Quem entrasse no Santuário da Mãe Soberana, naquele fim de dia de 17 de abril, início da Festa Grande, via tudo igual a uma outra qualquer cerimónia religiosa católica. Exceto a presença de câmaras de televisão. A dez minutos do início da celebração, a agitação estava somente nos intercomunicadores da equipa que se preparava para iniciar a transmissão em direto, em honra da Senhora da Piedade, em Loulé. A equipa da “Mais Algarve”, composta por seis pessoas, estava a postos para iniciar um trabalho que duraria dois dias e que representaria mais de cinco horas de emissão em live streaming.
«André, verifica a ligação wi-fi, porque a estou a perder», pedia António Rodrigues a um dos membros da equipa, que estava a preparar a captação de imagem deste, que é o maior evento mariano a sul do país. «Fechem os planos, vamos começar». A imagem já estava no ar. Em nove canais digitais da “Mais Algarve” (site, Facebook, Youtube, Twitter, Instagram, Meo Kanal, entre outros), para além dos canais da Diocese do Algarve e da Folha do Domingo, bem como da Paróquia de Loulé, foram muitos milhares, as pessoas que puderam acompanhar esta festa. «Para além do Algarve e de Portugal, somos vistos e acompanhados pelo mundo fora, aonde existem Portugueses, com fiéis seguidores em mais de uma centena de países», explica António Rodrigues,
A “Mais Algarve” é «uma associação sem fins lucrativos, formada por “gente de boa vontade”, que tem como objetivo principal e único a divulgação do Algarve e o que de melhor» esta região tem, explica António Rodrigues, um dos cerca de 20 elementos que «incluindo os seus corpos sociais», formam esta coletividade. São um grupo de pessoas com múltiplas capacidades, que «assegura a gestão diária administrativa e técnica da “Mais Algarve”, que é complementada com outros, consoante as necessidades», já que antes de mais são amigos e, «de acordo com os diversos projetos e iniciativas, o seu grau de complexidade» reúnem colaboradores de distintas «áreas de trabalho». A sua «estrutura flexível e dinâmica», mas «muito competente e profissional», como reflete António Rodrigues, garante, desta forma a divulgação do Algarve e das múltiplas iniciativas que nesta região vão acontecendo, sobretudo as que preservam a cultura tradicional ou que têm pouca visibilidade através dos órgãos de comunicação social main stream. «O Algarve é muito mais do que o turismo mostra ou rentabiliza», diz António Rodrigues, por isso, «apoiamos os eventos, iniciativas que, habitualmente, por serem locais ou de pequena dimensão, não merecem atenção dos media locais e nacionais».
“Mais Algarve” e Diocese: uma colaboração que nasce em tempo de pandemia
Entretanto, a emissão já decorre. O sonoplasta Aníbal Madeira verifica a cada instante a qualidade do som que sai na emissão. São muitos microfones, planos e botões. Cada membro da equipa garante a captação de imagem de um dado sector da Igreja e todos estão em permanente contacto. «Padre Miguel, pode dizer-me o que vai acontecer a seguir», pergunta António Rodrigues ao Diretor do Gabinete de Informação da Diocese do Algarve (GIDALG), que integra a equipa nesses dias, para realizar todos os comentários necessários à cerimónia.
«A “Mais Algarve” tem sido um parceiro muito importante para a Diocese, desde o início da pandemia», explica o sacerdote. «Foi através da colaboração que mantivemos com toda a equipa, desde o primeiro confinamento, que pudemos fazer chegar aos católicos algarvios (mesmo os que residem fora da região), as celebrações diocesanas», conta. António Rodrigues recorda: «Esta parceria, surgiu pela amizade que nos une ao Samuel Mendonça, Diretor da Folha do Domingo e de conversas cruzadas com alguns dos elementos do clero, com o qual temos ligações, por razões pessoais e/ou religiosas. O confinamento e o facto de toda a atividade cultural estar parada, fez que refletíssemos sobre como continuar a servir e a ajudar a nossa Comunidade, numa altura tão critica, já que temos o equipamento e o “know how”».
A abertura por parte da Diocese e do seu Bispo foram um sinal, para a “Mais Algarve”, de que esta poderia ser a forma mais significativa de dar corpo aos seus principais objetivos: «Na impossibilidade física de ajudar todos, fez sentido, para nós, concentrarmos os esforços na Diocese do Algarve e ajudar a Folha do Domingo (que se debate com o mesmo problema que todos nós, a escassez de meios e de recursos Humanos), garantido um trabalho colaborativo e em equipa, sem qualquer outro interesse, que não de servir os nossos», explica António Rodrigues.
Acabaram por montar um estúdio no Paço Episcopal, no seu pequeno oratório, numa primeira fase e, a partir dali, foram transmitidas as eucaristias dominicais, presididas por D. Manuel Neto Quintas. Já no segundo confinamento e porque o espaço era efetivamente exíguo e colocava desafios, não só técnicos, como de manutenção de distâncias de segurança, passaram para a Capela do Seminário de S. José, em Faro. No meio tempo, emitiram, ainda, da Catedral de Faro, sobretudo durante a Semana Santa de 2020. Transformaram aquilo que é difícil em algo aparentemente fácil, sobretudo aos olhos de quem, em casa, no seu telemóvel ou computador, acompanhava as emissões: «a polivalência que nos carateriza, ajudou e facilitou todo esse processo que é complexo», salienta António Rodrigues, recordando as «muito horas, dezenas de emissões, muitos desafios, dificuldades e outras», que foram «resolvendo, caso a caso».
Através deste trabalho, os católicos algarvios (e de muitas outras regiões e locais do mundo), tiveram, nas palavras de António Rodrigues, «o privilégio de “entrar” virtualmente na Casa Episcopal, no Seminário de S. José de Faro, na Sé e noutras Igrejas, que poucos conheciam em detalhe, acompanhando celebrações importantes, que sem este meio, não seria possível». As Igrejas do Algarve, o Paço Episcopal, a sua horta (a que D. Manuel Neto Quintas deu o nome de “Horta Laudato si”, recordando o importante documento do Papa Francisco sobre a proteção da natureza), foram mostradas ao longo das emissões, acompanhadas de textos, que eram preparados em colaboração com a equipa do GIDALG.
«Para nós, Diocese e Gabinete de Informação, esta foi uma forma muito de importante de ajudar a que a comunidade católica compreendesse a necessidade de estar presente, também, no mundo digital», salienta o Padre Miguel Neto e acrescenta: «E a necessidade de ter uma presença de qualidade, que pudesse dar dignidade às celebrações e a todo o trabalho que merecesse uma transmissão online».
Essa compreensão ficou, na opinião de António Rodrigues, bem vincada nos seguidores das diversas plataformas e redes sociais. «Os feedbacks que tivemos foram muito positivos e a audiência, ultrapassou toda a nossa melhor expetativa», afirma.
«Aquilo que mais desejámos foi conseguido e superado em múltiplos aspetos», garante do Diretor do GIDALG, «pois mantivemos o espírito que pretendíamos que nos norteasse desde o primeiro momento: ter a Diocese unida em torno do seu Pastor, do seu Bispo e presente na vida de cada cristão, num momento tão complexo e difícil para todos».
Um projeto que nasce com as Rádios Locais e que sonha com o futuro
O Idelberto Dores, o elemento mais sénior, mais experiente e mais calmo da equipa, corre de um lado para o outro, dando apoio a todos e garantindo, ainda, que a sua câmara se mantém operacional. A emissão já vai longa e amanhã há outra eucaristia, a mais importante da Festa em honra da Mãe Soberana. Já é tarde, mas todos se mantém firmes nas suas posições. «Mantém o plano Nélida, está mesmo muito bonito», diz António Rodrigues, que realiza a emissão, a partir de uma reggie montada ao fundo do Santuário e que ali permanecerá até ao final da Festa Grande.
Ele e a maioria dos que compõem a equipa pertencem a uma «geração de comunicadores» que marcou o Algarve, sobretudo na altura em que surgiram as Rádios Locais e muitos tiveram a oportunidade de pôr em prática as suas paixões e conhecimentos. «Entre eles», conta António Rodrigues, «estava o Manuel Rodrigues, radialista muito conhecido em Faro, com experiência essencialmente no estrangeiro», que acabaria por fundar a “Mais Algarve” em conjunto com um grupo de outras pessoas, entre as quais o próprio António, seu irmão. Muitas dessas pessoas estão «inseridas hoje nos Meios de Comunicação Social» e fundaram, também, «um projeto marcante e diferenciador, a Rádio Santa Maria», por exemplo. Este projeto teve, na altura, «grande sucesso e audiência, com muita carolice e paixão à mistura», revela António Rodrigues. «Vários desses elementos fundadores transitaram para o Grupo RDP, aonde asseguravam a emissão, para o Algarve, da Radiodifusão Portuguesa e a participação nos diversos canais do Grupo», recorda. Outros «transitaram para as diversas rádios locais, que na altura iam surgindo».
O projeto, mais do que apenas o pôr em prática de uma paixão, acabou por se revelar «uma excelente escola e uma grande fonte de recrutamento dos vários grupos de comunicação», que ganharam profissionais de qualidade, muitos deles ainda no ativo e bastante conhecidos, considera António Rodrigues. Hoje, a “Mais Algarve” conta com uma equipa de gente de boa vontade, generosa e que está ou esteve ligada «à área da cultura, música, som, imagem, áudio, comunicação e jornalismo». «Alguns dos elementos têm outra atividade profissional», esclarece António Rodrigues. Por isso, acabam por servir voluntariamente a Associação, formando «um grupo multidisciplinar e de elevada competência, agregando juventude à maturidade e muita experiência dos seus elementos, para além da maioria ter formação superior e elevado “background”, “expertise” e experiência na área», salienta. E também se adaptaram à evolução tecnológica, integrando «uma grande vertente multimédia, complementando a informação com texto, fotografia, áudio e vídeo, com atualização diária no seu site e restantes canais digitais e sociais», declara.
«A globalidade do que fazemos é por paixão, por amor, algo que poucos entendem», reflete o Responsável da Associação, que considera, no entanto, ser «esse o espírito da “Mais Algarve” e os princípios com que a mesma foi fundada, nomeadamente pelo seu principal mentor e fundador, ao qual prometemos continuidade». E reforça: «a qualidade e a excelência é uma preocupação constante de todos». Por isso, melhoram a cada dia, investindo não só nos equipamentos, mas na qualidade do trabalho, apostando no streaming como um desafio, mas também uma ferramenta que os levará diretamente ao futuro.
«Um trabalho e serviço à comunidade que nos “encheu a alma”»
Já estamos na tarde de dia 18 de abril, dia maior da Festa da Mãe Soberana. Dentro da Igreja, os participantes ocupam os seus lugares e a cerimónia decorre. «Paulo Ribeiro, apanha-me os homens do andor! Isso, mantém aí! Que luz magnífica!», pede o realizador. A equipa tem um ar cansado, mas assim que se ouve o “estamos no ar”, todos se transformam e o importante é fazer bem e, também, bonito.
«Tivemos que ser discretos e pouco invasivos, tendo em conta serem locais de culto, oração, silêncio e meditação», explica António Rodrigues. Este trabalho de colaboração com a Diocese do Algarve até nisso foi um desafio, que obrigou todos os técnicos a perceber melhor os esquemas das celebrações e ao obrigou «à maior discrição e “invisibilidade” possível», conta.
Comunicações, ligações internet, iluminação, captação do som, passagem de cabos de vídeo e som, garantia de redundância na transmissão de sinal foram só algumas das tarefas que são invisíveis para os espectadores, mas que, ao longo deste tempo e sempre que a “Mais Algarve” realiza o seu trabalho, acontecem. Neste caso, dada a complexidade dos espaços e dos eventos a transmitir, foi utilizada a «quase totalidade da capacidade técnica e equipamentos» de que a “Mais Algarve” dispõe e que abarca a mais recente tecnologia disponível para a realização de «emissões em alta definição (full HD) no vídeo e som».
A equipa funcionou, na verdade, como funcionam todas as equipas de televisão, realizando emissões de alta qualidade e que obrigaram a um planeamento rigoroso e «cumprido de forma sistemática», o que permitiu que não existisse «falha de emissão, quebra de sinal ou outro e sem nenhum atraso em todos os canais», aclara António Rodrigues.
«Foi um trabalho e serviço à comunidade que nos “encheu a alma”», desabafa e prossegue: «Curiosamente, não esperava que a nossa equipa, habituada a outros desafios, tivesse reagido tão bem e se tivesse envolvido tanto no processo». E revela o orgulho pela «entrega e foco total», pelo espírito de solidariedade com que todos trabalharam.
E também dá nota da «boa disposição, a sã camaradagem e amizade» com que foram sendo acolhidos ao longo deste tempo, pelos «técnicos, todo o Clero, o Sr. Bispo do Algarve (que para além de nosso guia espiritual, é também uma pessoa muito sensível e de uma abertura de espírito impactante), o Reitor do Seminário, os Párocos das Paróquias de Loulé, da Sé, os coros, a equipa da Folha do Domingo, o Gabinete de Comunicação da Diocese do Algarve», todos, que sempre mostraram «um sorriso e boa vontade» perante as solicitações e as limitações que o trabalho poderia implicar. «Foi espetacular e fizemos amigos, alguns para a vida», conclui.
Este espírito, que considera «não tem “preço”», «projetou-se no trabalho final», que culminou no acompanhamento das Festas da Mãe Soberana em Loulé, «um trabalho muito exigente e desafiante».
São 19h00 horas. Poucos minutos antes, o andor com a Mãe Soberana passava pela porta da Igreja de regresso à sua ermida e gritavam-se vivas, enquanto os homens do andor dançavam com a venerada imagem da pietá aos ombros, alguns chorando de emoção.
Agora, recolhem-se os cabos e os equipamentos. À memória vem o velho ditado: “Para onde vais? Para a festa! De onde vens? Da festa………” Mas aqui o ditado é só um compasso de espera e as muitas caixas de câmaras, microfones, auscultadores, ecrãs e tantos outros equipamentos, alguns muito sensíveis, só são guardadas por uns momentos. Em breve, muito em breve, esta «“equipa una”» estará de volta aos diretos, aos desafios, às aprendizagens. A emissão segue dentro de momentos!
Nós fazemos das palavras do António Rodrigues as nossas: «Estou eternamente grato a todos e é um privilégio integrar esta maravilhosa equipa de trabalho».