O coordenador do projeto ‘Semáforo’ – adaptado pela Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE) do Poverty Stoplight, criado em 2013 pela ONG Fundación Paraguaya, o ‘Semáforo – Empresa sem Pobreza’ e que está hoje a ser aplicado também nos Estados Unidos da América e na Europa – veio ao Algarve apresentar aquela iniciativa que pretende identificar as situações de pobreza entre os trabalhadores das empresas e encaminhá-los para uma rede de parceiros que possa dar resposta.
“Não queremos ser mais uma rede. O que queremos é que, através da rede do ‘Semáforo’, possamos encaminhar as pessoas para soluções que elas se calhar não conhecem e que os próprios prestadores de serviços sociais também não conhecem. Vamos fazer a ponte”, afirmou Diogo Alarcão, que é também membro da direção executiva da ACEGE.

O orador no encontro promovido pelo núcleo algarvio da ACEGE, que teve lugar no salão paroquial de São Luís em Faro, referiu-se ao projeto como uma “uma metodologia inovadora”, “complementar às soluções de combate à pobreza”, que pretende ajudar as empresas e as organizações aderentes a “mapear quais são os riscos económicos e sociais dos seus colaboradores”.
Diogo Alarcão assegurou que o projeto – que tem início através de um questionário online assente em 52 perguntas, distribuídas por seis macro dimensões – salvaguarda a proteção de dados e a confidencialidade dos trabalhadores. “A única pessoa que tem acesso à autoavaliação é o próprio que contacta depois a rede ‘Semáforo’ em total confidencialidade e anonimato para procurar ter resposta à sua dificuldade. A empresa nunca saberá a resposta nem os resultados do colaborador”, assegurou, acrescentando que a entidade empresarial receberá apenas “o agregado de todos os colaboradores para perceber se a sua força de trabalho tem mais problemas na área do rendimento, da educação ou da saúde e, eventualmente, tomar medidas para dar resposta”.

Aquele responsável realçou ainda a adesão àquele projeto como “uma boa medida de gestão porque está provado que as situações de pobreza, de stresse ou da falta de rendimento se traduzem em absentismo”.
Por outro lado, Diogo Alarcão disse que “não é objetivo deste programa passar para as empresas o trabalho de combate à pobreza”. “O objetivo do ‘Semáforo’ é permitir, através das empresas, que as pessoas que estão em risco de pobreza possam fazer o seu próprio mapa de vida”, garantiu, acrescentando: “temos consciência de que uma empresa não está feita para dar assistência aos seus colaboradores. Acreditamos que também é nosso caminho e que também é isso que nos pedem como empresários e como gestores, à nossa medida e com os nossos meios que são escassos, que possamos fazer alguma coisa por aquelas pessoas”.

O coordenador do projeto começou por lembrar que “a taxa de risco de pobreza afeta mais de 44% da população portuguesa” se não forem tidas em conta as prestações sociais. “Uma parte significativa desta pobreza são pessoas que têm contratos sem prazo, colaboradores de empresas que têm um vínculo laboral estável, mas que apesar disso estão em risco de pobreza. E é esta a população alvo que queremos trabalhar no ‘Semáforo’: aqueles e aquelas que, apesar de terem um salário ao final do mês, estão em risco de pobreza por múltiplas razões”, afirmou, garantindo que “a penhora do salário é a ponta do iceberg”.

Diogo Alarcão disse que neste momento a rede de parceiros do projeto conta já com mais de 20 entidades. “Estamos a trabalhar com as Cáritas Diocesanas, com a Câmara Municipal de Lisboa, mas queremos trabalhar com todas as câmaras para se queiram associar, com as IPSS, e com as ONGs´”, precisou, acrescentando que a terceira fase corresponderá ao alargamento do projeto à escala nacional em 2023/2024.
O encontro com cerca de 30 empresários e gestores, transmitido em direto nas redes sociais pela Mais Algarve e pelo Folha do Domingo, contou ainda com a intervenção do presidente do Banco Alimentar do Algarve.

No final das conferências, o bispo do Algarve, que antes do encontro presidiu à Eucaristia com que se iniciou aquela atividade, referiu-se ao projeto da ACEGE que considerou “impressionante”. “Dá para entusiasmar porque vemos que têm uma aplicação prática, muito incisiva. “Está bem estruturado, bem coordenado”, afirmou.

Já durante a Missa, D. Manuel Quintas se tinha referido a “outras dificuldades do ponto de vista económico, consequência ou não da guerra”, advertindo que “não se adivinham tempos fáceis”.