SolidaoCasos de idosos em isolamento, em condições de vida insalubres, com alimentação insuficiente ou abandonados pela família foram identificados, no último ano e meio, pelo Gabinete de Apoio ao Idoso da Câmara de Faro, disse a coordenadora do serviço.

Após cerca de ano e meio de funcionamento, Paula Paiva fez hoje um “balanço muito positivo” do trabalho do Gabinete de Apoio ao Idoso (GAI) de Faro, que nos três primeiros meses acompanhou “34 idosos que se encontravam em situação de vulnerabilidade social e/ou emocional”.

Paula Paiva revelou à agência Lusa que, durante o ano de 2013, o GAI acompanhou 87 idosos e realizou cerca de centena e meia de visitas domiciliárias, em parceria com outras instituições com as quais colabora, como a PSP, a GNR, o Ministério Público ou Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS).

“Faço um balanço muito positivo, porque temos conseguido encaminhar para diversas respostas – específicas para cada idoso, seja ao nível de centros de dia, de apoio domiciliário ou de estruturas residenciais para idosos (lares) – e fazermos um encaminhamento e acompanhamento dos casos”, considerou Paula Paiva.

As condições encontradas no terreno deixam, “por vezes, os técnicos frustrados”, porque a crise leva “muitos idosos a situações de abandono familiar” por “questões financeiras”, disse Paula Paiva, exemplificando com o caso de “um homem, com cerca de 80 anos, que vivia sem condições nenhumas num antigo aviário e tinha um irmão que lhe levava a comida, muitas vezes restos que também dava ao gado que tinha”.

O caso deste homem foi apresentado na segunda-feira, em Faro, na intervenção que Paula Paiva fez na Conferência “Segurança – Uma prioridade”, organizada pela Plataforma Saúde em Diálogo, e é demonstrativo, segundo a técnica, de “uma lacuna de laços e um interesse económico” do familiar que, alegadamente, tratava do idoso.

Em declarações à agência Lusa, a técnica do GAI de Faro admitiu que a crise está a provocar o aumento dos problemas sentidos pelos idosos.

“Há muitas dificuldades, mesmo muitas. Existe atualmente uma faixa específica de idosos, que não tem carência económica, que vive com muitas dificuldades dadas as suas demências ou a falta de estrutura de retaguarda familiar e que passa fome, apesar de receber uma boa pensão e ter algumas propriedades. Vivem na miséria e estão iguais aos idosos com carências económicas”, disse a coordenadora do GAI de Faro.

Sem “estruturas familiares, que já não existem ou são conflituosas”, há idosos que se “desleixam e descuram a alimentação, a saúde e ficam votado ao abandono puro e simples”, em muitos casos já “afetados por demências que não são tratadas medicamente”, lamentou.