Lembro ainda que a filha e a mulher (Valéria e Prisca) do imperador Diocleciano são filo-cristãs, existem diversos registos escritos dos historiadores acerca dessa importante ligação religiosa, e até incluindo muitos servos, sacerdotes, governantes e militares cristãos no “cerne” do Palácio imperial, em Nicomédia. Personalidades descritas ou até nomeadas pelo historiador Eusébio, e também confirmadas pelo outro escritor eclesiástico, Lactâncio, que “conviveu” dentro da estrutura palatina em Nicomédia como retor e, a convite do próprio Diocleciano. Do autor Eusébio, sabemos ainda que se relacionaria com o imperador Constantino, e que ambos se encontram nessa altura presentes no oriente, tornando mais credíveis as narrativas apologéticas, e até exageradamente lancinantes, sobretudo por parte de Lactâncio.
No império Ocidental, Constâncio Cloro e pai do imperador cristão Constantino (306-337), é também considerado benevolente e um “benfeitor” para com as Eclésias existentes no poente. No “mínimo”, não as fez demolir. E com esse facto de tolerância registado na «História Eclesiástica» (L.VIII,13,13) de Eusébio, testemunha-se a preexistência de velhas Igrejas no ocidente, antes das últimas “Grandes Perseguições”, e anterior ao tempo de Diocleciano opressor (303-305). Na altura, e até aos finais do século III, Constâncio fora casado com outro “ícone” da cristandade, S. Helena e mãe de Constantino. E ela fora também amiga de Eusébio. Acerca de Constâncio, refere Eusébio na obra “Vita Constantini”, que o imperador “era um cristão que fingia ser pagão”, aludindo também desse modo, à extraordinária atitude sincrética de muitos “fiéis” de origem gentia, e até de alguns “flâmines” (sacerdotes) que, na época protocristã, têm uma postura de apostasia constante, isto é, pela prática simultânea cultual pagano-cristã. Essa herança cultural herdada das gerações pagãs precedentes, está patente em comprovados escritos da época, e acerca desse marcante sincretismo religioso do tempo da Igreja nascente, e contra o qual a própria Igreja sempre combateu. Esta conjuntura híbrida pagã e cristã está reflectida principalmente na arte protocristã.
Repetidamente apontado de ter pertencido a esta “originária” família cristã imperial, Constantino “o grande” é, por sua vez, também obreiro de inúmeras Eclésias e Basílicas. Pelo menos, fora baptizado no “leito de morte” em Nicomédia e, por esse facto significativo, deverá ser considerado cristão. Existem, no entanto, muitas suspeitas da sua conversão anterior e cerca do ano 313, mais antecipado a esse seu último acto baptismal de 337. É exactamente do seu tempo e do ano 313, o consequente “Édito de Milão” que, praticamente “oficializa” a religião cristã no império, e instaurando o “Domingo” como o dia institucional do “Senhor”.
Antes desse facto histórico marcante, anteriormente, e com o imperador Galiano, o cristianismo tornara-se “religio licita” (J. M. Blázquez) através do Édito de tolerância (“Pequena Paz”) já atrás referido nesta dissertação, devolvendo-se na altura as propriedades eclesiásticas e os cemitérios confiscados aos cristãos que, voltariam também a desempenhar magistraturas estatais. (continua na próxima edição)
arquitecto e ensaísta
O autor deste artigo não o escreveu ao abrigo do novo Acordo Ortográfico