Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Um agente da PSP, vários elementos da Investigação Criminal e os Comandos da PSP e dos Bombeiros de Tavira são acusados de agressão e falta de socorro a um homem, em setembro, naquela cidade algarvia, denunciou o queixoso.

Rui Vidal, de 46 anos, disse à agência Lusa que a queixa deu entrada em 18 de dezembro no Ministério Público da secção de Tavira do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Faro e as agressões, alegadamente cometidas também contra o seu filho, ocorreram depois de um pedido de socorro ao 112 para lhe ser prestada assistência num episódio de indisposição e desmaios.

Na queixa, a que a Lusa teve acesso, a mesma fonte reportou que se sentiu mal na tarde do passado dia 14 de setembro – por razões alheias ao excesso de álcool -, mas depois de ter bebido cinco cervejas num café com amigos, tendo desmaiado quando ia a pé para casa, onde chegou em braços, ajudado por conhecidos.

A sua mulher abriu a porta e, perante o “alternar de períodos de consciência com desmaios”, chamou o 112, mas, quando Rui Vidal recuperou os sentidos, notou que “estavam quatro polícias à porta com dois bombeiros atrás”, disse que “não precisava da polícia, precisava era dos bombeiros”, e disse aos agentes para se “porem dali para fora”, relatou.

O agente acusado de agressão “disse logo para o ofendido que lhe dava um ‘borracho’ e deu logo um soco na boca do ofendido (pai), tendo-lhe aberto o lábio superior”, pode ler-se na queixa, que deu entrada em 18 de dezembro no DIAP.

Rui Vidal contou que interpelou o agente sobre o motivo da agressão, mas a resposta foi outro soco e mais agressões com o bastão extensível, que o fizeram acabar no chão, sem sentidos.

O filho de Rui Vidal tentou então intervir e parar as alegadas agressões ao pai, mas foi “atingido por um gás” e, posteriormente, agredido “por diversos agentes” da Investigação Criminal, já na esquadra, para onde tinha sido conduzido “algemado”, disse o queixoso.

Quando recobrou os sentidos, no chão, “já sem ninguém dos bombeiros e da PSP ao pé” e “sem ter sido assistido”, Rui Vidal deslocou-se de táxi à PSP de Tavira e perguntou pelo filho, que “tinha sido algemado e transportado para a PSP” e “agredido um pouco por todo o corpo”, consta ainda da queixa.

“Os ofendidos desejam procedimento criminal contra os elementos acima referidos”, lê-se no final da queixa apresentada por Rui Vidal e o filho contra o agente da PSP acusado de o agredir e os colegas da Investigação Criminal de serviço nesse dia, mas que visa também o Comando local da polícia e o Comando dos Bombeiros Municipais de Tavira.

Rui Vidal lamenta ter ficado “com lapsos de memória” e “dificuldades de mobilidade num pé devido às agressões com bastão”, ter “deixado de trabalhar” e ficado com “dificuldades económicas”, e espera que a justiça atue para “evitar que estes episódios se repitam com mais alguém” e o agente em causa “continue a desonrar a farda que usa”.

O Comando Distrital de Faro da PSP negou a versão do homem que acusou agentes da esquadra de Tavira.

O Comando de Faro garantiu que os agentes apenas responderam a “comportamentos agressivos”, com “ameaças de morte” e de “agressão”, e tiveram que utilizar gás pimenta para debelar a resistência e conseguir que os suspeitos “fossem algemados e seguidamente transportados, em segurança, para o departamento policial”.

O Comando Distrital da PSP de Faro – a quem a Lusa pediu um contraditório a este caso, na sexta-feira passada, sem obter resposta – divulgou na segunda-feira um comunicado para “esclarecer cabalmente” a notícia e contou que uma patrulha foi “chamada a dar apoio a bombeiros da corporação da cidade, que guarneciam a tripulação da ambulância do INEM [Instituto Nacional de Emergência Médica]”.

A pessoa que estava a ser tratada “por ter um hematoma nos pés e fortes dores nas costas” tinha “comportamentos agressivos” e os agentes depararam-se com “um cidadão a coxear, visivelmente embriagado, gritando e proferindo injúrias e ameaças de morte para os presentes, enquanto exigia que se ausentassem da entrada de sua casa”, contrapôs a PSP.

“Enquanto lhe era explicada a necessidade de receber tratamento pré-hospitalar, o mesmo tentou inclusivamente agredir um dos elementos policiais. Nesse momento surge um outro cidadão, seu filho, que de imediato tentou também a agressão à patrulha policial”, argumentou o Comando de Faro da PSP, acrescentando que um deles ainda partiu um vidro do prédio a soco.

A PSP garantiu que, “face à violência com que resistiam à atuação policial, foi necessário utilizar gás pimenta” para os suspeitos “serem algemados e seguidamente transportados, em segurança, para o departamento policial”, neste caso a esquadra de Tavira, onde uma ambulância dos bombeiros municipais de Tavira” voltou a assisti-los, frisou.

A força de segurança criticou ainda pai e filho porque “não compareceram, à data, em tribunal, apesar de devidamente notificados”, e revelou que ambos foram alvo, em dezembro, de “mandados de detenção” para serem “presentes a tribunal”.

“Na sequência dessa detenção terão, supostamente, decidido apresentar queixa contra os presentes na ocorrência do mês de setembro e respetivas hierarquias”, considerou ainda o Comando de Faro da PSP.