Os 28 algarvios que estão no Panamá a participar na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) viveram ontem mais um dia de contacto com o papa Francisco, em que puderam escutar o seu convite a que sejam “construtores de pontes” e não de “muros”.
A frase do papa em que exortou os jovens a serem “construtores de pontes” foi depois repetida pela multidão, no primeiro contacto de Francisco com os peregrinos católicos dos cinco continentes na cerimónia de acolhimento na JMJ 2019 que teve lugar no Campo Santa Maria la Antígua.
“Os construtores de muros, semeando o medo, procuram dividir” as pessoas, disse Francisco na sua intervenção que destacou a importância da “cultura do encontro” e pediu aos participantes no evento que mantenham vivo “um sonho comum”, com a sua fé em Jesus.

A festa no Campo Santa Maria la Antígua, onde o altar representava simbolicamente o Pacífico, subiu de tom quando o papamóvel chegou, ao som do hino da JMJ.
Francisco foi recebido por dois jovens que o acompanharam na passagem por uma réplica das comportas do Canal do Panamá, ao encontro de representantes dos cinco continentes, incluindo um peregrino de Portugal: Joaquim Goes, com a t-shirt verde do Serviço da Juventude do Patriarcado de Lisboa, em nome de todo o continente europeu.
“Reunidos no Panamá, a Jornada Mundial da Juventude é mais uma vez uma festa de alegria e esperança para toda a Igreja e, para o mundo, um grande testemunho de fé”, disse o papa.
Francisco explicou que a ideia não é “criar uma Igreja paralela, um pouco mais jovial”, mas caminhar em conjunto, no serviço concreto ao próximo. “O Cristianismo é Cristo”, repetiu, com os jovens da JMJ.
Na sua intervenção, o pontífice desafiou as novas gerações a avançar sem “medo de arriscar e caminhar”, encontrando a comunhão nas diferenças. “Nenhuma diferença nos conseguiu parar”, exclamou.
Francisco falou do amor de Deus como um “amor que vale a pena” e abre “novos horizontes”.
“Queridos jovens, esta Jornada não se revelará fonte de esperança por um documento final, uma mensagem consensual ou um programa a aplicar. Este encontro irradia esperança, graças aos vossos rostos e à oração”, prosseguiu.
O papa despediu-se com votos de que o Panamá “não seja apenas um canal que une mares, mas também canal onde o sonho de Deus continua a encontrar pequenos canais para crescer e multiplicar-se”.
Os participantes ofereceram um presente ao pontífice: uma estola feita de “mola” (artesanato em tecido feito pelos índios Guna do Panamá).
O pontífice pediu um “forte aplauso” para os jovens indígenas e afrodescendentes, elogiando o “sacrifício” que muitos dos participantes na JMJ 2019 tiveram de fazer, para estar no Panamá.
Francisco citou Bento XVI, seu predecessor, e também pediu à multidão que saudasse o Papa emérito.

A cerimónia de acolhimento foi antecedida por várias horas de animação, com música, encenações e momentos de reflexão que reuniram no maior evento juvenil promovido pela Igreja Católica cerca de 200 mil peregrinos dos cinco continentes, multidão que quase duplicou o número de mais de 100 mil inscritos inicialmente no evento.
Bandeiras de todos os países com peregrinos inscritos desfilaram junto ao Oceano Pacífico. Em palco estiveram artistas e bandas de vários géneros musicais, como DJ Herkinbuelvas, Jesse Demara, Invoxdei, Halleluya Band, La voz del Desierto, Acts of the Apostles ou The Sun.
Após a intervenção do papa, e antes da despedida, jovens de diferentes países, incluindo um venezuelano e um angolano, apresentaram preces em diferentes línguas.
Os algarvios iniciaram ontem o dia com o acolhimento feito pela comunidade brasileira e participaram depois na catequese orientada por D. Joaquim Mendes, bispo auxiliar de Lisboa, na igreja de Nossa Senhora de Lourdes, seguida de eucaristia.
Depois da celebração, os algarvios juntaram-se, como normalmente têm feito, para refletirem e partilharem juntos a catequese e a homilia do bispo. “Foi bastante interessante toda a partilha e aquilo que escutámos”, testemunhou num dos vídeos, transmitidos em direto no Facebook do Setor da Pastoral Juvenil da Diocese do Algarve que têm sido acompanhados por muitas pessoas, o assistente daquele serviço.
O padre Nelson Rodrigues, um dos três sacerdotes do Algarve que acompanham os jovens naquele encontro mundial da juventude, regozijou-se com a possibilidade do Setor Diocesano da Pastoral Juvenil ir dando conta da vivência daquele evento. “Foi uma iniciativa do SDPJ e acho que é muito importante trazermos as tecnologias para esta experiência. Noutras jornadas não era possível”, afirmou.
À tarde, os algarvios participaram pelas 17h30 (22h30, hora portuguesa) na celebração de receção ao papa e às 19h (24h, hora portuguesa) e assistiram também ao concerto das “Siervas”, uma banda peruana de pop/rock constituída por irmãs.
Para além deste grupo de 28 elementos, a participar na JMJ por via da inscrição feita através do SDPJ, há pelo menos mais dois algarvios no Panamá, inscritos pelo Caminho Neocatecumenal. São eles os animadores da comunidade neocatecumenal da paróquia da Conceição de Faro, o casal Jorge e Elsa Ricardo (em primeiro plano à direita na foto), que acompanham um grupo de jovens da Zona Sul do Caminho Neocatecumenal em Portugal e que participarão também no habitual encontro com o seu iniciador, Kiko Argüello.
Esta sexta-feira, Francisco vai presidir a uma celebração penitencial, com jovens reclusos do Centro Correcional de Menores Las Garças de Pacora, uma localidade situada a 46 quilómetros da capital, Cidade do Panamá.
Hoje, depois de regressar de helicóptero à Nunciatura Apostólica, Francisco estará de novo, pelas 17h30 (22h30, hora portuguesa), no Campo Santa Marta la Antígua, para presidir à Via-Sacra com os jovens.
com Ecclesia