conclusões do encontro que decorreu de 22 a 27 deste mês, para além de D. Manuel Quintas, que é membro da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), contou também com a participação também de sacerdotes, religiosas e leigos.
A primeira conclusão assegura, precisamente, que “a diversidade cultural, fruto da aceleração da globalização, que está sempre mais presente nas paróquias, movimentos e comunidades migrantes não é, de maneira nenhuma, ameaça à unidade da Igreja: família de rosto pluriforme”.
Entre os participantes no encontro anual, que é organizado pelas delegações dos missionários portugueses da Alemanha e Suíça com o apoio da Obra Católica Portuguesa das Migrações, contou-se ainda a diretora deste organismo da Conferência Episcopal Portuguesa, Eugénia Quaresma, e o diretor nacional da Pastoral das Migrações da Alemanha, Lukas Schreiber.
O encontro contou ainda com a intervenção da professora Teresa Messias, da Universidade Católica Portuguesa de Lisboa, do padre Fabio Baggio, secretário adjunto da Secção Migrantes e Refugiados com a equipa que compõe a nova estrutura do Dicastério, de monsenhor Mário Rui de Oliveira, do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica e de Daniela Moretti, da Comunidade Santo Egídio de Roma.
Este ano, sob o tema “A Diversidade de rostos na Igreja: diálogo com a Cultura”, a iniciativa contou com a participação de missionários e missionárias provenientes de sete países: Alemanha, Bélgica, Luxemburgo, Países Baixos, Portugal, Reino Unido e Suíça.
O encontro constatou ainda uma Europa “em crise de valores e imaginação, em mutação cultural que se divide ao pensar e ao agir sobre os fluxos migratórios atuais”; “onde aumentam os nacionalismos e se assiste ao crescendo do racismo, xenofobia e violência”; “onde as Igrejas locais prosseguem o seu processo de reestruturação geográfica e económica nas paróquias e dioceses para se adaptarem às consequências da secularização e relação com os Estados laicos”.
Apesar deste contexto, os participantes da iniciativa “veem nas mudanças não uma situação de agonia, mas um novo parto rumo a uma nova vida”.
“A língua portuguesa que congrega, em contexto de migração, cristãos de diferentes culturas e nações numa única comunidade cristã lusófona é um compromisso de evangelização e testemunho da universalidade na Igreja local: porção de povo de Deus”, realçam ainda as conclusões, acrescentando que “o reconhecimento recíproco da diversidade de situações e culturas – da parte da comunidade autóctone e comunidade migrante – é condição para a proximidade, solidariedade e o encontro entre pessoas e povos”.
Os agentes da Pastoral das Migrações consideram que “o processo de inculturação da fé exige conhecimento, escuta, discernimento e oração à luz da dinâmica pascal: paixão, morte e ressurreição”. “No diálogo intercultural e interreligioso as tensões e resistências fazem parte do caminho de construção de uma comunidade/paróquia que a todos quer incluir e sair ao encontro de todos para lhes anunciar o Reino de Paz e Justiça”, acrescentam, realçando que “as igrejas locais na Europa apresentam uma diversidade de modelos pastorais, consoante a particular situação eclesial, no acompanhamento espiritual e missionário dos migrantes e refugiados ao ponto de, em certos casos, se afastarem das Orientações Pastorais Comuns do Dicastério para o sector da Mobilidade Humana”.
As conclusões do encontro referem ainda que “a dimensão da Universalidade da Fé e da Igreja vivem-se na comunhão, participação e missão na igreja particular e sinodal onde os migrantes e refugiados, com o desejo de uma vida melhor, são sinais vivos de Novos Tempos e artífices providenciais de Nova Terra”.
Aqueles acompanhantes das comunidades lusófonas migrantes na Europa (caboverdianas, brasileiras, guineenses, entre outras) consideram ainda que “a Jornada Mundial da Juventude de Lisboa 2023 foi para as Comunidades da Diáspora Portuguesa uma «mais-valia» para o surgir e consolidar de grupos de jovens lusófonos”. “Para as igrejas da Europa apresentou Portugal como um exemplo de genuína hospitalidade, testemunho de voluntariado e excelente cooperação entre paróquias e municípios”, acrescentam.

Os participantes visitaram o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral e a Comunidade de Santo Egídio no bairro romano Trastevere e na quarta-feira, em comunhão com o Sínodo a decorrer no Vaticano, assistiram à audiência geral do Papa Francisco e encontraram-se com ele no final da mesma.