O cónego José Rosa Simão, de 87 anos, publicou recentemente um livro de “memórias” do Santuário de Nossa Senhora da Orada, em Albufeira.

A publicação do sacerdote da Diocese do Algarve que foi pároco de Albufeira durante quase 48 anos, até setembro de 2016, intitula-se “Santuário de Nossa Senhora da Orada – Memórias” e foi escrita nos últimos seis dos sete anos em que está aposentado.

Apresentado no passado dia 17 de março na igreja matriz de Albufeira, o livro de 312 páginas aborda a história daquele que é um dos santuários de maior expressão no Algarve, destino de romarias e peregrinações ao longo de mais de cinco séculos.

Na introdução que faz à obra, o autor considera que “tudo o que se fizer para ajudar um povo a manter e a preservar a sua identidade e a sua riqueza cultural e histórica, é um bem de valor inestimável”. “Em Albufeira, o Santuário de Nossa Senhora da Orada é um monumento identitário da riqueza espiritual desta cidade e um dos valores, que importa ser devidamente conhecido e preservado, pois é, um elemento constitutivo da história do seu povo cristão”, acrescenta, explicando que “com este trabalho, sobretudo de informação”, deseja “apenas servir o bem do povo de Albufeira, colaborando para que as novas gerações conheçam um pouco melhor esta sua riqueza espiritual e monumental e a possam preservar”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Em declarações ao Folha do Domingo, o sacerdote, natural de Quarteira, explica que a edição resulta da intenção de “pesquisar, ouvir as pessoas, ir ao encontro, ouvir memórias”. “Resolvi publicar porque é importante para a vida da comunidade. A Orada e o seu convento tiveram muita importância para a vida espiritual daquela gente”, recorda, realçando aquele santuário como “centro de espiritualidade muito forte” e de “tradição desde o século XVI”. “Que não se percam estes valores espirituais, culturais, históricos que fazem a vida de Albufeira”, apela.

Com efeito, na publicação o autor evoca o relato da visitação da Ordem Militar de São Tiago em 1554 que classifica a capela, “fora das muralhas da vila e num lugar ermo e bem distante do castelo, como «irmida»”, a provisão do rei D. João IV, datada de 1654, que faz referência à Confraria de Nossa Senhora da Orada, bem como o facto de, em 1718, frei Agostinho de Santa Maria já se referir àquela ermida como santuário.

O livro, que procura abordar a origem daquela ermida de Nossa Senhora da Orada e as alterações que sofreu ao longo dos tempos, detém-se ainda sobre a arte sacra com destaque para a imagem primitiva da padroeira com caraterísticas do período gótico tardio, possivelmente de finais do século XIV, que integra a exposição do Museu Paroquial de Arte Sacra, criado em 1985 no corpo central da igreja de São Sebastião e inaugurado a 1 de julho de 2000.

O autor recorda que uma nova imagem de Nossa Senhora da Orada, mandada fazer em 1911 pelo então pároco, padre José Pedro Romão, ficou arruinada pelo incêndio de 15 de novembro de 1982 que destruiu bastante a ermida e o antigo convento, tendo sido substituída pela atual que se mandou fazer em 1983.

A obra descreve ainda com particular detalhe a história do convento construído e inaugurado em 1944 por desejo do pároco de então, o padre José Manuel Semedo, com licença do bispo do Algarve da altura, D. Marcelino Franco, no espaço que envolvia a capela para acolher uma comunidade de Carmelitas Descalças que veio para o Algarve logo a 2 de agosto de 1941, mas cuja conduta desviante acabaria por levar ao decreto de supressão pela Santa Sé daquele Carmelo e de interdição da capela da Orada em 1949.

O autor narra ainda o processo para reaver judicialmente o terreno e algumas das principais iniciativas levadas a cabo pela paróquia, depois de levantado o interdito da capela, para revitalização da comunidade a partir de 1974, bem como o novo papel do antigo edifício do convento na ação pastoral paroquial.

O cónego José Rosa Simão lembra igualmente a disponibilização do imóvel para a criação da Escola Preparatória de Albufeira e até para valências da Santa Casa da Misericórdia, o que acabou por não se concretizar.

O autor relata que em 1983, “depois de ouvido o bispo da diocese, o Conselho Pastoral e o Conselho Económico da paróquia, foi decidido construir um Centro Pastoral Paroquial” no espaço do antigo convento, muito danificado no incêndio do ano anterior. A obra foi inaugurada no dia 08 de dezembro de 1987 e feita a bênção da capela de Nossa Senhora da Orada.

Na publicação – ilustrada com fotos do seu arquivo particular e com prefácio do seu sucessor, o atual pároco de Albufeira, padre Flávio Martins – o cónego José Rosa Simão aborda as tradições em torno do culto de Nossa Senhora da Orada, reserva um capítulo à devoção dos pescadores de Albufeira à sua padroeira e ao crescimento urbano da cidade com as consequentes alterações para a envolvente do santuário.

A publicação pode ser adquirida na paróquia de Albufeira.