A mais antiga “Schola” persuade-me que tenha sido a de Roma, fundada por Justino (1). Apologista “pagano-cristão” escrevendo em grego no século II, a sua “Domus” de ensino fundar-se-ia numa herança evolutiva a partir dos principais apóstolos mas, sobretudo de S. Paulo, que “ensinou” e “com toda a liberdade” durante “dois anos inteiros” na sua primeira “Casa” alugada, precisamente em Roma (Ac. 28, 30-31).

O seguidor de Justino e na mesma Escola em Roma foi Taciano. Este padre, vindo do “país dos assírios” (Síria), na sua época, rejeita e combate as diferentes escolas de filosofia grega (estóicos, pitagóricos, peripatéticos, etc.), no entanto, seria outro adepto do médio platonismo. No seu volume “Discurso aos Helenos”, está bem patente a necessidade de desvinculação do método de ensino diversificado grego, legalista, disciplinar e filosófico mas, permanecendo entrementes evolutivamente imbuído no seu estilo helenístico. Apresenta também, e através da obra literária dirigida às pessoas cultas (héllenes), um importante catálogo dos artistas “imorais” que “combateu”, e “de particular valor para a arqueologia”. (2) Acha-se nesta atitude, um espírito iconoclasta que foi legado mais tarde a Eusébio de Cesaréia, no século III. Mas, a principal razão do “Discurso” de Taciano seria a sua relação com a abertura de outra Escola e, particularmente, a da “primeira” “Schola” cristã em Alexandria (Egipto) e ainda no século II: a “Didascaleion” (Didascália). Deste confronto filosófico e teológico contra o helenismo, acerca da nova “Sabedoria” romano-cristã, relembro que nesta altura a filosofia cristã era considerada “bárbara” (estranha), precisamente pelo abandono do tradicional e ancestral “método” grego. É mais uma disputa positiva e concorrencial entre paganismo e cristianismo, que resultou na renúncia por parte de Taciano, de toda a “mitologia”, bem como de outras disciplinas, “a poesia, a retórica e as belas-artes”. Em face desta posição derrotista, rigorista e de rejeição negativa, deduzo da impregnação dessas mesmas “disciplinas” e matérias artísticas em toda a metodologia de ensino envolvendo também o Cristianismo Original.

O protocristianismo está imerso em multiplos paralelismos greco-romano-cristãos, isto é, funda-se numa vibração pagano-judeo-cristã ao longo dos três primeiros séculos da era de Cristo. A nova geração religiosa romano-cristã, também entronca na anterior família helenística e gentia.

E sabemos como essa “luta” contra o paganismo se prolongou até S. Agostinho e pelo século V, com a condenação do “Orfismo” pagão em “Civitate Dei”, obra literária fundamental do mais célebre “Padre da Igreja” e marco filosófico e cultural de todo o mundo, e da teologia ocidental.

É também atribuível a Panteno do século II, a fundação da “Didascália” e marcante “Schola” do império oriental, situada na África romana setentrional (Alexandria, Egipto) e já atrás mencionada. São bem elucidativas as palavras de Clemente de Alexandria, na transição do século II para o III, e quanto à origem e percurso filosófico final de Panteno:

«… Quando por fim no retiro do Egipto, com o último de todos (Panteno), que no seu valor e qualidade merecia ser o primeiro; não indaguei mais. Era uma verdadeira abelha siciliana que havia sugado nos prados dos Profetas e Apóstolos as melhores flores e comunicava aos seus ouvintes a genuína e incontaminada Sabedoria.» (Clemente, «Stromata» 1,1)

«Stromata» constitui outro livro alegórico de Clemente, e que é bem exemplo dessa “luta” dirigida aos helenos, e público mais vasto e heterogéneo de gentios interessados pela filosofia. Para Clemente, a “Sabedoria” encontra-se entre o conhecimento e a fé, e necessária para conduzir os gentios e os pagãos à filosofia de Cristo.

Vítor Cantinho
Arquitecto e ensaísta


(1) "Patrologia", p.76.
(2) "Patrologia", p.82. 

Bibliografia consultada:
Bento XVI, "Os Padres da Igreja, de Clemente Romano a Santo Agostinho".
B. Altaner e A. Stuiber, "Patrologia".
Eusébio de Cesaréia, "História Eclesiástica".

O autor deste artigo não o escreveu ao abrigo do novo Acordo Ortográfico