As tardes de oração, promovidas pelo Cabido da catedral de Faro ao longo dos domingos da presente Quaresma, prosseguiram no dia 25 deste mês com a celebração orientada pela Cáritas Diocesana.

Aquela iniciativa ficou marcada por uma metáfora desportiva que o cónego Carlos de Aquino, chantre do Cabido e assistente espiritual da Cáritas algarvia, disse ser “muito sugestiva e significativa” do caminho espiritual que os cristãos devem trilhar neste tempo de preparação para a celebração da Páscoa.

A propósito do capítulo nono da primeira carta de São Paulo aos coríntios, o sacerdote recorreu, no âmbito do atletismo, à simbologia da imagem da corrida que é feita para alcançar um prémio. “É essa dimensão interior profunda de corrida a que temos de trazer também ao nosso coração, este desejo profundo de querermos para nós as coisas de Deus, as coisas que não passam, que não são fogazes, que são eternas, as coisas do céu. Então, é preciso correr para atingirmos esse prémio que é a vida eterna”, afirmou, lembrando que o verbo correr é usado para descrever vários “momentos significativos da ressurreição do Senhor”.

“Para os catecúmenos [aqueles que se preparam para receber os sacramentos de iniciação cristã – Batismo, Crisma e Eucaristia], mas de modo particular para todos os cristãos, a Quaresma não deixa de ser sempre um tempo profundo de purificação e de iluminação para aprendermos a correr, purificando-nos do que possa constituir obstáculo à nossa vida para irmos ao encontro do Senhor, para saborearmos o alimento que é a sua presença e a força do seu amor na nossa vida”, prosseguiu sobre o que disse ser um “verdadeiro exercício” que aqueles “peregrinos” precisam realizar para começarem a ter já acesso à vida eterna.

“Peçamos ao Senhor esta graça neste tempo de Quaresma: sabermos correr para as coisas que não passam, que não são fúteis, mas que são a verdade de Deus, da eternidade”, pediu na segunda edição daquelas iniciativas propostas pelo Cabido da Catedral que disse serem certamente um “importante contributo espiritual” para dar “mais profundidade e sentido” ao caminho rumo à Páscoa.

Mas o cónego Carlos de Aquino disse ainda que para se caminhar “ao encontro do Senhor” são necessárias mais duas predisposições. Uma delas disse ser livrar-se de “um coração idólatra”. “Tantas vezes, na verdade, também nos prostituímos, adorando não o Deus verdadeiro, mas os deuses que preenchem o nosso coração e, às vezes, o nosso tempo, que nos seduzem, nos encantam e, às vezes, constituem alimentam prioritário na nossa vida, mais do que a palavra eterna de Deus, do que a unção pelo seu Espírito. Por isso, se queremos aspirar às coisas do alto, precisamos pedir a graça de não termos um coração idólatra, prostituído a deuses que iludem, seduzem, mas não dão alimento verdadeiro, substancial à vida”, alertou.

A segunda que apontou foi a necessidade de “afirmar a fé no Deus verdadeiro”. “Afirmamo-la quando abandonamos a nossa vida ao Senhor, quando vivemos no ato contínuo de confiança, de liberdade, de aceitação da vontade de Deus e do cumprimento dessa vontade, quando vivemos para a justiça e para a verdade”, sustentou.

Por fim, o sacerdote considerou o trabalho dos voluntários da Cáritas um exemplo desse caminho a seguir. “Num tempo e numa cultura onde tanto se consome, mas tão pouco consumamos a vida, hoje, tendo presente a dinamizar esta oração a Cáritas Diocesana, todas as Cáritas paroquiais e os irmãos que, através delas, exprimem o serviço do amor e da caridade, certamente percebemos que estas pessoas, na sua missão e no seu serviço, ensinam-nos essa via justa para caminharmos com o Senhor, amando, deixando-nos amar primeiro por Deus para termos a força de amar com o seu coração. Certamente, isso traz grande graça e grande alegria à nossa própria vida”, referiu, aludindo à “urgentíssima missão” de serem, “como todos aqueles que trabalham na Cáritas, vidas oferecidas por amor a Jesus e como Jesus, evangelizadores cheios de Deus para poderem também dar e servir o amor de Deus no mundo, como Jesus”. “O mundo precisa que sejamos hoje, no serviço da caridade e do amor, irmãos cheios de Deus que deem também Deus”, concluiu.

No final da celebração decorreu ainda um momento de veneração da relíquia do padroeiro da Diocese do Algarve, o diácono e mártir São Vicente, que marca presença naquelas orações dominicais.