O arcebispo emérito de Évora disse hoje ao clero das dioceses do sul que “urge modificar os métodos de trabalho pastoral”.

Na atualização do clero das dioceses do Algarve, Beja, Évora e Setúbal que está a decorrer em Albufeira desde segunda-feira com a participação de 77 elementos entre entre bispos, padres, diáconos e alguns dos seminaristas em final de formação, D. José Alves abordou o tema “A vida pastoral: pastor ou gestor? Servidor ou senhor?” para defender que “da pastoral do atendimento é preciso passar para a pastoral da procura e do encontro”. 

O orador acrescentou ser preciso passar “da pastoral da espera para a pastoral do envio, da tranquila guarda do rebanho para a procura das ovelhas perdidas e desgarradas”. “A grande aposta é ir ao encontro das pessoas como Cristo fez e mandou”, sustentou, considerando assim que “a primeira etapa consiste em ir ao encontro como o bom pastor”, “de mente aberta para acolher e dialogar”.

O arcebispo emérito lembrou que “ser missionário implica disponibilidade interior para trocar o certo pelo incerto, disposição para correr riscos e, se for o caso, recorrer ao «hospital de campanha»”. “Creio que, sem pessimismo, posso afirmar que na maioria das nossas comunidades não existe este zelo evangelizador”, constatou, advertindo que, “se assim continuarem, definham” porque “comunidade que não evangeliza, morre”.

A este nível, alertou que “sem comunidade não há vivência autêntica da fé”. “Só na comunidade se pode viver a comunhão, partilhar a vida, praticar a caridade e celebrar a fé. Creio que nos nossos dias a vivência autêntica da fé está profundamente afetada por falta de comunidades eclesiais”, lamentou. 

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Por outro lado, lembrou que “o evangelizador também tem de estar equipado com meios que gerem empatia, facilitem o diálogo, possibilitem esclarecimentos, ajudem a consciencializar a situação presente e abram caminhos de saída para o futuro”. “Nos nossos dias faz pena deparar com jovens clérigos presos ao passado, a um tempo que passou e não volta. Faz-me muita pena. Jovens apegados e não ao essencial, mas ao secundário, às vestes, aos paramentos e a outras coisas do género. Alguma coisa não está bem. Todos nós estamos alicerçados no passado, é verdade, mas somos convidados a viver o presente, projetados no futuro”, prosseguiu.

“Fomos escolhidos para ser pescadores de homens. Abriremos as portas da igreja e do coração e acolhemos todos, mesmo os cansados e abatidos para lhe anunciarmos a boa nova e os recuperarmos para o reino”, continuou. 

Como “desafio pastoral” exortou a “inventar processos para promover comunidades onde as pessoas possam conhecer-se, encontrar-se, dialogar, partilhar as suas alegrias e tristezas, apoiar-se mutuamente à maneira das comunidades primitivas”, dando como “bons exemplos” as “pequenas comunidades” na América Latina e os “grupos paroquiais de adultos” na Arquidiocese de Évora. “Já percebemos que a pastoral das massas e do anonimato não dá resposta aos problemas da atualidade”, afirmou.

D. José Alves exortou o clero ao “ministério da escuta”, lembrando que o relatório-síntese publicado no final da assembleia do sínodo sobre a sinodalidade “deu grande relevo” àquela ideia. “Com efeito, tendo em conta que a maioria das pessoas vive em ambientes marcados pelo individualismo, pelo anonimato, pela realidade efémera e virtual e que se debatem com dificuldades de encontrar alguém que as oiça sem as julgar e as ajude a ultrapassar os acidentes de percurso a que estão sujeitas, creio que o ministério da escuta deve estar na ordem do dia de toda a atividade pastoral. Nós somos ministros ordenados e compete-nos esse ministério da escuta. Talvez lhe dediquemos pouco tempo”, referiu. 

Sobre a dupla questão explanada no tema da sua intervenção, realçou que “dentro da Igreja, a autoridade tem de ser serviço” e admitiu que os pastores também tenham de ser gestores. No entanto, formulou uma nova interrogação. “Não será tempo de o senhor pároco deixar de ser o presidente dos centros sociais paroquiais e de dar essa função a um diácono ou a um leigo?”, questionou. 

O arcebispo emérito lembrou que os pastores não atuam em nome próprio, mas são “enviados, embaixadores do bom pastor”.