A Conferência Beato Nuno de Santa Maria da Sociedade de São Vicente de Paulo, sedeada em Faro, ficou privada no último ano da utilização do espaço que utilizava há mais de 20 anos para assegurar a assistência mensal a muitas pessoas (incluindo famílias) carenciadas no concelho.
A casa usada para levar a cabo o armazenamento e distribuição de alimentos aos seus beneficiários é propriedade da família de um antigo membro daquela conferência vicentina, já falecido, que agora exerceu o seu direito ao imóvel.
Em informação ao Folha do Domingo, a instituição alerta para a possibilidade de ter de vir a suspender o serviço que leva a cabo e informa que tem vindo a alertar “há vários anos” os “responsáveis oficiais”, particularmente a Câmara Municipal de Faro, para a necessidade de se encontrar um novo espaço para o exercício da sua atividade de cariz social.
Aquela conferência assegura que apenas dispõe atualmente de um espaço de 15 metros quadrados no edifício cedido pela autarquia à Fundação António Silva Leal. “Neste pequeno cubículo, onde não há nem espaço para qualquer frigorífico, temos realizado um autêntico «milagre», só possível com o nosso muito trabalho diário e o apoio que vimos recebendo de muitos utentes e beneficiários, os quais até se encontram assustados com a possibilidade de virem a perder este nosso apoio vital para eles”, refere a organização num comunicado enviado ao Folha do Domingo.
Os responsáveis da instituição dizem sentir-se “muito preocupados” com o futuro da mesma e “impotentes e incrédulos” perante a situação, lembrando que existem na cidade “tantas casas fechadas ou abandonadas” que poderiam ser usadas para a “«loucura» de mitigar a fome daqueles que a têm”. “Resta-nos pedir a Deus que nos ajude a não deixar estas famílias ainda mais pobres”, complementam.
Questionada sobre esta situação, a Câmara Municipal de Faro disse ao Folha do Domingo que “tem vindo a fazer público reconhecimento do mérito da Conferência Beato Nuno de Santa Maria da Sociedade de São Vicente de Paulo no apoio social” realizado no concelho. “Sabemos bem das dificuldades atravessadas, como de resto sucede a muitas outras coletividades do meio associativo do concelho. Infelizmente, não dispomos de momento de instalações disponíveis para satisfazer os pedidos que nos chegam. Estamos atentos e disponíveis para analisar as possibilidades que se nos deparem”, acrescenta a autarquia.
A Conferência Beato Nuno de Santa Maria, durante o ano de 2015, fez chegar ao domicílio de mais de cerca de centena e meia de famílias carenciadas do concelho de Faro mais de 51 toneladas de alimentos, o dobro do distribuído em 2014.
Aquela conferência vicentina, que conta com 87 anos de ação sóciocaritativa, adianta que distribuiu também cerca de oito mil euros em dinheiro para ajudar as famílias beneficiárias a pagar rendas de casa e alguns medicamentos. A instituição explica que se tratam de “famílias extremamente pobres, muitas delas sem trabalho, idosos e até deficientes ou com reformas de miséria”.
A organização, que assegura não receber apoios oficiais há vários anos, explica que o dinheiro foi angariado através de peditórios feitos à porta de igrejas locais (6.399 euros), das quotas de associados (1.812 euros), de donativos particulares (843 euros) e de coletas (166 euros).
A conferência da Sociedade de São Vicente de Paulo refere ainda que, embora tenha cada vez menos trabalhadores efetivos, tem contado com colaboradores que são simultaneamente seus beneficiários. “Temos contado com muitos voluntários que não fazem parte efetiva da Conferência, entre os quais diversos sem-abrigo que colaboram connosco, nomeadamente na carga e descarga de alimentos, a quem ajudamos”, refere o comunicado.
A conferência vicentina agradece a todos os que, de qualquer modo, contribuíram para que fosse possível este “gratificante trabalho de amor” a favor dos “irmãos mais pobres”.
A Sociedade de São Vicente de Paulo, inspirada no santo francês com o mesmo nome que viveu entre 1581 e 1660, foi fundada em Paris no ano de 1833 por um grupo de estudantes liderados pelo Beato Frédéric Ozanam, tendo chegado a Portugal em 1859, quando foi criada a primeira Conferência, em Lisboa.